03/05/2021
As inscrições para o Seminário, que acontece hoje e amanha são gratuitas. Acesse https://eventos.congresse.me/liberdadedeimprensa
Por Naief Haddad, Folha de S. Paulo
“A promoção de uma imprensa independente, pluralista e livre é essencial para o desenvolvimento e a manutenção da democracia”, diz um dos trechos da Declaração de Windhoek, documento apresentado no desfecho de um seminário ocorrido na capital da Namíbia, em 1991.
Organizado pela Unesco, braço da ONU para educação, ciência e cultura, o evento reuniu jornalistas de diversos países, especialmente da África.
O dia da assinatura da declaração, 3 de maio daquele ano, foi consagrado tempos depois como o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Três décadas após esse registro histórico, entidades brasileiras promovem um seminário internacional online para discutir os desafios do jornalismo na segunda (3) e terça (4).
Entre os participantes do painel da segunda-feira, estão Luís Roberto Barroso, ministro do STF; Marlova Noleto, representante da Unesco no Brasil; Flavia Lima, ombudsman da Folha; e Flávio Lara Resende, presidente da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).
O tema nesse dia é a informação como bem público. Vai das 16h às 17h30.
Amanda Ripley, repórter americana e autora do livro “As Crianças Mais Inteligentes do Mundo”, e Aline Midlej, âncora da GloboNews, estão entre as jornalistas convidadas do evento da terça-feira. O mote é polarização e liberdade de imprensa, com início no mesmo horário.
O seminário acontece em momento oportuno. Há duas semanas, a ONG Repórteres sem Fronteiras divulgou nova edição do seu Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa, que mostra o Brasil na 111ª posição, o que situa o país na “zona vermelha”, grupo de nações onde o trabalho dos jornalistas é considerado difícil.
No ano passado, o país estava no 107º lugar. É o quarto ano consecutivo de queda do Brasil nesse levantamento.
“Rankings como esse são importantes para balizar o cenário. Há no Brasil um aumento dos ataques físicos aos jornalistas e da violência nos meios digitais. Além disso, existe uma pressão forte contra os veículos e seus profisionais por meio de ações judiciais”, afirma a presidente do Instituto Palavra Aberta, Patricia Blanco, que fará a abertura do primeiro dia do evento.
Segundo ela, “temos visto ameaças sérias à liberdade de imprensa no Brasil, como a prática do linchamento moral”.
Blanco lembra um episódio de fevereiro de 2020 em que o presidente Jair Bolsonaro ofendeu a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha, com insinuação de cunho sexual. “Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo [risos dele e dos demais]”, disse, na época, o presidente em entrevista diante de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada.
De acordo com Blanco, um ato de agressividade de Bolsonaro acaba sendo replicado em outras esferas da sociedade. “Ao atacar tão fortemente um jornalista, o presidente desencadeia uma série de ações de desrespeito à imprensa.”
O veneno —essas ameaças à liberdade de imprensa— estará entre as pautas do painéis, assim como um dos seus antítodos mais poderosos —a educação midiática. Para a presidente do Palavra Aberta, é preciso, antes de tudo, deixar claro do que se trata. “Educação midiática não é saber mexer no computador, não é tecnologia. É análise crítica“, afirma.
Falta compreensão, inclusive entre muitos professores, em relação ao papel da imprensa, segundo ela. Um exemplo é a incapacidade de parcela expressiva dos leitores de distinguir o que é a descrição de um fato do que é uma opinião.
“O cidadão educado midiaticamente vai saber dar valor à informação feita com ética e rigor”, diz Blanco.
O seminário internacional é fruto de uma parceria de Unesco, Instituto Palavra Aberta, Folha, Abert, ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas).
Participam ainda Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Jeduca (Associação de Jornalistas da Educação) e Embaixada dos EUA no Brasil.