Um século de ABI em evento especial na ABL


04/04/2008


Villas-Bôas, Maurício Azêdo, Cícero Sandroni, Segismundo, Moacir Pereira e Murilo Mello Filho

A Associação Brasileira de Imprensa, que completa cem anos no próximo dia 7, foi homenageada na noite desta quinta-feira pela Academia Brasileira de Letras (ABL), em sessão solene no Salão Nobre do Petit Trianon. O Presidente da ABL, Cícero Sandroni, recebeu os jornalistas Moacir Pereira — que falou sobre o fundador da ABI, Gustavo de Lacerda—, Fernando Segismundo — que abordou aspectos da vida e obra de Herbert Moses—, Villas-Bôas Corrêa — que discursou sobre Prudente de Moraes,neto — e Murilo Mello Filho — que discorreu sobre a relação da ABL com a ABI. Sandroni, por sua vez, resgatou a trajetória do jornalista e acadêmico Barbosa Lima Sobrinho, que presidiu a ABI (1926 a 1927, 1930 a 1932 e 1978 a 2000) e a ABL (1953 a 1954), onde ocupou a cadeira nº 6 de 1938 a 2000.

O Presidente da ABI, Maurício Azêdo, agradeceu a todos pela cerimônia, ressaltando o discurso de Murilo Mello Filho sobre a forte identidade das duas instituições:
— Fico honrado com a sessão especialmente dedicada pelos acadêmicos e jornalistas palestrantes à memória de Gustavo de Lacerda, Herbert Moses, Prudente de Moraes, neto, exemplos de dedicação ao bem comum e à coletividade. A ABI se sente especialmente confortada, emocionada e, com extraordinário reconhecimento, recebe a homenagem da ABL, que simboliza o templo da inteligência brasileira, valorosa do ponto de vista do pensamento e da criação.

Projeção 

    Ivan Junqueira e Maurício Azêdo

Moacir Pereira, sócio da ABI, titular da cadeira nº 3 da Academia Catarinense de Letras e reconhecido pesquisador da vida e obra de Gustavo de Lacerda, destacou:
— O fundador da ABI vem se agregar a nomes de projeção nacional e internacional nascidos em Santa Catarina, tais como Victor Meirelles, Cruz e Souza, Anita Garibaldi, Jerônimo Coelho, Álvaro de Carvalho, Luiz Delfino e Lucas Boiteux.

De acordo com o jornalista, o movimento pela criação da ABI projetou Gustavo de Lacerda na vida pública brasileira em razão “da batalha pela união dos repórteres visando a melhoria das condições de salário e de trabalho,do papel que vislumbrava na formação profissional e do desejo de ver os jornalistas mais protegidos e valorizados.”
— O discurso de Gustavo de Lacerda completa 100 anos, mas suas bandeiras permanecem imutáveis, apesar das transformações ditadas pelos avanços da tecnologia. O extraordinário legado que nos deixou com a quase solitária campanha pela criação da ABI impõe iniciativas que mostram às novas gerações o valor de um ideal, o significado da ação coletiva, a importância da solidariedade humana e corporativa, a visão da imprensa na valorização da cidadania”.

Fernando Segismundo — que ocupou a Presidência da ABI de 1977 a 1978 e de 2000 a 2004 — abordou aspectos da vida e obra de Herbert Moses, que esteve à frente da Casa entre 1931 e 1964:
— Antes uma entidade frágil, a ABI tornou-se notável na gestão de Moses, homem de grandes ideais que lutou para fortalecer a entidade. A polícia invadia a ABI na época em que o exercício do jornalismo era uma atividade perseguida e perigosa: o repórter não tinha idéia se voltaria para casa após o trabalho.

Segundo Segismundo, Moses era um homem de negócios que, entretanto, “dedicou-se à empreitada bem-sucedida e prestigiosa em defesa do jornalismo”:
— Trabalhei ao seu lado e muitas vezes o vi lacrimejar em função dos problemas políticos que atingiam o País e a imprensa. À frente da ABI, Moses se expôs, teve muitos dirigentes presos e torturados. Contudo, conseguiu agregar a classe perante as turbulências

Ideais

A trajetória de Prudente de Moraes, neto — que ocupou a Presidência da ABI entre 1975 e 1977— foi resgatada por Villas-Bôas Corrêa, decano do jornalismo político brasileiro, que comemora 60 anos de carreira. Companheiro de Prudente nas redações do Diário de Notícias e do Estado de S.Paulo, Villas-Bôas destacou “a excelência de seu texto e a extraordinária gestão à frente da ABI, especialmente no período da ditadura, quando registravam-se inúmeros casos de jornalistas exilados, perseguidos, ameaçados e torturados”:
— Com Prudente, notável na tarefa de defesa da categoria e dos ideais da sociedade, a ABI representou uma frente de luta em favor da classe e da liberdade de imprensa. Assim como Barbosa Lima Sobrinho, ele enfrentou com grande bravura este período. E o atual Presidente da ABI, Maurício Azêdo, também vem promovendo uma administração exemplar, que, após longos anos, consegue atrair a classe em torno de uma renovada ABI.

 Murilo Mello Filho

Associação e Academia

A forte relação entre a ABI e a ABL foi enfatizada na palestra do jornalista e acadêmico Murilo Mello Filho.
— Ambas têm caminhado juntas ao longo de um século de vida em comum. Coesas, testemunharam e sobreviveram, nos últimos cem anos, a uma perigosa escalada de agruras e sucessivas crises política no País.

Murilo lembrou que, à época da fundação, as entidades não tinham sequer onde se reunir:
— A ABI hospedava-se no Quartel Militar dos Barbonos, permitindo ao jornalista Belisário de Souza reconhecer: “Pelo menos aqui estamos guardados e seguros.” Só em 1939, a ABI pôde inaugurar a primeira sede própria, no Castelo. Mas jamais silenciou sua voz de protesto e a mensagem de esperanças gravadas para sempre na gratidão e no reconhecimento dos brasileiros. Sob a Presidência digna e correta de Maurício Azêdo e de seus bravos antecessores, a Casa representa fortaleza indômita e indormida na defesa das conquistas democráticas e da liberdade de imprensa.

O Presidente da ABL, Cícero Sandroni — que ocupou os cargos de Diretor, Secretário-geral e Presidente do Conselho da ABI — homenageou a trajetória de Barbosa Lima Sobrinho, sublinhando os momentos em que atuaram juntos na entidade:
— Como havia um desinteresse da classe, quando recebíamos pedidos de entrevista eu costumava estimular os repórteres a se associarem à Casa. Era preciso convencer os colegas da necessidade de participar e contribuir para a luta da ABI.

Sandroni destacou a emoção em conviver com “a bravura cívica de Barbosa e seu espírito pacifista e conciliador, que só era abalado quando o Fluminense perdia”:
— Ele é eterno pelas palavras que deixou escritas, muito melhores do que eu poderia fazer. Lembro que uma vez o questionei pela sua jornada de trabalho, por causa de sua idade, e ele me disse: “O tempo que perdemos na ABI, ganhamos pelo Brasil.”

O acadêmico finalizou o encontro exortando a participação dos profissionais na vida da entidade jornalística:
— A ABI é e sempre será aquilo que os jornalistas fizerem dela. E será tão melhor quanto mais jornalistas participarem de suas atividades. A ABI cresce e se fortalece sempre que conta com o apoio dos profissionais de todo o Brasil.