X/Twitter volta à cena e Fortaleza vira epicentro de ataques online contra jornalistas


25/10/2024


Com informações da FENAJ

Na semana de 14 a 20 de outubro, reta final do segundo turno, o monitoramento de ataques online contra a imprensa encontrou um total de 799 ofensas ao trabalho de jornalistas e meios de comunicação. Embora o número represente uma redução em relação ao registrado nas últimas semanas, duas tendências são destaque nesse período: o retorno do X/Twitter como principal plataforma de agressões a jornalistas e a inversão de centralidade dos ataques de São Paulo para Fortaleza.

Foram registrados 273 posts ofensivos à imprensa no X/Twitter na última semana. Embora muito inferior às cifras registradas no início da campanha eleitoral, anterior à decisão do STF de bloquear a plataforma no Brasil, segue a tendência de aumento que já vinha sendo observada desde o relatório anterior, após a liberação judicial. Os ataques estão em sua maioria relacionados com a cobertura nacional da imprensa, pelo uso de termos e hashtags já destacados pelo monitoramento, como “globo lixo”, “imprensa suja” e “jornalismo militante”.

Apesar disso, se destacaram ataques relacionados a contextos locais específicos. Como o caso das jornalistas Martha Feldens, Josianne Ritz e Roberta Canetti, que conduziram uma entrevista com a candidata à prefeitura de Curitiba, Cristina Graeml (PMB) e acabaram virando alvo dos usuários das redes. Os ataques se deram pela repercussão de um trecho da entrevista em que Graeml foi perguntada sobre o seu posicionamento como “defensora dos patriotas do 8 de janeiro”. A credibilidade das profissionais foi questionada por usuários que taxaram de “ativismo barato” e afirmaram que a candidata teria “linchado” ou “moído as ‘jornaliztas’”.

Cristina Graeml (PMB) foi mencionada no boletim da semana passada pelos processos judiciais reiterados com o intuito de censurar a atividade jornalística, que seguem tendo repercussão nesta semana.

Outros três jornalistas foram destaque em ataques no X/Twitter ao comentarem temas relacionados às eleições e a disputa política em São Paulo. Reinaldo Azevedo recebeu ofensas como “velha travestida de pseudo-jornalistinha” e “vovó Mafalda”, por afirmar que o candidato à Prefeitura de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), induziram a imprensa a divulgar fake news. Octávio Guedes, da GloboNews, foi alvo de ataques devido a um comentário que compara uma resolução assinada pelo PT reconhecendo a vitória de Maduro na Venezuela, com o apagão ocorrido em São Paulo no mesmo período. E foi ofendido como “militante”, “fofoqueiro de esquerda”, “otário”, “burro” e “sem credibilidade”. Já a jornalista Flávia Oliveirafoi alvo de ofensas e descredibilização por um comentário crítico à postura da Prefeitura de São Paulo com a queda de energia na cidade.

Embora não figure na lista dos principais agressores, o relatório desta semana mostra que atores relevantes voltaram a usar o X/Twitter para atacar a imprensa e incentivar os seus seguidores a fazerem o mesmo. É o caso do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que publicou uma imagem criticando o presidente Lula e a Rede Globo, seguido pelos comentários de muitos usuários que se juntaram em ataques contra a imprensa, alimentando um contexto de desconfiança e hostilidade, em especial contra grandes veículos de comunicação.

Ataques no Instagram e Tiktok

Apesar do retorno do X, rede social com mais ataques na última semana foi o Instagram, com 410 ataques à imprensa registrados e onde se observou uma predominância dos ataques relacionados ao contexto eleitoral de Fortaleza, onde a esquerda enfrenta a extrema-direita no 2o turno. Os principais termos utilizados nessa rede foram “caiu o pix” (uma referência à suposta imparcialidade e compra de veículos e jornalistas), “matérias tendenciosas”, “mídia esquerdista” e “fake news”. Muitos eleitores declararam seu voto ao candidato André Fernandes (PL) em comentários que atacaram a credibilidade de veículos compartilhando notícias sobre a disputa eleitoral contra Evandro Leitão (PT), falando em “mídia marrom militante” e “jornalzinho comprado pelo PT”.

O monitoramento registrou uma diminuição dos ataques no Tiktok nesta semana, chegando a 116 mensagens ofensivas. Os ataques estão mais relacionados com a cobertura nacional feita por grandes veículos, com predominância de termos relacionados como “globo lixo” e ataques a uma suposta parcialidade da imprensa como “tendencioso(a)”, “militante”, “esquerdista” e mesmo “globe” (relacionando a emissora a pautas identitárias defendidas pela esquerda). Tanto os veículos como os jornalistas mais atacados nessa rede estão relacionados aos portais com maior presença no aplicativo, como Globo (86 ataques), UOL (16), CNN (7) e Metrópoles (4), e os jornalistas Raquel Landim (13 ofensas), José Roberto Burnier (12) e Julia Duailibi (7).

Principais vítimas no conjunto das redes

O Grupo Globo é a principal vítima de ataques na última semana no X/Twitter e de maneira geral somando os ataques ao G1 (86), Rede Globo (53) e Globo News (49). Principalmente em razão dos ataques no Instagram, se destacam veículos nacionais como o UOL (68) e o SBT (35). Diversos veículos da região Nordeste também receberam um número preocupante de ataques, como Diário do Nordeste (46), Jornal Jangadeiro (28), Tribuna do Norte (27), O Povo (22) e Conexão Política(20).

As principais vítimas entre profissionais do jornalismo são as jornalistas Martha Feldens, Josianne Ritz e Roberta Canetti, no caso destacado no início do relatório. Seguida por Raquel Landim, que se destacou pelos ataques no Instagram e no Tiktok em razão da sua cobertura das eleições em São Paulo. Além de Reinaldo Azevedo e Octávio Guedes, que foram principalmente atacados no X/Twitter, como também já relatado.

Embora seja a rede social com menos ataques nesta última semana, o Tiktok se destaca como a plataforma em que o índice de toxicidade das mensagens foi mais alto. Com uma média de 0,36, em uma escala que vai de 0 (zero) a 1 (um), o Tiktok foi seguido por 0,31 de média no X e 0,21 no Instagram.