10/05/2023
Por Maria Luiza Busse, diretora de Cultura da ABI
O corpo de Rita Lee Jones de Carvalho está sendo velado hoje, quarta-feira, dia 10 de maio, das 10:00 às 17:00, no Planetário do Parque Ibirapuera, em São Paulo, capital, em ato aberto ao público. A cantora e compositora morreu há dois dias, aos 75 anos, em consequência de um câncer de pulmão que tratava desde 2021.
Ufa, notícia dada, aumenta o som porque agora vem rock ‘n’roll em toda as dimensões que a ideia provoca. E provoca. Por isso, Rita preferia ser reconhecida como “Padroeira da Liberdade” em lugar de ‘Rainha do Rock”. Tudo fazia sentido nas chamadas transgressões que Rita imprimia no curso convencional da sociedade.
Compôs, cantou, amou, casou, pariu, foi mãe e avó, dentro de um figurino que passou a disturbar a ordem que se achava única e decretava que fora dela nada era possível. Rita foi adiante e dando beijinho no ombro. Criou três meninões feitos com o marido Roberto Carvalho e tocou o apito que permitiu às mulheres assumirem a delícia que é lançar seu perfume sem vergonha de ser feliz.
Rita viveu na teimosia, estado de graça e coragem que um pensador definiu como a afirmação do irredutível da vida ao que quer que seja. Legado para sempre inscrito nas suas músicas, entrevistas, depoimentos, e até nos seus silêncios.
Presa, grávida, com risco de perder o bebê, pouco falou sobre o assunto. Quando surgia, era para exaltar a admiração e amizade que nasceu por Elias Regina, voz ícone dos anos de 1970, que irrompeu a delegacia, exigiu atendimento médico e mobilizou as opiniões num movimento tipo #liberteRitaLee que resultou exitoso.
Rita, Santa Rita de Sampa, música que diz “Sois o lazer de quem trampa, Bendita Santa Rita de Sampa,
Santa Rita de Sampa, Santa Rita”, que merece assim ser canonizada no altar dos heróis marginais que alargam as margens dos comportamentos constituídos de preconceito e arrogância.
Rita escreveu 10 livros, a maioria infantis para alegria dos pais e avós, contos, e uma autobiografia lançada em vida. Agora vem aí Rita Lee: outra autobiografia”, que está em pré-venda e terá lançamento nacional em 22 maio, dia de Santa Rita de Cássia. O livro trata do cotidiano nos últimos três anos, a luta contra o câncer e a pandemia da Covid-19. Sobre o trabalho, disse Rita: “Achei que nada mais tão digno de nota pudesse acontecer em minha vidinha besta. Mas é aquela velha história: enquanto a gente faz planos e acha que sabe de alguma coisa, Deus dá uma risadinha sarcástica”. Mais uma vez Rita entendeu tudo, e deu a chave para o reino dos céus, ou seja: navegar é preciso, viver não é preciso, e o importante é ser feliz e assim fazer um monte de gente feliz.