Pesquisa revela que Brasil tinha 38.926 jornalistas em 2021


15/12/2023


O documento Transformação digital e a dinâmica de sustentabilidade econômica do jornalismo de interesse social, resultado de uma pesquisa sobre sustentabilidade econômica do jornalismo na América Latina, desenvolvida pela equipe da LCA Consultoria, que foi distribuído no Fórum para Sustentabilidade do Jornalismo de Interesse Público de 2023, realizado nesta sexta-feira (15), traça uma análise do mercado jornalístico no Brasil, a partir de informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego.

Elaborado por Bernardo Gouthier Macedo, Paulo Henrique de Oliveira e Miguel Moreira, da LCA Consultores, o documento revela que, em 2021, havia 38.926 jornalistas no Brasil, dos 45,6% atuavam no Sudeste; 21,9% no Nordeste; 14,2% no Sul; 10,8% no Centro-Oeste; e 7,4% no Norte. A oferta de profissionais se concentra nos grandes centros urbanos – 59,3% dos jornalistas estão em capitais e 76,9% nas regiões metropolitanas.

Em números absolutos, São Paulo é o estado com o maior número de jornalistas – 11.006, seguido do Rio de Janeiro, com 3.623; Minas Gerais, com 2.511; Bahia, com 2.240; Rio Grande do Sul, com 2.134; e Distrito Federal, com 2.036.

No entanto, por 100 mil habitantes, o Distrito Federal lidera com 65,8 jornalistas por 100 mil habitantes, significativamente acima da média nacional, seguido por São Paulo, com 23,6 jornalistas por 100 mil habitantes; e pelo Rio de Janeiro, com 20,7 jornalistas por 100 mil habitantes.

Em termos de renda média, nota-se forte disparidade entre o salário médio recebido pelos jornalistas a depender da localidade. Um jornalista no Amazonas, por exemplo, possuía salário aproximadamente 4 vezes menor do que um jornalista atuante no Distrito Federal em 2021, quem tem o maior salário médio dos jornalistas do país – R$ 10.404,97; seguido do Rio de Janeiro – R$ 8.303,68; e São Paulo – R$ 7.144,21.

A idade média do jornalista no Brasil era de 38,3 anos em 2021, enquanto em 2011 a média era de 35,3 anos. Há uma tendência de envelhecimento dos profissionais atuantes em jornalismo no país, elemento evidenciado pelas faixas etárias mais velhas (a partir de 40 anos) passarem de 30,5% em 2011 para 39,6% em 2021. Já as faixas etárias mais jovens (até 29 anos) representavam 38,3% e 24,2% do total de profissionais jornalistas em 2011 e 2021, respectivamente.

É possível identificar que a distribuição dos homens nas faixas etárias mais velhas é elevada em comparação à distribuição das mulheres, que, por sua vez, estão relativamente mais representadas nas faixas mais jovens.

No Brasil de 2021, as mulheres eram a maioria dos jornalistas em atuação, representando 51,2% dos profissionais. Apesar da tendência de queda, a participação superior de mulheres no jornalismo em relação a de homens é observada desde 2011, recorte temporal deste estudo.

Em relação à cor ou raça, em 2021, 45,3% dos jornalistas declararam-se brancos, enquanto 20,6% eram não-brancos (pardos, pretos, amarelos ou indígenas), patamar que se manteve estável ao longo de todo o período observado.

O profissional de jornalismo no Brasil apresenta alto índice de escolaridade. Em 2021, 70,8% apresentavam ensino superior completo. Apesar da decisão de 2009 do Supremo Tribunal Federal (STF) de não obrigatoriedade do diploma de graduação em Jornalismo para atuar na área, o Brasil apresenta clara tendência de evolução da escolaridade de jornalistas. Na última década, a média de anos de estudo do profissional jornalista aumentou, passando de 61,4% de jornalistas com ensino superior completo (graduação ou pós-graduação) em 2011 para 70,8% em 2021.

No tocante à renda, a remuneração média do jornalista no Brasil era de R$ 5.847 mensais no ano de 2021, 77% superior ao auferido pela população ocupada (R$ 3.296). Em termos de remuneração por sexo, os homens jornalistas reportaram renda 16% superior às profissionais mulheres, cuja remuneração média foi de R$ 5.710, ao passo que para os homens a renda média foi de R$ 5.990 mensal.

Em que pese a tendência de crescimento da remuneração dos jornalistas durante o período analisado, a taxa de informalidade do mercado jornalístico no Brasil tem apresentado tendência de elevação, até mesmo superando a média de informalidade nacional no período mais recente. Enquanto a evolução da informalidade manteve-se constante na economia brasileira entre 2012 e 2021, no jornalismo a informalidade cresceu 13 p.p. (aproximadamente 40%), de 33,7% em 2012 para 46,6% em 2021.

Perfil do mercado e dos veículos jornalísticos

Em 2021, 45,9% dos jornalistas no Brasil possuíam vínculo empregatício com empresas classificadas como de grande porte dado seu número de funcionários, ou seja, aquelas com mais de 250 empregados. Do universo de profissionais analisados, 10,4% atuavam em microempresas (até 9 empregados); 19,4% em pequenas empresas (de 10 a 49 empregados) e 24,4% em médias empresas (de 50 a 249 empregados). A concentração dos profissionais em empresas de grande porte intensificou-se durante o recorte temporal analisado.

Nota-se, a partir de 2012, um aumento da concentração de profissionais do jornalismo em veículos de grande porte. A concentração de profissionais em empresas consideradas grandes passou de 37,7% em 2012 para 45,9% em 2021, aumento de cerca de 8 p.p. Os jornalistas que trabalhavam em grandes empresas tendem a apresentar maior remuneração em comparação aos demais, o que pode sinalizar um maior grau de atratividade destas organizações. Tal hipótese reflete-se nos microdados analisados, em que grandes firmas remuneraram jornalistas em cerca de 38% a mais do que médias empresas e 75% a mais do que pequenas empresas.

Segundo dados do Atlas da Notícia, os veículos jornalísticos no Brasil apresentam diversificação de modalidade de conteúdo ofertado. Nota-se forte presença de produtos em modais digitais, sobretudo em redes sociais, presente em 58,9% das empresas de jornalismo, refletindo o processo de “plataformização” dos meios de comunicação. Já 31,7% são de opinião e colunistas; 28,9% noticiário em tempo real; 23,6% de vídeos; 21,1% são blogs; e apenas 16,1% são edições impressas.