03/03/2023
Por Maria Luiza Busse, diretora de Cultura da ABI
Foto: Zhora Motta
Às 20h13 minutos de quinta-feira, dia 02 deste março de 2023, Maria Fernandes Marighella, 47 anos, baiana, atriz e produtora cultural, foi empossada presidenta da Fundação Nacional de Artes, FUNARTE. Maria Marighella entrou fazendo um movimento de voo de pássaro no palco em que tomaram assento Janja Lula da Silva, a ministra Margareth Menezes, Sonia Faustino, ministra substituta da Comunicação, e Márcio Tavares, secretário-executivo do Ministério da Cultura.
Sempre com o senso de elegância na medida, a companheira do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou de não protagonizar a cerimônia. Chamada para falar, com três frases Janja observou que tudo já havia sido dito, desejou toda sorte e felicidade a Maria Marighella, e encerrou com “Margareth, a gente te ama”. Foi aplaudidíssima, de pé.
Maria Marighella celebrou a posse sintonizada com o mosaico de cores e alegria que encheu a Sala Cecília Meireles de concertos, no centro do Rio de Janeiro, sede da Funarte. O ato foi aberto pelo espetáculo circense de alunos da Escola Nacional de Circo Luiz Olimecha, da Funarte, performance de poesia e canto da atriz Veronica Valentino, participação de Doralice, militante do OcupaMinc conhecida como “embaixadora da revolução”, que cantou relembrando as palavras da vereadora Marielle Franco, assassinada há cinco anos_ “canta que tua voz me encoraja”, e Carlos, que interpretou o hino nacional à capela. Em mais uma afirmativa homenagem aos resistentes do movimento OcupaMinc, a mestre de cerimônias foi Lilith Cristina, atriz de 22 anos que na época era estudante e integrante do grupo de ocupantes Articulação Secundarista Preta, de São Paulo.
Antes do discurso de posse, Maria Marighella fez sua autodescrição. Disse que era “uma mulher negra de pele clara, o que gera muita confusão”, com “1 metro e 54 centímetros de altura”, “olhos e rosto pequenos e muito cabelo”, com “a boca sempre pintada de vermelho, vermelho, muito vermelho, como esse vestido que parece um pássaro das cores da minha mãe Iansã”. Em seguida, deixou claro o sentido da gestão: “Tomemos posse, é tudo nosso. Posse, reintegração de posse, toma posse aquele que ama e cuida. Convoco todas e todos a tomarem posse junto conosco”. Na chamada ao coletivo, garantiu que esse será “o encontro da política pública com as Artes, a Verdade, a Memória e Justiça”, anunciou que a Funarte passará a ter a diretoria de Circo, Dança e Teatro, e declarou se dirigindo a Margareth Menezes: “Nós, ministra, voltaremos ao Gustavo Capanema”. O Palácio da Cultura, representação do MinC no Rio de Janeiro, foi fechado pelo governo golpista de Michel Temer e se tornou referência do movimento Ocupa MinC. Integrantes da ocupação entregaram uma faixa a Margareth e à presidenta Marighella.
Depois de assinar o termo de posse de Maria Marighella, a ministra Margareth Menezes voltou a agradecer sua indicação ao presidente Lula. Ressaltou a força da cultura brasileira informando que está entre as 13 que mais influenciam as culturas no mundo. Reiterou a criação dos comitês de Cultura, a abertura de escritório do MinC em todos os estados, e garantiu que vai lutar para que a área da cultura tenha direito às leis de fomento como todos os demais ministérios assim como o direito de receber pela difusão cultural realizada pelos canais de streaming.
Da plateia, o pai de Maria e filho de Carlos Marighella, Carlos Augusto Marighella, assistia a tudo. Perguntado sobre o momento da filha que nasceu em uma das vezes em que esteve preso, fez com que as palavras escorregassem ainda mais do que o conhecido modo baiano de se pronunciar sobre as coisas: “Maria está nadando no rio dela. É uma pessoa da arte. E já começou a presidir, quando entrou no palco e já foi arrumando a cena”. É verdade. Assim que pisou no espaço, foi mudando a disposição das cadeiras: “Me chamaram para dirigir a Funarte, eu vou dirigir a cena”.