30/01/2024
Por Tedson Souza (*)
A diretoria de Igualdade Racial da Associação Brasileira de Imprensa se solidariza ao Movimento Negro Unificado (MNU) e os demais coletivos que lutam no combate ao racismo e vem a público repudiar a nomeação de Cleyzenir Divina dos Santos, uma mulher branca, para o cargo de Secretária Municipal de Políticas Sociais e Igualdade Racial da Prefeitura de Palmas, capital do Tocantins.
A escolha da Prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) contribui com o racismo estrutural, que exclui profissionais negros de postos de poder no mercado de trabalho, tanto na esfera pública, quanto nas organizações privadas. A ausência de representatividade de pessoas negras no primeiro e segundo escalão desta pasta, visto que o secretário executivo, Higor de Sousa Franco, é um homem branco, vai de encontro às políticas de reparação e reforça a lógica da exclusão, discriminação, exploração e/ou agressão ao povo negro.
De acordo com dados do IBGE, 76,6 % da população do estado do Tocantins se autodeclara preta ou parda. Em Palmas, a maior parte dessas pessoas reside fora da região planejada da cidade (Plano Diretor Sul e Norte), em estruturas precárias de urbanização e sofrendo com a ausência da ação do poder público. A consequência da falta de políticas públicas como saúde, educação, transporte, trabalho, segurança e, também, de promoção da igualdade racial é o aumento do número de assassinatos de homens negros, entre 20 e 30 anos, oriundos da periferia da mais nova capital do país. Esses tristes indicadores fazem parte de levantamento feito pela ouvidoria da Secretaria de Segurança Pública (SSP-TO) a pedido do portal g1. O mesmo estudo mostrou um crescimento de 200% do índice de mortes violentas em Palmas entre 2022 e 2023.
O povo negro de Palmas não pode continuar morrendo. Por isso, é urgente que a prefeita reveja a nomeação e escale para a pasta de Políticas Sociais e Igualdade Racial uma pessoa negra com letramento racial. A vivência de situações de racismo e exclusão, o histórico de militância e luta no combate ao racismo, o acúmulo de conhecimento técnico e bagagem intelectual são requisitos indispensáveis para a implementação de políticas eficazes de reparação. Prefeita, os movimentos de combate ao racismo de Palmas se posicionaram publicamente estão dispostos a dialogar e ajudar na construção da pasta e a senhora, como gestora pública, precisa ouvi-los. Essa escuta é um importante passo para evitar que mais sangue de jovens negros seja derramado.
(*) Jornalista, Doutor em Antropologia e Professor Adjunto do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Tocantins e militante do MNU