Seminário lota auditório da ABI


06/05/2008


                                                                                   Fotos: Bernardo Costa

Os debatedores Evandro Vieira Ouriques, Ana Miguez, Giancarlo Summa, Paulo Vannuchi, Maurício Azêdo, Sílvia Ramos, Angelina Nunes, André Luiz Azevedo e Adauto Soares

Em palestra realizada na tarde desta segunda-feira, dia 5, na sede da ABI, durante o seminário “Mídia, segurança e direitos humanos”, o Ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, disse considerar que direito humano é o mesmo que direito à vida e que, por isso, é fundamental que o Estado e sociedade lutem articulados para garantir que não haja ataques à liberdade de imprensa e ao direito de ir-e-vir de todo cidadão. Declarou também que a segurança pública talvez seja o maior nó a ser desatado pelo Brasil na busca da consolidação e afirmação da sociedade civil na luta pelos direitos humanos:
— O tema está em processo de reformulação, passamos a construir uma nova mentalidade sobre direitos humanos. Antes de 1964, eles não eram tão difundidos no Brasil, como acontece hoje. Isso se deu a partir da ditadura militar, em função da prisão e repressão a presos políticos. Por isso, acho que esse tema deva ser incluído na estrutura do ensino fundamental, para implantar a semente dos direitos humanos nas crianças.

Ao falar sobre a agenda da Secretaria Especial de Direitos Humanos em 2008, Vannuchi anunciou a realização da I Conferência Nacional de GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), que deverá acontecer no início de junho, o lançamento do Programa Nacional de Defesa dos Direitos Humanos dos Policiais e um encontro do Presidente Lula com empresários, em julho, para discutir responsabilidade social nas empresas. Segundo ele, as políticas públicas de direitos humanos devem interpretar todas as lutas, como as das minorias e contra a exploração sexual.

Falando sobre a importância da total integração do Estado com a sociedade de maneira geral para dialogar sobre os direitos humanos, o Ministro declarou que a SEDH trabalha com base no tripé Poder Executivo, mídia e Poder Judiciário, que “se encontra defasado”:
— Entendo o debate sobre direitos humanos como uma coligação entre diferentes setores, para construir um Brasil que começa a consolidar a convivência pacífica.

 Maurício Azêdo

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Mesa e platéia

Também participaram da mesa de debates Maurício Azêdo, Presidente da ABI; Giancarlo Summa, Diretor do Centro de Informação das Nações Unidas (Unic) para o Brasil; Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes; André Luiz Azevedo, repórter da Rede Globo de Televisão; Angelina Nunes, Presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e editora-assistente do Globo; Adauto Soares, coordenador interino do Programa de Comunicação e Informação da Unesco; Evandro Vieira Ouriques, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ; e Ana Miguez, editora-executiva do jornal O Dia.

O encontro aconteceu na Sala Belisário de Souza, no 7º andar da ABI, e reuniu uma grande platéia de jornalistas, representantes de organizações não-governamentais, estudantes e comunicadores de veículos alternativos do interior do Estado do Rio. O evento serviu também para comemorar o 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o centenário da ABI, festejado em 7 de abril.

                                  Giancarlo Summa

No início da reunião, dizendo-se satisfeito com a escolha da ABI para sediar o ato, o Presidente da entidade lembrou a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos e citou o jornalista Vladimir Herzog, para lembrar a relevância da participação da imprensa no caso, durante a ditadura:
— O assassinato do Herzog foi um episódio traumático que marcou de forma vigorosa o País. E a ABI, desde então, tem levantado a bandeira dos direitos humanos, de maneira abrangente que se manifesta amplamente e não apenas para garantir a vida de jornalistas.

Giancarlo Summa, por sua vez, contou que começou a vida profissional como jornalista e falou sobre a influência da mídia na postura adotada pelos Governos em relação aos direitos humanos:
— As políticas de segurança são desencadeadas de acordo com a cobertura que a mídia faz. As prioridades são eleitas segundo o tratamento que a mídia dá. Esse é um poder que a mídia tem no Brasil e no mundo.

Mídia e violência

Coube à psicóloga Silvia Ramos — doutora em Saúde Pública e pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes — fazer a palestra introdutória do seminário, em que apresentou resultados da pesquisa “Mídia e violência”, do CESeC. A partir de entrevistas com 90 especialistas das duas áreas, o trabalho levou três anos para ser concluído (de 2004 a 2007) e faz um diagnóstico sobre segurança e o tratamento dado ao tema pela imprensa:
— A idéia de realizar a pesquisa partiu do princípio de que a mídia cumpre um papel decisivo para que os brasileiros dêem uma resposta às demandas na área de segurança pública. Chegou-se à conclusão de que o ideal seria fazer um diagnóstico sobre a cobertura que a imprensa dá atualmente a assuntos como violência, segurança e direitos humanos.

O principal objetivo, segundo Sílvia, era abrir um canal de diálogo entre a universidade, os centros de pesquisa e os profissionais e órgãos que produzem a notícia. Para que fosse estabelecido um padrão, inicialmente foram ouvidos os nove maiores jornais do Brasil: três do Rio de Janeiro, três de São Paulo e três de Minas Gerais. De acordo com a pesquisa, 50 mil pessoas são assassinadas no Brasil a cada ano. Em 1984, o índice de homicídios era de 15,2 por 100 mil habitantes. Em 2004, o número aumentou para 26,9 homicídios por 100 mil habitantes, pondo o País entre os mais violentos do mundo. Na maioria dos países europeus, por exemplo, essa taxa é de dois homicídios por 100 mil habitantes.

Outro dado relevante, na opinião da pesquisadora, é ver esses crimes item a item. Por exemplo: por faixa etária, no Rio a taxa de homicídios de jovens com idade entre 22 e 23 anos é a maior do Brasil; por etnia, anualmente são assassinados 88 jovens brancos por 100 mil e 200 jovens negros por 100 mil.
— São números impactantes e essa distribuição acontece há muitos anos. A pesquisa mostra que há um padrão local de violência. Em Ipanema, a taxa é de 7 por 100 mil habitantes; na periferia, é de 100 por 100 mil habitantes. Esse quadro também se repete em São Paulo e Minas Gerais. A cobertura sobre o assunto vem melhorando, mas ainda é muito frágil. Veículos que tratam a violência com sensacionalismo são fadados ao fracasso. Isso aconteceu com jornais como O Povo, no Rio, e o Diário Popular, em São Paulo. Há uma tendência positiva na mudança de postura da mídia no tratamento de temas como direitos humanos. E essa transformação se deve também ao processo de qualificação do jornalista.

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