29/07/2015
“A fotografia me encanta, é a minha sedução de vida e a forma de comunicar que me faz feliz.” A frase é de Walter Firmo, um dos pilares do fotojornalismo brasileiro, que costuma se auto definir como um engenheiro da imagem:
— Digo isso por causa da maneira de eu criar na fotografia reinventando uma realidade, trabalhando instintivamente com ensaios, que, no meu início de carreira, faziam com que os meus colegas dissessem que eu não era um repórter fotográfico e sim um cronista. Sempre fui muito criativo, impetuoso, queria fazer o novo, e isso mudou alguns conceitos do fotojornalismo na época.
Carioca de Irajá, Walter Firmo, 69 anos, pegou pela primeira vez numa máquina fotográfica aos oito, a pedido do pai, que queria que ele o fotografas se com a mãe, durante um passeio em Recife, e avisou: “Não se esqueça de registrar as jangadas ao fundo e não corte as cabeças e os pés.” Foi também o pai que lhe disse, numa madrugada, que a fotografia valia mais que mil palavras:
— Acordei com meu pai me dizendo frase que nunca mais me saiu da cabeça.Quando eu completei 16 anos, vi
José Medeiros na revista O Cruzeiro e queria ser ele na aventura jornalística, no ir e vir em que tudo é novidade, fantasia e dinamismo. Foi especialmente o trabalho dele e do Jean Manzon que fez minha cabeça para mergulhar no cenário da fotografia em que me encontro até hoje.
Após a estréia como aprendiz em 1956, na Última Hora — “em seu período mais importante” — usando uma Rolleyflex dada pelo pai, Firmo foi para o Jornal do Brasil, que em 1960 passava pela reformulação gráfica implementada por Odilo Costa, filho e Alberto Dines:
— A ida para o JB foi fundamental para a minha vida profissional, pelas mudanças por que ele estava passando porque lá eu pude executar minhas idéias e testar novos equipamentos, como as câmeras Leica e Nikon. Outro grande privilégio da minha carreira foi ser o primeiro repórter-fotográfico convidado para trabalhar na revista Realidade, em São Paulo.
Ele gosta de destacar também sua passagem pela Manchete e a Fatos & Fotos, da Bloch, onde se transformou no que chama de “fotógrafo-mascate”, viajando por todo o Brasil.
Estética
Hoje trabalhando como autônomo, Firmo ainda se entusiasma com o fotojornalismo, que “permite trabalhar com o saboroso conceito da estética, do qual Cartier-Bresson era um verdadeiro mestre ”.
— Todo trabalho fotográfico é uma comunicação jornalística, pois a fotografia é um saber científico que transmite conhecimento; tudo o que você vê numa foto e desconhecia tem um sabor jornalístico, pois está informando alguma coisa.
Autodenominando-se um sonhador, ele segue usando equipamentos Nikon e Leica com lente normal (50mm) e uma
Hasselblad, além de só trabalhar com luz ambiente, sem flash:
— A fotografia tem que ter a marca digital do seu olhar. O fotógrafo deve ter a preocupação de fazer a sua forma de pensar visualmente virar uma marca, deve criar sua própria linguagem.
Com uma vida inteira dedicada à fotografia, Walter Firmo dirigiu o Instituto Nacional de Fotografia da Funarte e desde 1992, quando abandonou a reportagem fotográfica, realiza cursos no Brasil e no exterior. Suas fotos também têm sido expostas nos principais centros culturais do mundo, rendendo-lhe homenagens e premiações — do Esso pela reportagem Cem dias na Amazônia de ninguém, em 1963, aos nove Nikon internacionais.
Seu nome aparece no verbete “Fotografia” da Enciclopédia Britânica e seu trabalho — que ele mesmo traduz como poesia — pode ser apreciado nos livros Walter Firmo, antologia fotográfica, Paris parada sobre imagens e Rio de
Janeiro, cores e sentimentos, além de publicações conjuntas e mostras individuais e coletivas.