Violenta ação policial deixa Guarani Kaiowá morto na TI Nhanderu Marangatu, em Antônio João (MS)


18/09/2024


Por Assessoria de Comunicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

O jovem Neri Guarani Kaiowá foi morto a tiros, na quarta-feira (18), na Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu durante ataque à retomada dos indígenas na Fazenda Barra. Conforme apuração junto ao povo, uma mulher também teria sido atingida na perna por disparos de arma de fogo e os barracos da retomada foram destruídos. A Força Nacional não estava na área.

A violência contra os Guarani e Kaiowá começou na madrugada e seguiu pela manhã. A Polícia Militar arrastou o corpo de Neri para um pedaço de mata. A ação dos policiais gerou revolta entre os indígenas, que passaram a avançar para o local em que o corpo foi levado. Novos confrontos se estabeleceram, mas os policiais seguiram com a decisão de afastar o corpo dos Guarani e Kaiowá. Na noite desta terça (17), vídeos feitos em Antônio João anunciavam a iminência da agressão.

Os ataques contra a retomada Guarani e Kaiowá ocorreram no mesmo local em que os indígenas receberam na sexta-feira (13) a Missão de Direitos Humanos organizada pelo Coletivo de Solidariedade e Compromisso aos Povos Guarani, que na semana passada percorreu o oeste do Paraná e no Mato Grosso do Sul visitou a TI Nhanderu Marangatu, atacada um dia antes, além das retomadas da TI Panambi – Lagoa Rica, em Douradina.

Conforme os indígenas, atiradores “mercenários” estavam junto à PM durante o ataque realizado contra a comunidade. “Foi a PM. Já estão nos atacando desde antes da vinda da Missão de Direitos Humanos”, denuncia uma indígena ouvida. Na quinta-feira (12), três indígenas já haviam sido baleados pela PM na TI Nhanderu Marangatu: Juliana Gomes segue hospitalizada em Ponta Porã depois de levar um tiro de arma letal no joelho; a irmã e um jovem levaram tiros de bala de borracha.

PM mata e altera local da perícia

A tática é a mesma: um indígena é morto a tiros, e policiais militares alteram a cena do crime para dificultar, inviabilizar ou comprometer a perícia. Conforme apuração, a equipe jurídica que assessora a Aty Guasu, a Grande Assembleia Guarani e Kaiowá, solicitou à Polícia Federal ir ao local retirar o corpo do Neri.

Na última terça-feira (10), noticiou o jornal Campo Grande News, o corpo de Vitor Fernandes Guarani e Kaiowá, de 42 anos, precisou ser exumado para nova perícia. O indígena morreu em 2022 sob ataque de policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar. O caso aconteceu em Amambai, distante 351 quilômetros de Campo Grande, e ficou conhecido como Massacre de Guapoy.

Em Nota Oficial, a Funai informa que já acionou a Procuradoria Federal Especializada (PFE) para adotar todas as medidas legais cabíveis e está comprometida em garantir que essa violência cesse imediatamente e que os responsáveis por esses crimes sejam rigorosamente punidos. O conflito também tem sido monitorado por meio da Coordenação Regional em Ponta Porã (CR-PP).