10/08/2006
Rodrigo Caixeta
11/08/2006
Alceu Feijó é o repórter-fotográfico há mais tempo em atividade no Rio Grande do Sul. São 57 anos dedicados ao fotojornalismo, iniciados quando, segundo ele, tudo ainda era bastante primitivo em termos de técnicas jornalísticas e de fotografia e era preciso recorrer a livros espanhóis e argentinos, já que no Brasil não havia literatura sobre o assunto:
— Apenas nos anos 60 começaram as cadeiras de Jornalismo. Ainda hoje, porém, a fotografia é um pé secundário nas faculdades. Os grandes fotógrafos brasileiros conquistaram seu sucesso muito mais pela sensibilidade inata do que por aulas teóricas.
Na infância e na adolescência, Alceu tinha “verdadeira ojeriza por ser fotografado”. Começou a gostar de fotografias nos anos 40, quando era estudante em Porto Alegre, e colecionava fotos de futebol publicadas na Folha da Tarde. Mas acredita que possa ter herdado o interesse pelo fotojornalismo de seu bisavô, Carlos Von Koseritz, jornalista e escritor alemão que veio para o Brasil em 1865, e de seu avô Mário de Sá, carioca que trabalhou cerca de 50 anos no Correio do Povo.
No fim da década de 40, Alceu começou a mandar suas fotos produzidas com uma pequena câmera 6×6 para a Folha Esportiva, antiga publicação gaúcha. Em 1949, ele foi procurado por Vinicius Bossle, correspondente do jornal em Novo Hamburgo com quem passou a fazer dupla:
— Durante 33 anos, fizemos reportagens da região para o Jornal do Brasil, por solicitação do Carlos Castelo Branco, cronista político, que representava a empresa da Condessa Pereira Carneiro no Sul. Tivemos reportagens e fotos repercutidas em O Cruzeiro, na Revista do Globo e no Jornal NH, onde trabalho atualmente.
Após “um doloroso período de superação técnica e emocional”, Alceu hoje trabalha com câmeras digitais:
— Foi um processo semelhante ao de quem se separa de um grande velho amor para se dedicar a um novo, jovem e misterioso. Mas o mercado fotográfico não admite preferências. E não podemos lutar contra a modernidade e a rapidez dos resultados.
Exclusiva
No currículo, o fotógrafo contabiliza, entre outras importantes coberturas, as da Copa do México, em 1970, quando o Brasil foi tricampeão do mundo; da corrida de Monza em que Emerson foi campeão da Fórmula 1; e dos preparativos para as Olimpíadas de Munique, em que mostrou as inovações dos controles de tempo em todas as modalidades esportivas. Mas orgulha-se especialmente de uma entrevista exclusiva, em 1968, com Jânio Quadros, quando este estava exilado em Corumbá:
— Graças a um secretário do ex-Presidente, consegui que o repórter e eu fôssemos recebidos, informalmente, durante uma festa de aniversário. Pedi ao colega da Manchete Gervásio Batista que fotografasse o momento em que eu chegava ao Jânio. Lembro-me que foi difícil esconder da Polícia Federal o filme e a mensagem que o Jânio mandou para o Rio Grande do Sul, a meu pedido. A reportagem foi publicada no Jornal NH.
Entre as situações de risco pelas quais passou como fotógrafo, Alceu destaca uma em que fora pautado para registrar imagens noturnas e coloridas da Petrobras, do alto de uma caixa d’água:
— Quando eu estava lá em cima, com os equipamentos protegidos numa superfície arredondada, começou um tremendo temporal de verão. Como única segurança, eu tinha o pequeno pára-raio no centro da caixa. Com um braço, me segurava nele; com o outro, tentava proteger o equipamento, que a forte ventania podia levar embora. Felizmente, os raios caíram na vizinhança.
Para Alceu, a fotografia nunca foi considerada arte pura, “apesar de tentativas sem resultados práticos ou verdadeiros”:
— Arte não se consegue numa fração de segundo ou num estudo repleto de componentes secundários. O que existe é o flagrante jornalístico, que comove, que se destaca porque o fotógrafo estava lá e viu, sentiu ou anteviu o momento. Mas isto não é arte.
Para ele, o fotógrafo deve ter consciência de que é uma figura singular, conhecer amplamente o seu território de atuação e saber se posicionar discretamente nas coberturas:
— Ele é o personagem mais importante em qualquer acontecimento, é o futuro pelas imagens. Daqui a 50 ou cem anos, a sua fotografia ainda estará bem viva nas reminiscências históricas, enquanto os personagens fotografados já estarão esquecidos ou não mais identificados. E talvez seja esta a prova mais autêntica do mundo.
Clique nas imagens para ampliá-las: