Wanderley Peres – Imprensa e memória


28/08/2008


Toni Marins
29/08/2008

Nascido em Tombos-MG, em 1º de outubro de 1958, Wanderley Peres Jacinto começou a trabalhar como gráfico aos 13 anos de idade. Pouco depois, já vivendo em Três Rios, no Estado do Rio, entrou no jornal O Painel, onde passou pela composição, a diagramação, a revisão, a impressão e até a distribuição.

Chegou a Teresópolis em 1977 com boa bagagem de profissional e trabalhou mais de dez anos na EM>Gazeta de Teresópolis. Na cidade serrana fluminense, também se casou e teve filhos, com quem mantém uma gráfica onde, mais tarde, decidiu criar um jornal, O Noticiário — que logo se transformou em O Diário:
— Em 1988, sonhei que meu jornal seria o mais importante da cidade, e ele aconteceu. Nesses 20 anos, percebi como Teresópolis funciona, como reage às interferências da informação e como podemos interagir para o seu desenvolvimento. O futuro me preocupa e ocupa boa parte do meu tempo. Hoje, divido as obrigações do jornal com os filhos e aproveito para sonhar uma cidade moderna, com melhor qualidade de vida, com pessoas mais felizes. Acredito que isso é possível e estou investindo em projetos culturais.

 Charge do O Diário

Wanderley não esconde o orgulho ao contar que seu jornal patrocina o Projeto Pró-Memória, detentor do maior acervo da história da cidade. E fala dos próximos planos:
— Até o fim do ano, vamos abrir o Museu da Imprensa de Teresópolis, disponibilizando nosso banco de dados ao público e, principalmente, aos pesquisadores. Será um espaço onde, além das mais de 4 mil edições do Diário, o público possa conhecer a história da cidade desde os anos 30, contada pelo Teresópolis Jornal e a Gazeta de Teresópolis, mais antigos, por fotos, ilustrações, documentos. Também estarão em exposição linotipo, impressora, caixas de tipos, bolandeira, prelo…

Aniversários 

Com o pessoal da redação do Diário (o filho Raphael é o segundo da esquerda para direita)

Na verdade, o jornalista abrirá até mesmo seu local de trabalho aos interessados:
— Pelo menos um dia na semana, receberei em minha sala quem quiser conversar sobre Teresópolis e conhecer sua história. Temos vários projetos em andamento e muitos sonhos realizáveis por concretizar. Mas 2008 é especialmente empolgante e merece ainda mais nossa atenção, pois é o ano do bicentenário da Imprensa no Brasil, do centenário da Associação Brasileira de Imprensa e do 20º aniversário do Diário.

Também este ano, Wanderley foi eleito para a Academia Teresopolitana de Letras, na cadeira do poeta Olegário Mariano. Cidadão Honorário do Estado do Rio de Janeiro e do Município de Teresópolis, dedica-se não só a preservar a memória da cidade onde vive com a família — a mulher, Línea, e os filhos Wanderley Jr., Raphael, Emille e Isabel Cristina —, mas também o meio ambiente, sendo, inclusive, Presidente do Partido Verde na região da Serra dos Órgãos:

 Com a esposa Línea e os filhos Emille, Jr e Isabel

— Já escalei seus mais de 30 cumes e quero editar um livro sobre essa maravilha da natureza. Preservá-la, assim como a história local, é minha meta — diz o jornalista, que em 2007 publicou “Miguel, Senhor da Torre” — sobre a história do alpinista pioneiro na conquista da pedra Verruga do Frade, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos —. e, agora, em comemoração aos cem anos da chegada do trem à cidade, lança “A história da Estrada de Ferro Therezópolis”.

Paralelamente, ele conseguiu o levantamento dos sítios históricos da ferrovia — como o túnel da Beira Linha, a passarela da Rua São Francisco e os escombros da Ponte Sloper — , cujo tombamento está em andamento no Inepac, por meio de projeto de lei que tramita na Alerj:
— Este é outro projeto de museu, com uma réplica da estação, o túnel guardando as peças do trem ou servindo de passagem para uma segunda estação… — sonha Wanderley.

AI-5 reeditado

 Na invasão, Wanderley tenta argumentar com fiscais da PM

Em meio a tantas boas lembranças, o jornalista recorda um dia ruim na história de sua carreira e seu jornal: o 8 de janeiro de 1999, quando fiscais e policiais invadiram a redação, empastelaram O Diário de Teresópolis e lacraram a porta, em nome da Secretaria Municipal de Fazenda, numa reedição dos tristes tempos do AI-5:
— Tínhamos publicado denúncias de perseguição a pessoas que eram contra os candidatos do Prefeito da época, o advogado Mário de Oliveira Tricano, e uma série de matérias sobre a fila do “beija-mão” na Prefeitura. Recebemos uma seqüência de autos de infração, inviabilizando o funcionamento do jornal, até culminar em seu fechamento e empastelamento.

O fato ganhou repercussão nacional e chegou ao conhecimento da ABI, onde foi debatido em reunião pelo então Presidente Barbosa Lima Sobrinho e os Conselheiros da Casa. Wanderley Peres guarda até hoje o ofício que recebeu da entidade na ocasião:

Em nome do Presidente da Associação Brasileira de Imprensa, comunicamos ao prezado confrade que, em sua reunião de hoje, 12 de janeiro de 1997, a Diretoria da ABI deliberou dirigir-se ao Sr. Prefeito de Teresópolis, protestando contra ato impeditivo da circulação de O Diário de Teresópolis. Na defesa da Liberdade de Imprensa, a Casa do Jornalista se manterá atenta a esta questão, na expectativa de que o poder público volte a cumprir a Constituição Brasileira no que se refere ao direito de informar.”