Técnico Guto Ferreira usa tom machista com repórter


19/07/2017


Técnico Guto Ferreira. Foto: Divulgação

Não bastasse a polêmica em torno da vitória do Internacional sobre o Luverdense por 1 a 0, na noite de terça-feira, pela Série B do Brasileiro, o técnico Guto Ferreira ainda fez uma exibição machista digna de vaias. Na coletiva de imprensa após a partida, no Estádio Beira-Rio, o treinador foi questionado pela repórter Kelly Costa, da RBSTV, sobre um problema técnico da equipe. A resposta do comandante, que tem vivido semanas de sufoco com o péssimo desempenho do Colorado na Segunda Divisão, foi infeliz:

“Desculpe, eu não vou te responder com uma pergunta porque você é mulher e talvez não tenha jogado (futebol)”, disse Guto Ferreira ao começar a responder a perguntar da repórter. “Mas todo jogador que joga, tem dificuldades de ter uma tensão a mais no lance final. Precisa acertar para ter confiança. Se você já jogou para perceber isso, mas de repente trouxe a resposta mais para a situação de canalizar nesta forma. O avanço na confiança é muito importante. Não é treinamento só, isso eles estão fazendo, é ter a possibilidade de, sob pressão, conseguir que a bola entre. Daí fazer de novo e de novo”.

O Extra publicou que, depois disso, o treinador se deu conta do que havia dito, chamou a repórter na zona mista do Beira-Rio e pediu desculpas à jornalista.

Guto pede desculpa à jornalista Kelly Costa. Foto: Divulgação

“Não há justificativa qualquer que explique minha infeliz declaração após a partida de ontem. Mesmo sem ter a intenção, cometi um ato machista, deselegante e completamente fora de propósito. Esse tipo de declaração não condiz com meus procedimentos e condução de vida. Não me cabe aqui explicar o que quis dizer e nem esperar que alguém mude sua análise sobre minha frase. Como um homem casado há 21 anos e pai de dois filhos, só me resta lamentar minha infelicidade e pedir desculpas à repórter Kelly Costa e todas as mulheres que tomaram conhecimento do episódio. Nossa vida é feita de aprendizados e duras lições. A de ontem nunca mais sairá da minha memória“, diz a nota do treinador.

Uma outra repórter, no entanto, publicou um registro do pedido de desculpas de Guto Ferreira à jornalista e um desabafo sobre o preconceito demonstrado pelo treinador do Internacional. Nas redes sociais, o assunto gerou muitas críticas ao treinador do Internacional.

“Desculpe, eu não vou fazer essa pergunta para você porque você é mulher e de repente não jogou”.

Isso foi o que Guto Ferreira, técnico do Inter, falou para uma repórter MULHER por não ter gostado da pergunta dela em uma entrevista coletiva transmitida por inúmeras rádios, TVs e sites. Caro Guto: creio que, no momento em que tu falaste isso, tu não tinhas ideia do peso dessa frase na vida das poucas mulheres que ainda insistem em trabalhar e invadir o ambiente futebolístico que vocês, homens, pensam pertencer só a vocês. Infelizmente, Guto, não é só tu que pensa assim. Talvez tu não me conheça, mas eu sou a única repórter mulher no Futebol da Gaúcha. Mesmo tendo feito minha primeira jornada em 2015, em muitas transmissões, por exemplo, ainda tenho que fechar os ouvidos para os gritos que vêm da torcida (imagina que assustador, Guto, uns 20 caras CANTANDO pra ti: “Ah, eu vou gozar, vem aqui que eu vou te passar o peru”, repetidamente, enquanto tu TRABALHA). E sabe o que eu (e todas as mulheres, torcedoras, repórteres ou seja mais quem seja) tenho que fazer? Fingir que não é comigo. Por que sabe o que a gente sente? Que ali não é o nosso lugar. E isso acontece todos os dias — no estádio, na redação, na rua. Chega a ser cansativo, mas TODOS OS DIAS a gente tem que provar que tem condições de trabalhar com futebol. Que louco né? NENHUM cara precisa provar pra ninguém que entende. Mas as mulheres precisam. Eu estudei Jornalismo por quatro anos, cursei Gestão Técnica do Futebol pela Universidade do Futebol, fiz muitos cursos sobre tática e sempre li muito sobre o assunto. Mesmo assim, parece que sempre estou em desvantagem com relação aos colegas. Por que eles fizeram mais cursos do que eu? Não. Porque eles são homens. Eles não precisam provar nada. Na foto, Guto, tu pede desculpas à colega Kelly Costa pela colocação EXTREMAMENTE machista que fizeste na coletiva de hoje. Mas pode ter certeza que não foi só ela que tu atingiste quando falou aquilo. Ser mulher no jornalismo esportivo é heroísmo. E, gostem ou não, caras, a gente vai continuar. Não porque queremos ser melhor que vocês. Apenas porque queremos mostrar que MERECEMOS o mesmo respeito que vocês têm.