A Anistia Internacional divulgou nesta quarta-feira, 1º de agosto, um relatório em que acusa o Governo de Bashar al- Assad de cometer crimes contra a humanidade, devido à “brutal repressão que o regime sírio vem operando há meses contra dissidentes do regime no país”.
O documento é baseado numa investigação realizada no final de maio pela entidade em Aleppo, onde os conflitos se intensificaram depois que a cidade foi invadida pelos rebeldes. O relatório aponta que as forças de segurança do Governo, em busca de retomar a cidade, estão atacando civis indiscriminadamente, inclusive matando e ferindo crianças. De acordo com a Anistia Internacional, 200 mil pessoas já foram obrigadas a deixar suas casas, por causas dos bombardeios.
Para a Conselheira Sênior de Respostas para Crise da Anistia Internacional, Donatella Rovera, a situação é preocupante:
— O ataque atual sobre a cidade de Aleppo coloca mais ainda civis em situação de risco e segue o padrão preocupante de abusos cometidos pelas forças estatais em todo o país, declarou Rovera que passou várias semanas investigando abusos cometido pelo Governo no Norte da Síria, incluindo Aleppo.
O relatório indica que as famílias de rebeldes e civis que foram mortos a tiros pelas forças de segurança estão sendo obrigadas a assinar declarações reconhecendo que seus parentes foram assassinados “por gangues de terroristas armados”.
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Outro dado importante revelado pelo documento é que o aumento dos protestos anti-Governo provocou a reação dos aliados de Bashar al-Saad, com uso de força brutal contra manifestantes pacíficos que estariam sendo ameaçados com prisões arbitrárias, torturados e até mortos pelos agentes pró-regime:
— As manifestações pacíficas que eu testemunhei em diferentes partes da cidade (Alepo), invariavelmente, terminaram com as forças de segurança disparando armas com munição verdadeira contra os manifestantes pacíficos, por meio de tiroteios indiscriminados que muitas vezes acabam feridos ou mortos, disse Rovera.
Apelo
O documento da Anistia Internacional faz um apelo ao Conselho de Segurança da ONU para que mantenha um grupo de supervisão de violação de direitos humanos na Síria, ou crie outro mecanismo de vigilância contra os abusos que estão sendo cometidos no país pelas forças de segurança. Uma das medidas propostas é o embargo de venda de armas para o Governo e outros grupos que podem estar envolvidos nos crimes cometidos contra cidadãos civis.
A investigação independente que a Anistia Internacional está fazendo na Síria conclui que o Governo é o responsável por violações de direitos humanos e pela prática de crimes em massa cometidos contra a humanidade:
— É muito evidente que o Governo sírio não tem a intenção de acabar, muito menos investigar, esses crimes. Na verdade, tentou evitar qualquer investigação independente sobre os graves abusos cometidos em Aleppo e em outras partes do país, disse a conselheira da Anistia Internacional.
Donatella Rovera disse que cabe à comunidade internacional prestar assistência ao povo sírio “para garantir que os responsáveis por tão graves violações e crimes sejam responsabilizados”.
Ela lembrou que há poucos dias o Conselho de Segurança da ONU não conseguiu costurar um acordo sobre uma resolução sobre a Síria. Segundo ela, o que houve foi uma “paralisia” da comunidade internacional nos últimos 18 meses.
Na visão da conselheira da Anistia Internacional, a falta de entendimento entre os países membros do Conselho sobre uma possível intervenção na Síria, principalmente a resistência de China e Rússia, resultou na crença do Governo de Bashar al-Assad de que pode continuar cometendo violações, incluindo crimes de guerra e contra a humanidade com base na impunidade.
“A situação na Síria deve ser encaminhada ao Tribunal Penal Internacional, sem mais delongas”, afirmou Donatella Rovera.
* Com informações da Anistia Internacional.