11/03/2023
Por Sato do Brasil e Lucas Martins, em Jornalistas Livres
Foto: Lucas Martins
Terremoto era terremoto mesmo. Tem certos apelidos que vem com a própria vida, que se confunde com ela, que se apropria e se torna ela mesma. Terremoto tinha uma vibração, uma impaciência, um desespero de aprender, fazer, errar, aprender de novo, acertar, fazer de novo, sempre. E um coração imenso, gigante, explosivo e afetuoso. Quem não gostava do Terremoto? Ninguém. Era impossível desgostar do Terremoto. Sorriso tranquilo, cabeça a mil, coração batendo. Quando chegava, era um acontecimento. Seus pensamentos superavam a velocidade das palavras. Mas mais que tudo, ouvia. Sempre. Tinha a sabedoria jovem de ouvir. Como poucos.
Sua presença se fazia sentir, como deve, por sua intensa vibração. Nascido Felipe, por força interna se fez terremoto. Pra ele não tinha tempo ruim, mesmo em meio aos cenários violentos em que prontamente ia, por dever de ofício, registrar. Câmera numa mão, cigarro na outra. Na voz uma piada ou provocação.
Inconformado com o estado de horror que se produz pela história brasileira nas ruas de São Paulo, revoltou e fez da imagem meio de denúncia e beleza. Suas fotografias, sejam em atos ou nos seus ensaios, brilham com as cores em realce, assim como ele vivia, vibrando.
Na Primavera Secundarista, de dentro, foi um dos mais atuantes narradores do movimento. Os Jornalistas Livres e Terremoto se encontraram no meio desse turbilhão das ocupações das escolas pelos secundas. E continuamos a nos encontrar nas ruas, nas manifestações, nas ocupações de moradia, em todo lugar.
A fotografia de rua é sempre feita em conjunto. E com o Terrê, foi assim. Contar com ele para qualquer reportagem era contar com a uma presença alerta na medida certa e uma rapidez impressionante. Era poder contar com alguém que pudesse olhar a retaguarda e que não se deixava olhar. Mas também era corrido e enérgico fora do horário de trabalho.
Sua mãe sempre esteve presente nas reuniões dos Jornalistas Livres no Ateliê do Gervásio. Uma mãe presente, um filho presente. Era nítido o orgulho da mãe por um filho sensível, irrequieto, voluntarioso, profissional e afetuoso. Mãe coruja de um filho que voava alto.
Um menino que sempre soube olhar para o que estava acontecendo do seu lado, na sua frente. Suas imagens das crianças numa ocupação de moradia que estava sofrendo a possibilidade de uma reintegração de posse, foi crucial para evitar que essa ação avançasse. Olhar e enxergar além. Entender e lutar contra as desigualdades, os preconceitos, a ausência do Estado, que batem também em sua porta. Lutar por um país mais justo. Que sua luta, sua força e sua presença nos incentive a construir um país onde não seja necessário chorar a perda de filhos e amigos. Agradecemos por tudo que fez, mas também pelo abalo que era.
Voa, Terremoto!