03/12/2021
Lançamento hoje, no Rio, Livraria Blooks, das 18 às 21 hs.
O livro “Andar a pé, uma obrigação profissional” é uma coletânea com as melhores reportagens do jornalista urbanista Rogério Daflon, que faleceu em acidente em 2019.
À ideia do livro seguiu-se uma pesquisa aprofundada das reportagens que melhor representam seu estilo, método, ideologia e valores, realizada por Alice Daflon, Ana Beatriz Duarte e Maria Lúcia Daflon. O livro é fruto de uma construção coletiva, da qual participaram vários amigos jornalistas e urbanistas, e só foi possível graças a um financiamento coletivo promovido pelo amigo e jornalista Emanuel Alencar.
Segundo Luciana Corrêa do Lago, prefaciadora do livro, professora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da UFRJ e orientadora da dissertação de mestrado de Rogério Daflon (Ribeirinhos urbanos: uma vida à margem do direito à moradia – 2016), “As matérias selecionadas para este livro estão impregnadas de humanidade, impregnadas de mulheres e homens sem canais de expressão para suas mazelas na cidade desigual e segregada.
Temos aqui textos jornalísticos sobre temas diversos que, juntos, evidenciam o sentido maior do jornalismo de Rogério Daflon: a luta pela dignidade da vida humana nas grandes cidades. Ao longo de suas andanças, Rogério, de forma corajosa, foi abrindo caminhos de comunicação historicamente fechados para as classes populares. Alcançou as invisíveis comunidades ribeirinhas nas margens poluídas da nossa metrópole, chegou aos pescadores da nossa agonizante Baía de Guanabara e se embrenhou nas densas favelas cariocas com os ouvidos escancarados para as vozes locais.
Um jornalista com mestrado em planejamento urbano e regional na UFRJ
Rogério via, ouvia, se indignava e furava os cercos da mídia hegemônica para jogar no debate público conflitos urbanos mascarados por nossas elites. Rogério quis aprofundar sua compreensão sobre as bases dos conflitos cotidianos registrados em suas andanças, situando o Rio de Janeiro no cenário do capitalismo globalizado. Por isso, encarou o mestrado em planejamento urbano e regional na UFRJ, enquanto dava continuidade às suas investigações jornalísticas. Precisava de instrumentos de análise que lhe ajudassem a fazer novas perguntas, a traçar novas trilhas pela cidade, articulando-as. As precárias condições de vida nos territórios populares precisavam ser compreendidas no quadro mais amplo da política de mercantilização da cidade e, portanto, de negação da cidade como bem comum. A privatização de praias, praças e ruas, assim como as desigualdades de acesso ao saneamento, foram temáticas investigadas por Rogério dentro de uma perspectiva crítica mais abrangente e a partir da crença na construção coletiva de uma cidade democrática. As matérias aqui reunidas apontam um caminho a seguir, um caminho de luta e de exaltação da cidade como potência transformadora. Devemos isso ao Rogério.”
Rogério deixou matérias antológicas, dignas de serem incorporadas em cursos de jornalismo e urbanismo, das quais citamos a série VIDA EM BLOCOS (O Globo) com Rafael Galdo, sobre 100 anos de políticas habitacionais em conjuntos residenciais, onde abordam criticamente as políticas públicas de sucessivos governos acerca do direito fundamental à moradia; DESLEIXO INSUSTENTÁVEL O Globo), com Emanuel Alencar, série premiada, onde abordam o descuido com o lixo e os resíduos tóxicos; a matéria CRIME CONTRA O MARACANÃ A Pública) onde aborda a descaracterização e elitização do estádio do Maracanã, bem como o custo inexplicável da obra; uma série sobre o indevido uso privado dos espaços públicos (Roubaram a praia; Roubaram a rua; Roubaram a sky line do Rio), da Agência Pública; e a matéria “O Porto Maravilha é Negro”, onde aborda o desleixo com a cultura e memória das pessoas escravizadas que desembarcavam no Cais do Valongo, onde jazem, soterrados, os muitos corpos e objetos desses africanos sequestrados, local que deveria ser tratado como sitio arqueológico. Seu último trabalho foi uma entrevista para O Eco, sobre a construção de um autódromo no local onde se situa a floresta do Camboatá, que previa a derrubada de 200 mil árvores, sendo o Rogério um dos primeiros a denunciar tal crime ecológico. São exemplos de matérias dentre as 50 selecionadas, divididas em cinco capítulos: Moradia, Meio Ambiente, Obras e equipamentos públicos, Uso e ocupação do solo e dos espaços públicos, e Patrimônio arquitetônico e cultural da cidade. Na entrevista concedida à jornalista Andrea Penna para a TV Culktura, cujo link segue em anexo, Alice e Maria Lúcia, irmãs do falecido jornalistas, fornecem mais informações sobre o autor, seu método de trabalho, as reportagens selecionadas e sobre o processo coletivo de construção do livro.
Confira.