O jornalista Francisco Gomes Medeiros, conhecido como F. Gomes, foi brutalmente assassinado na noite desta segunda-feira, 18 de outubro, no município de Caicó, no Rio Grande do Norte. De acordo com o boletim de ocorrência da polícia, ele estava saindo de casa, no bairro da Paraíba, quando foi abordado por dois homens em uma moto e um deles teria feito os disparos que o atingiram mortalmente.
Francisco trabalhava na Rádio Caicó, era repórter policial do jornal Tribuna do Norte e ainda mantinha o blog F. Gomes, por meio do qual fazia denúncias sobre o tráfico de drogas e outros delitos locais. No mês passado, ele postou uma notícia de suspeita de troca de votos por crack, ocorrida em Seridó, o que pode ter motivado a sua morte.
O crime contra F. Gomes aconteceu por volta das 21h e teve repercussão nacional, em diversos veículos de imprensa. O blog “Repórter de Crime”, do jornalista Jorge Antônio Barros (hospedado no Globo.com) noticiou o assassinato de F. Gomes: “Assassinar um jornalista que serve ao público é como tentar abafar a voz de toda sociedade. Não tolere isso em hipótese alguma. Mataram um jornalista do Rio Grande do Norte, mas a voz dele há de se multiplicar por mil. Os jornalistas potiguares não vão se calar! E precisam do apoio dos jornalistas e de toda a sociedade”, afirma Jorge Antônio Barros.
Em nota assinada pelo seu Presidente Emanuel Soares Carneiro, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) repudiou o assassinato do jornalista e pediu que as autoridades “procedam a apuração necessária ao esclarecimento e identificação dos responsáveis pelo crime”. Um dos trechos do comunicado da Abert ressalta que F. Gomes “é mais uma vítima da violência cometida contra jornalistas e veículos de comunicação que buscam cumprir sua missão de informar a sociedade”.
O delegado George Davi, da Delegacia local, informou que apuração para identificação dos assassinos de F. Gomes estão sob a responsabilidade da Divisão de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor). Integrantes da cúpula da Secretaria de Segurança Pública se deslocaram para o Caicó — distante 292 Km de Natal — para acompanhar o andamento do caso.
Na madrugada de segunda-feira, pouco tempo depois da morte de F. Gomes, um dos suspeitos do crime foi preso pelo serviço de Inteligência da Polícia Militar. Após de prestar depoimento, ele chegou a ser solto pelo delegado George Davi. Mas por ordem da Secretaria de Segurança, na manhã desta terça-feira, 19 de outubro, voltou a ser detido para novos esclarecimentos, desta vez em um interrogatório coordenado pelo delegado Ronald Gomes.
Outro crime
Com a morte de F. Gomes em menos de uma semana tivemos o registro do assassinato de dois jornalistas no Brasil. Na noite do último sábado, 16 de outubro, a vítima foi o proprietário do jornal Popular News, Wanderlei dos Reis. Ele morreu na manhã do domingo, 17 de outubro, em razão do tiro que levou de um homem ainda não identificado, dentro da sua própria casa na cidade de Ibitinga, no interior de São Paulo.
Moisés Fernandes da Silva, que morava na mesma casa da vítima, contou à Polícia Militar que ouviu um homem chamando por Reis no portão da residência. Quando saiu, o jornalista foi abordado por três homens que fizeram ele e o amigo como reféns e os arrastaram para um dos quartos do imóvel.
A princípio, conforme informação da polícia, eles pensaram tratar-se de um roubo. Os dois foram agredidos fisicamente e em seguida Wanderlei foi levado à força até a cozinha, onde um dos criminosos lhe deu um tiro na perna que perfurou a artéria femoral. O jornalista chegou a ser levado a um hospital, foi operado e não resistiu à gravidade do ferimento.
O delegado de Ibitinga, Carlos Ocon de Oliveira, que investiga o caso, disse que a polícia ainda tem dúvidas sobre o motivo do crime. O policial declarou que não acredita que tenha sido latrocínio: “Ainda estamos investigando e é prematuro saber o motivo do crime. Não sabemos se é por coisas pessoais ou pelo fato de ele ser dono de jornal”, afirmou o delegado.
Estatística
Recentemente um levantamento da ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC, em inglês), registrou a morte de 59 jornalistas no exercício da profissão em todo o mundo, somente no primeiro semestre de 2010. Os números atuais superam o registro anterior que foi de 53 mortes.
Em uma amostra por continentes, a região com maior incidência de crimes contra jornalistas é a América Latina. Segundo a PEC, foram registradas 24 mortes no semestre passado. O país que lidera o ranking negativo é o México, que teve nove profissionais de imprensa mortos, por causa da guerra do narcotráfico.
O segundo lugar dessa estatística funesta ficou com a Ásia, onde Paquistão e Filipinas lideram a pesquisa com 14 assassinatos no total. Na África foram registradas nove mortes, colocando o continente africano em terceiro lugar e com uma tendência de alta na violência praticada contra os jornalistas.
O Brasil é citado na pesquisa da PEC com um caso: o do cronista esportivo Clóvis Silva Aguiar, assassinado no Maranhão, em 24 de junho de 2010. Mas com as mortes de F. Gomes e Wanderley dos Reis esse número se eleva para três. Nesse caso o país passa a se equiparar a Colômbia e Rússia, onde também ocorreram três mortes. Venezuela, Iraque Nepal e Tailândia registraram dois casos cada um.
* Com informações da Tribuna do Norte e Diário de Natal.