Tributo à memória de Zuzu Angel


15/04/2011


Para a colunista Hildegard Angel, filha da estilista Zuzu Angel, a missa pela passagem dos 35 anos da morte da sua mãe foi um ato cuja importância é manter viva a memória da luta à qual ela se envolveu pelo estabelecimento do Estado de Direito no Brasil.
 
 
Durante a missa — celebrada nesta quinta-feira, 14 de abril, Paróquia São Paulo Apóstolo, em Copacabana —, foi relembrada a comovente oposição da estilista mineira contra a ditadura militar (1964-1985), e sua defesa dos direitos humanos. Além de Hildegard Angel, filha de Zuzu, compareceram ao ato religioso parentes e amigos, que acompanharam de perto a trajetória da homenageada.
 
 
Hildegard destacou a importância do exemplo dado por Zuzu Angel contra o regime ditatorial:
— Todo mundo perde mãe, perde pai, e nenhum sentimento é menor do que o meu. No entanto, meu sentimento pela minha mãe ficou pequeno perto da grandeza do exemplo dela, e da importância de a gente lembrar a sua luta. Então é por isso que eu insisto em realizar nas datas pontuais cerimônias lembrando minha mãe e meu irmão (Stuart Angel, perseguido e morto por agentes do regime militar), para que essa história não se repita em nosso País, disse a filha da estilista.
 
 
Presente ao evento, a jornalista Leda Nagle reforçou a necessidade de se valorizar a história de Zuzu:
 
— A gente não pode deixar essa luta se perder. Isso tem que ser reafirmado, primeiro para que nunca mais aconteça e também para que a memória dessa mineira guerreira permaneça viva, afirmou a apresentadora do programa “Sem Censura”, da TV Brasil.
 
Perseverança
 
 
Zuzu Angel engajou-se na luta contra o regime militar no Brasil após o desaparecimento de seu filho, Stuart Angel, em 1971. Ele era militante político de esquerda do MR-8 e foi preso, torturado e morto nas dependências de uma unidade da Aeronáutica, no Rio de Janeiro.
 
 
Nos anos seguintes, a estilista passou a ser perseguida pelos militares devido à sua luta incansável para reencontrar o corpo de seu filho. No dia 14 de abril de 1976, Zuzu foi vítima fatal de um acidente de carro na saída do Túnel Dois Irmãos, hoje rebatizado com seu nome. Somente em 1998, o acidente foi reconhecido pelo Governo brasileiro como um assassinato político, fruto de uma articulação do regime militar.
 
 
Na missa, o padre Paulo de Tarso, que conduziu a cerimônia, também falou sobre a homenageada da noite, exaltando seu papel como defensora da democracia e da justiça:  
— Nós precisamos homenagear essas nossas pessoas, nossos heróis, porque graças aos muitos indivíduos que derramaram seu sangue, esse País tenta construir o caminho da democracia e da liberdade. E Zuzu Angel tem o seu nome escrito entre essas cidadãos que lutaram, não apenas pelos seus direitos, mas pelo direito de lutar pela justiça, afirmou o padre Paulo de Tarso.
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Ao final da cerimônia, em discurso emocionado, Hildegard Angel falou sobre sua dor e os momentos difíceis vividos na época da ditadura militar. Ela reafirmou a importância de eventos deste caráter “para que não vejamos nossos filhos amanhã em situação parecida com a de tantos jovens brasileiros cheios de sonhos, que se foram de uma maneira tão sórdida, tão bárbara”, disse Hildegard, aplaudida de pé por todos que estavam presentes à missa. 

* Renan Castro é estagiário do ABI Online.