Por Claudia Sanches
17/05/2016
O Zero Hora, do Rio Grande do Sul, parte do Grupo RBS, substituiu, no início deste ano, o jornal impresso de domingo por uma superedição de final de semana. A medida é resultado do trabalho de seis meses de pesquisa com leitores e assinantes do jornal.
Entregue aos sábados de manhã, a edição impressa reunirá o melhor do que já era publicado aos sábados e domingos, e ampliará o produto, trazendo novos cadernos com foco em grandes reportagens, conteúdo para a família e lazer. Para não ficar “envelhecida”, o Zero Hora terá o jornal Domingo Digital, apenas para o tablete e smartphones, que trará ao leitor notícias atualizadas.
De acordo com a vice-presidente de Jornais e Mídias Digitais do Grupo RBS Andiara Petterle, no ano de 2015, a empresa experimentou a proposta em outro veículo do grupo, o Diário Catarinense. A RBS garante que a iniciativa teve alto índice de aprovação do público e do mercado, apostando em uma tendência de edições de fim de semana com mais reportagens aprofundadas, matérias com duração semanal em revistas e mais informação.
“O papel do jornal no fim de semana está mudando no mundo inteiro, ficando cada vez mais “arrevistado”. O consumidor dedica muito mais tempo à leitura do jornal e deseja algo mais profundo e exclusivo. Esse movimento está em linha com nossa estratégia de buscar o melhor produto em jornalismo, com mais eficiência”.
Segundo o jornalista Alberto Dines, que comanda o programa “Observatório da Imprensa” na TV Cultura, o fim da edição dominical da Zero Hora e de outros veículos como a Gazeta do Povo do Paraná, que adotou a mesma estratégia meses antes, faz parte de uma racionalização que deveria ter sido adotada há algumas décadas no país.
Ele se recorda da primeira edição do livro “Papel do Jornal”, de 1974, onde já mencionava o desperdício de recursos no fim de semana já que as edições de domingo começavam a circular na véspera quando muitos leitores ainda não haviam completado a leitura do jornal de sábado e cita o exemplo de um jornal inglês.
“Por que razão o Times de Londres sai no domingo com o nome de Sunday Times e visual diferente? É a mesma racionalização – o jornal não roda aos domingos (quando o custo da mão de obra é sensivelmente maior) e a edição dominical é transformada num semanário de grande formato escrito e preparado ao longo da semana”, conclui Dines.
O impacto das novas tecnologias no mercado
A mudança aconteceu após o ano de 2015 em que todos os principais jornais brasileiros experimentaram uma queda na circulação de suas edições impressas.
A RBS alega que a proposta faz parte de uma série de novidades para 2016 que tem como foco o reforço do investimento em jornalismo. “A estratégia passa por um investimento maior nas plataformas digitais. A decisão não é injustificada e reflete os últimos dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC). Enquanto a mídia impressa do Zero Hora amargou um decréscimo de 11,1% em vendas em 2015, a digital subiu mais de 32%”, reforça Andiara.
A “boa e velha reportagem” − gênero nobre do jornalismo
Já o jornalista e escritor Audálio Dantas acredita que a saída que a indústria da comunicação tem pensado para o impacto da tecnologia é migrar para o virtual. “Os donos dos meios de comunicação não cuidaram devidamente do problema. Passaram a fazer modificações pontuais em seus veículos, algumas estúpidas, como a adoção de uma espécie de jornalismo em pílulas, compactado em textos curtos, encaixotados nos moldes da internet. Como se as plataformas fossem as mesmas”.
Dantas defende a ampliação dos espaços no papel e “a boa e velha reportagem”, gênero nobre do jornalismo: “Os empresários do setor deveriam investir nas matérias bem apuradas, aprofundadas em análises que a ligeireza da internet despreza, ação que inclui bons profissionais nas redações”.
O que é a nova edição de fim de semana?
A superedição de fim de semana substituirá as atuais edições de sábado – que o assinante recebe no sábado pela manhã – e de domingo – entregue na tarde de sábado.