Universidade da Amizade dos Povos faz 50 anos


10/11/2009


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A Universidade da Amizade dos Povos, ex-Patrice Lumumba, enviou para vários países e continentes uma Circular, conclamando a todos ex-estudantes graduados naquele centro de excelência de Ensino Superior para as comemorações do seu cinqüentenário, que terão lugar em Moscou, entre 02 e 06 de fevereiro de 2010.

E nós, brasileiros, também recebemos o convite, através da nossa entidade ainda em gestação União dos Diplomados e Ex-Estudantes Brasileiros na URSS e na Rússia, cuja sigla é Undexebras.

A Undexebras congrega a maioria dos ex-formandos na então Patrice Lumumba, residentes não apenas no Brasil, mas em outros países também, por opção ou trabalho. A partir de 2000, por meio da Undexebras, já foram realizados cinco encontros de confraternização em diferentes estados da federação tais como Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul. O evento acontece a cada dois anos, geralmente na Páscoa. O nosso próximo encontro está programado para acontecer em 2010, em Natal, capital do Rio Grande do Norte.

Mas como começou toda essa estória? Há exatamente 50 anos, em fevereiro de 1960, o Governo soviético associado aos comitês locais e outras entidades sociais, inaugurou em Moscou a Universidade da Amizade dos Povos. Esse centro educacional de nível superior foi criado para promover a aproximação entre os povos do então denominado Terceiro Mundo, objetivando dar aos jovens oriundos dos países da Ásia, África, Oriente Médio e América Latina, a possibilidade de formação de quadros, através de meios científicos e tecnológicos do mais alto nível. Um ano após sua fundação, em 1961, a Universidade foi rebatizada com o nome de Patrice Lumumba, em homenagem ao grande líder do movimento de libertação nacional do antigo Congo Belga, que fora assassinado naquele mesmo ano.

Ilma (vestido xadrez), em Moscow, 1967

Como é sabido, nas décadas de 50 e 60 em pleno século XX, o continente africano foi sacudido por sangrentas e dolorosas batalhas, envolvendo diferentes movimentos nacionalistas e revolucionários que buscavam conquistar sua independência política e econômica, sair do secular jugo colonial e imperialista. E foi sobre os escombros dos velhos impérios coloniais na África que surgiu a Universidade da Amizade dos Povos. Em nossos dias, pós-perestroika, ela recebeu a denominação de Universidade Russa da Amizade dos Povos (Urap). E esse centro de cultura e saber continua a receber de braços abertos jovens de todo o planeta.

Sou natural do estado do Espírito Santo e, como um dos ex-estudantes brasileiros diplomados pela Universidade Patrice Lumumba, recordo-me com saudades daquele longínquo 12 de agosto de 1961, quando acompanhada de um grupo de mais 14 jovens vindos do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Amazonas, Rio de Janeiro, Bahia e de vários outros rincões do País, embarcamos no Galeão num 707 da Air France rumo a Moscou via Paris.

Para muitos de nós, inclusive para mim, era quase uma aventura rumo ao desconhecido, pois a Europa — e principalmente a Rússia — era vista como um maravilhoso conto das Mil e Uma Noites tal o mistério e a enorme distância em relação ao Brasil. Todos nós havíamos recebido Bolsas de Estudos integrais do Governo soviético, que abrangiam o curso, o transporte aéreo e os alojamentos. Foi uma experiência única para mim e para todos nós agraciados. As faculdades especializadas graduaram lá engenheiro, médicos, geólogos, físicos e matemáticos, filólogos, arquitetos, juristas, economistas e muitos outros profissionais que sorveram bem todos os conhecimentos a eles repassados por mestres, doutores e acadêmicos russos de alto gabarito, que nos ensinavam com dedicação total. Somos profundamente gratos a todos eles.

Eu e cerca de mais oito brasileiras que ingressamos na Universidade nos anos 60, optamos pela faculdade de História e Filologia. Porém, somente eu concluí, também, o curso de Jornalismo. Isto porque, antes de resolver ir estudar na então União das Repúblicas Soviéticas, já trabalhava na redação do hoje extinto Folha Capixaba, em Vitória. À época, cerca de 120 brasileiros viviam na URSS, beneficiando-se das bolsas de estudos.

Passados esses 50 anos, nós, brasileiros graduados na Rússia, guardamos em nosso coração gratidão pelo o que a nação soviética nos proporcionou no campo do saber científico. Reavivamos sempre as boas e inesquecíveis lembranças dos momentos da vida estudantil. Os longos e rigorosos invernos empurrados das estepes russas, o intercâmbio das culturas, os teatros e os museus, as viagens programadas no verão pelo país, tudo isso ficou e ficará para sempre impregnado em nossas vidas.

Encontro de ex-alunos

Daí o surgimento da atual Undexebras revigorada, pois antes da sua criação, entre os anos de 70 e 80, fizemos a primeira tentativa de nos reunirmos sob a égide da Associação dos Diplomados na URSS que chegou a ter o seu Estatuto. Hoje estamos juntos novamente. E a nossa confraternização a cada dois anos nada mais é que um forte desejo de não esquecer nada daquilo que vivemos juntos quando jovens estudantes. Nos dá muito prazer os reencontros, os abraços fraternais, as conversas para atualizar o dia a dia de cada um dos velhos colegas, hoje de cabelos já encanecidos, ou sem eles, acompanhados, a maioria, de suas esposas, filhos e netos, alguns até nascidos na própria Universidade da Amizade dos Povos.

Ilma Martins da Silva, membro do Conselho Deliberativo da ABI