Por Igor Waltz*
14/01/2014
A Rússia emitiu um comunicado nesta terça-feira, 14 de janeiro, em que proíbe por cinco anos a entrada do jornalista norte-americano David Satter. O tratamento dado por Moscou ao repórter pode azedar as já tensas relações do país com os EUA e aumentar as preocupações sobre a liberdade de expressão antes da Olimpíada de Inverno de Sochi, em fevereiro.
Satter, de 66 anos, trabalhou como correspondente na Rússia do Finantial Times e do Wall Street Journal e é autor de três livros sobre a União Soviética e a Rússia. Crítico ferrenho do governo Putin, o jornalista encontrava-se em Moscou desde setembro de 2013, trabalhando para a Radio Free Europe/Radio Liberty, emissora financiada pelo governo do EUA.
De acordo com comunicado emitido pelo Serviço de Migração da Rússia, o jornalista teria violado regras de permanência no país. “David Satter permaneceu na Rússia em um período superior ao permitido por lei. Ele foi multado e submetido à deportação administrativa após a decisão do tribunal”, disse a nota. A decisão de expulsar o jornalista do País foi determinada pela justiça russa no fim de novembro.
Segundo a página pessoal de Satter, o jornalista viajou até Kiev, capital da Ucrânia, para uma exibição do seu filme “Age of Delirium”, um documentário sobre o declínio da União Soviética, e foi abordado por um diplomata da embaixada russa que lhe entregou um comunicado que dizia: “Os órgãos competentes decidiram que a sua presença no território da Federação Russa não é desejada. Você está proibido de entrar na Rússia”.
“Esta é a forma como geralmente são expulsos os espiões. Em quatro décadas de trabalho na Rússia nunca tinha visto esta fórmula aplicada a um jornalista. Isto significa que, por alguma razão maluca, me consideram uma ameaça à segurança”, disse Satter ao The Guardian.
Em um de seus livros, Satter acusa o Serviço de Segurança Federal russo, sucessor da KGB da era soviética, de ser responsável pelos ataques a bomba contra prédios de apartamentos russos em 1999, em que mais de 300 pessoas morreram.
O SSF, chefiado por Putin antes de ele se tornar primeiro-ministro e depois presidente, negou as acusações. Autoridades russas culparam separatistas da Chechênia, no Cáucaso do Norte, pelos ataques. Os crimes nunca foram solucionados.
Apesar de as expulsões de cidadãos ocidentais ser uma prática corrente durante a Guerra Fria, a última vez que um jornalista foi obrigado a deixar do país foi em 1982: Andrei Nagorski, da revista Newsweek. Depois disso, houve o caso de Nicholas Daniloff que esteve preso em 1986 como represália pelo fato de o FBI ter detido um espião russo em Nova Iorque.
*Com informações de O Globo, da Reuters e do site Voice of Russia.