12/10/2022
Por Bolívar Torres, em O Globo
Mais de 70 anos de carreira, oito milhões de exemplares vendidos, sete mil desenhos no acervo e alguns dos maiores clássicos da literatura brasileira. O cartunista, jornalista, escritor e editor Ziraldo Alves Pinto chega aos seus 90 anos, no próximo dia 24, como um monumento vivo da literatura infantojuvenil. Mas, embora o pai do Menino Maluquinho e da Turma do Pererê faça parte da formação de diversas gerações, suas criações ainda podem ser muito mais exploradas dentro e fora do mundo dos livros. Pensando nisso, o Instituto Ziraldo, criado em 2019 para preservação de seu legado artístico, e o escritório do autor, que toca as suas parcerias comerciais, atuam em conjunto para “reorganizar a ideia do que é Ziraldo”, como explica Claudio Rocha Miranda, enteado do cartunista e uma das mentes por trás da nova estratégia de licenciamentos de seus personagens.
O objetivo é intensificar parcerias e produtos em torno de seu universo, à maneira de outro grande criador brasileiro, Mauricio de Sousa. A novidade fresquinha é a série “O Menino Maluquinho”, primeira animação brasileira da Netflix. O projeto, que estreia hoje, começou a ser discutido em 2017 e entrou efetivamente em produção em novembro de 2020. Coincidentemente, ficou pronto no mês de aniversário do criador da obra, que esteve reunido com a turma na sala de roteiro.
Na história, Maluquinho tem pais divorciados, mas continua com “o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés”. Segue imaginativo que só, mas seu entorno sofreu mudanças. A amiga Julieta, por exemplo, agora é uma menina negra, com vastos cabelos crespos. Shirley Valéria, antes a loura mais bonita da turma, também saiu desse padrão. No entanto, manter o traço e o DNA lúdico do criador hoje nonagenário era inegociável.
— Ziraldo criou um traço que tem uma identidade brasileira, reconhecida internacionalmente — diz a showrunner Carina Schulze, apostando que a série vai conquistar não somente crianças, como adultos. — Os pais têm a memória afetiva, e as crianças de hoje em dia vão achar legal pelo ritmo alucinante.
Entre todas as criações de Ziraldo, é natural que o Menino Maluquinho fosse o escolhido para uma série. Todos os livros derivados do universo do personagem já venderam quase seis milhões de exemplares, e inspirou um filme de sucesso em 1995.
— O Menino Maluquinho é um dos headliners do universo de Ziraldo, junto com Flicts e a Turma do Pererê — diz Rocha Miranda. — Mas o principal de tudo é a mensagem passada por Ziraldo em sua longa carreira, que chancela tudo isso. Ele é o próprio protagonista, com seus valores sociais, ambientais e de cidadania.
Neste Dia das Crianças, o Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília inaugura a exposição “Mundo Zira — Ziraldo interativo”. Com estrutura composta de grandes painéis projetados com personagens e grafismos do artista, trata-se de uma experiência imersiva no mundo do autor. A curadoria e a direção de arte são de Adriana Lins e Daniela Thomas, diretoras do Instituto Ziraldo e sobrinha e filha do multiartista, respectivamente.
Adultos, jovens e crianças, fãs das histórias que compõem a literatura infantojuvenil do cartunista, vão poder interagir com o universo de seus personagens. Os pais, por exemplo, além de brincar ao lado dos filhos, estimular sua criatividade e vivenciar o prazer da literatura, reencontrarão personagens queridos como o Menino Maluquinho e relembrarão suas aventuras.
O aniversário também será rico em projetos editoriais. O selo Globinho, da Editora Globo, lança dois clássicos da literatura universal (“Dom Quixote” e “Os três mosqueteiros”) em quadrinhos feitos por Ziraldo. Ambos já estão em pré-venda e chegam às livrarias dia 24. Cada título traz uma viagem da Turma do Maluquinho por obras-primas. Na nova versão do romance de Cervantes, por exemplo, o personagem Bocão se transforma em Dom Quixote e vive o cavaleiro andante em busca de aventuras criadas por sua imaginação.
A neta e o avô
A editora também está relançando três clássicos em edições comemorativas: “O bichinho da maçã”, “Planeta Lilás” e “Menina Nina”. Originalmente de 2005, este último é um dos livros mais emocionantes do autor. Foi feito para a neta Nina, após a morte da sua avó — mulher de Ziraldo. A nova edição conta com um prefácio da própria Nina Amarante, que hoje, adulta, atesta a perenidade da obra.
(Colaborou Talita Duvanel)