RSF investiga ameaças ao jornalismo no Brasil


21/11/2012


O Brasil tem um longo caminho a percorrer para consolidar uma imprensa livre. A opinião é do jornalista francês Benoit Hervieu, chefe da seção “Américas” da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que prepara relatório sobre os limites do exercício da profissão no País. O jornalista, que já passou por Rio de Janeiro e São Paulo, segue agora para Brasília.
 
O objetivo de Hervieu é reunir-se com acadêmicos, especialistas, jornalistas e dirigentes de veículos das três cidades para coletar informações sobre restrições e ameaças à liberdade de imprensa no Brasil. De acordo com o jornalista, o País tem episódios de censura judicial a reportagens, assassinatos de jornalistas no exercício da profissão e a Lei de Acesso à Informação ainda não está com funcionamento pleno.
 
“No Brasil não há a polarização política entre imprensa e governos, como se vê em países como Venezuela e Argentina”, disse Hervieu em São Paulo. “Porém, o RSF registra que em 2012 houve seis casos de jornalistas mortos, sendo que em pelo menos três deles há fortes indícios de que os crimes tenham ligação com o seu trabalho”, lembrou.
 
Segundo Hervieu, a entidade se preocupa especialmente com os casos dos assassinatos dos jornalistas Mário Randolfo Marques Lopes, no Rio, no dia 9 de fevereiro, e de Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, editor do Jornal da Praça, de Ponta Porã, morto a tiros três dias depois, em Mato Grosso do Sul, além da morte do blogueiro Décio Sá, no Maranhão, em abril.
 
Outro problema apontado pelo jornalista francês que tem relação aos riscos que corre a imprensa brasileira é o tráfico na fronteira onde estão os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
 
“Estamos assistindo à globalização do crime organizado. Várias regiões têm dupla economia, como parte do território brasileiro. Sabemos que são pontos estratégicos do tráfico, com infiltração na economia local e na política local. Isso faz com que seja muito difícil promover proteção para os jornalistas que ousam falar desses assuntos, porque os interesses são enormes”.
 
Para o diretor do RSF, casos de censura judicial, como o do Estado, impedido de publicar reportagens sobre a Operação Faktor (ex-Boi Barrica), que investigou o empresário Fernando Sarney e a detenção do presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho, além da dificuldade de acesso a informações em órgãos públicos compõem ambiente negativo para o jornalismo. “O Brasil vive um longo silêncio sobre fatos ocorridos na ditadura militar. E falta transparência sobre a onda de violência em São Paulo”, emendou.
 
* Com informações de O Estado de S. Paulo e do Portal Imprensa.