Zé Kéti: 100 ANOS HOJE


16/09/2021


Por Ricardo Cravo Albim. Publicado em https://dicionariompb.com.br/ze-keti/biografia

Seguem abaixo fragmentos do texto de Pecê Ribeiro que encomendei para completar o verbete de Zé Kéti em nosso Dicionário. Cabe-me registrar ainda a participação de Zé Kéti na obra do grande cineasta Nélson Pereira dos Santos, que nutria por ele grande admiração, tanto como compositor quanto como personagem. O que o cineasta me assegurou inúmeras vezes em conversas sucessivas.

Zé Kéti era frequentador da Praia de Itaipu, onde ficou amigo de meu irmão e de minha família, participando de festas beneficentes e sempre aderindo às boas causas.
Cantou o samba, as favelas, a malandragem e seus amores. Nasceu no bairro de Inhaúma, em 16 de setembro de 1921, embora tivesse sido registrado, em 6 de outubro. Foi responsável pela revitalização do samba, na época em que surgiu a bossa nova. Zé Quietinho ou Zé Quieto eram os seus apelidos de infância. Quieto virou Kéti porque a inicial K do nome artístico era a letra que na época era vista como de sorte, nomeava estadistas como Kennedy, Krushev e Kubitscheck.

“Atento ao seu povo e ao seu tempo, o poeta Zé Kéti mostrou-se um verdadeiro cronista. Vistos principalmente de cima do morro, problemas do Rio e do Brasil foram registrados em seu canto. Não nasceu no morro, mas teve oportunidade de ali viver por um tempo, ou mesmo sempre frequentar.

Assim, passa a compreender aquele universo marginalizado. Em “Acender as velas”, por exemplo, denuncia a miséria que matava as crianças, em vista da desassistência e dificuldades. “É mais um coração/ Que deixa de bater/ Um anjo vai pro céu (…) O doutor chegou tarde demais/ Porque no morro/Não tem automóvel pra subir/ Não tem telefone pra chamar/ E não tem beleza pra se ver/ A gente morre sem querer morrer”.
É claro que hoje o morro não é bem assim. Os problemas são outros.
No samba “Os Tempos Mudaram”, samba feito há mais de 15 anos, Zé Kéti denuncia a criminalidade, que, aliás, persiste: “Já não se pode andar nas ruas da cidade/ Meu povo está com medo/ Do Rio de Janeiro antigo só saudade/ (…) Meu samba está de luto/ Envergonhado com a criminalidade.”
Mas não fica só no Rio: “Qualquer cidade grande/ Sofre do mesmo mal/ Na Avenida São João/ No cruzamento da Ipiranga/ Os trombadinhas vão correndo/ Do policial/ Até chegar a marginal” E termina: “De norte a sul do meu país/ Não há mais coração
feliz/ O rico assalta por vaidade/ Na impunidade/ E o pobre por necessidade.”
Precisa dizer mais alguma coisa? São muitas a crônicas deixadas por esse sambista, sensível e muito ligado ao mundo que o
cercava.
Esses dois sambas aqui mostrados são parcos exemplos, mas que dão bem a grandiosidade desse poeta-cidadão.”