Em artigo no jornal “Folha do Vale”, de Itaporanga, Paraíba, no qual mantém uma coluna em toda edição, o jornalista Paulo Conserva faz uma evocação comovida do jornalista José Gomes Talarico, conselheiro da ABI falecido em 6 de dezembro passado, que ele conhecera em Havana, durante a visita de uma delegação de jornalistas brasileiro a Cuba. O texto de Paulo Conserva, sob o título “Meu amigo Talarico”, é o seguinte:
“Vasculhando as veredas da memória reencontrei-me com Talarico, figura humana a quem muito admiro. O conheci em Havana quando ali eu carpia as doçuras e amarguras do exílio ao qual me socorri após um estágio no México de Benito Juarez, Pancho Villa e Zapata. Já em Cuba, berço heróico de José Martí e Carlos Manoel de Céspedes, pai da pátria cubana, estudava e trabalhava na Rádio Havana, no departamento de língua portuguesa, sob o codinome de Manoel Lopes.
Eram tempos de repressão! Transmitia diariamente para o Brasil noticiando fatos que a Nação desconhecia dada a brutal censura estabelecida pelo regime de 64. Eis que ali se achega uma comitiva de jornalistas brasileiros enviada pela ABI – Associação Brasileira de Imprensa, a convite da UPEC – Unión de Periodistas de Cuba. Roberto de Luna, meu diretor, indica-me a fazer a cobertura de tão importante evento que concentrava dezenas e dezenas de jornalistas da América Latina. Até ali me dirigi – caneta, papel e gravador a tiracolo. Então fixei-me em Talarico do grupo de colegas brasileiros.
Exatamente arrumando a bagagem para a viagem de volta ao Brasil, no apartamento 102 do Hotel Vitória, trajando cuecas samba-canção, não entendia por que não ficara registrado na resolução final do encontro o seu pronunciamento contra a ditadura no Brasil. O fato é que, sob os bastidores diplomáticos, já se ventilava o restabelecimento de relações comerciais, primeiro passo para a efetivação de laços consulares entre ambos os países, uma vez violentados em abril de 64 pelo governo dos generais golpistas.
Vim reencontrá-lo no Rio de Janeiro, anos depois, como líder da bancada pedetista sob a orientação do hoje saudoso Governador Leonel Brizola. Convidado, fiz-me chefe do seu gabinete. E ali reencontrei Fernando Bandeira, conterrâneo de Santa Rita, ex-marinheiro, agora líder sindical dos policiais civis e deputado estadual. Senti-me em casa!…
José Gomes Talarico, verbo inflamado, agora nonagenário, nasceu em São Paulo e já aos nove anos de idade seria estafeta dos revolucionários na epopéia constitucional de 32. Filho de pai italiano e mãe portuguesa de Trás-os-Montes, trouxe nas veias o sangue anarquista do patriarca emigrado ao Brasil quando do holocausto nazifascista na Europa de Hitler e Mussolini.
Com a derrota do professor Darci Ribeiro (PDT) para o sociólogo Moreira Franco (PMDB), Talarico já no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, fico no gabinete do Deputado Amadeu Rocha, ex-guerrilheiro do Caparaó, outro grande companheiro falecido há poucos anos. Decidi regressar à Paraíba e encontrei um PDT em frangalhos. E por aqui fui ficando ao lado de Dona Branca, agora na lucidez dos seus 91 anos.
Para Talarico, que jamais odiou a violência sobre ele cometida no buraco do rato nas tenebrosas instalações do Dops – Departamento de Ordem Política e Social -, na Rua da Relação, no Rio de Janeiro, sob orientações do famoso General Newton Cruz e que sofreu maior violência com a invasão do seu domicílio a traumatizar a sua esposa para o resto da vida, jamais se recuperando de tamanho golpe, este breve relato de respeito e admiração do seu discípulo.”