Abert: Violência contra jornalistas diminui em 2017


21/02/2018


Imagem: Reprodução)

O número de agressões e mortes de jornalistas no Brasil diminuiu cerca de 50% em 2017 na comparação com o ano anterior, aponta relatório da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) divulgado nesta quarta-feira. Apesar disso, o presidente da entidade, Paulo Tonet Camargo, disse que o quadro ainda é ruim, colocando o Brasil entre os países mais perigosos para exercício do jornalismo. Segundo ele, como houve menos protestos de rua em 2017 do que em 2016, os números acabaram melhorando no ano passado.

Em 2017, houve um assassinato de jornalista em razão da profissão, contra dois em 2016 e oito em 2015. Também houve 82 casos de violência que não resultaram em morte, envolvendo 116 profissionais. Trata-se de uma queda de 52,34% em relação ao ano anterior. O presidente da Abert destacou que, só em 2018, ano que não está contabilizado no relatório, já tomou conhecimento do assassinato de dois jornalistas.

Entre os casos citados no relatório, há alguns que tiveram grande repercussão. Entre eles o assassinato do blogueiro e radialista Luís Gustavo da Silva, executado ao chegar em casa, em Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza. Antes disso, ele já tinha recebido ameaças. A decisão do juiz federal Sergio Moro, responsável pela Lava-Jato, determinando a condução coercitiva do blogueiro Eduardo Guimarães à Polícia Federal para depor sobre suposto vazamento de informações sigilosas, é outro exemplo. O caso do deputado Wladimir Costa (SD-PA) assediando uma jornalista também é mencionado, assim como a decisão do Flamengo de impedir um jornalista do GLOBO e do Extra de fazer perguntas durante uma entrevista coletiva.

– Acentua-se um sentimento de incompreensão sobre o real papel do jornalismo, dos profissionais e dos veículos de comunicação. Sobre essa questão, vertem muitos casos de intolerância com o livre exercício da atividade jornalística. Não há dúvida nenhuma de que, no ano de 2017, tivemos um número muito menor de manifestações de rua do que em 2016. O fato de não haver essas manifestações e não haver jornalistas expostos em sua atividade gerou essa diminuição. Se nós consideramos a inexistência desses fatos, não podemos ficar tão animados assim – disse Camargo.

‘PROFISSÃO DE ALTO RISCO’

Dos 82 casos de violência não letal, foram 35 agressões físicas, que vão de socos e pontapés a disparos de arma de fogo, contra 59 jornalistas. Os principais agressores foram os ocupantes de cargos públicos e, depois, populares e parentes de alvos de reportagem. Houve ainda dez ameaças, em que os principais autores também foram os ocupantes de cargos públicos, três atentados que poderiam ter resultado em morte, seis detenções, quatro intimidações, um caso de assédio sexual e quatro de vandalismo, como a sabotagem a torres de transmissão para interromper o trabalho jornalístico.

– É uma profissão de alto risco – disse o presidente da Abert.

A entidade também relatou casos de profissionais expulsos dos local onde seria feita a cobertura jornalística, com confisco ou não de câmeras e celulares.

– Às vezes uma equipe de um veículo de comunicação chega a um estádio, a um treino a um clube para fazer a cobertura, e os dirigentes do clube dizem: aqui vocês não vão entrar porque nós não gostamos dos comentários, as críticas que vocês fazem – afirmou o presidente da Abert.

Paulo Tonet Camargo citou relatório da organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras, que colocou o Brasil na 103ª posição do ranking de liberdade de imprensa, num total de 180 países. Melhorou um pouco em relação a 2016, quando estava no 104º lugar, mas ainda fica bem abaixo de 2010, quando era o 58º.

– O Brasil melhorou uma posição. Passou da posição 104 para a 103. Mas em 2010 estávamos na posição 58. Ainda que tenha ocorrida a melhora de um ponto, se nós consideramos historicamente esses índices, o Brasil involuiu – avaliou Camargo.

Já o Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), também citado pela Abert, coloca o Brasil na oitava posição na lista de países com mais crimes sem solução envolvendo jornalistas. Em pior situação, apenas Somália, Síria, Iraque, Sudão do Sul, Filipinas, México e Paquistão.

– Em mais de nove de cada dez casos, os autores não são julgados. A impunidade gera quase que um estímulo a essas reações violentas aos jornalistas no exercício da profissão. É uma licença para matar. Isso é muito grave – disse Camargo.

As agressões e ameaças registradas no ano passado ocorreram principalmente no Sudeste, em especial em São Paulo. Camargo destaca que as agressões muitas vezes evoluem para assassinatos, diante da inação das autoridades.

– O que mais preocupa é que, naquelas comunidades onde os jornalistas foram assassinados, há sinais. Havia ameaças, que eram de conhecimento das autoridades. Houve uma primeira ameaça, uma segunda ameaça. Nada foi feito e o jornalista foi assassinado – disse o presidente da Abert.