A ABI lamenta a morte do poeta e jornalista Reynaldo Jardim que considera um dos personagens mais criativos da imprensa brasileira. Esta também é a opinião do amigo e também poeta Ferreira Gullar, um dos integrantes da brilhante equipe do “Suplemento Dominical” do Jornal do Brasil, lançado por Jardim no final dos anos 50, ao lado de Lygia Pape, Franz Waissman, Lygia Clark, Amilcar de Castro e Jânio de Freitas.
Gullar disse que a morte do amigo o pegou de surpresa e o deixou muito chocado, mas que ao mesmo tempo se sentia confortado porque a morte súbita, sem sofrimento, ao contrário de uma doença com graves sequelas, tem mais a ver com o espírito livre de Reynaldo Jardim que era “uma pessoa alegre, aberta para o novo, voltado para a criação”:
— Essa morte é mais parecida com ele do que se ele tivesse, por causa de alguma doença, ficado paralisado em cima de uma cama, disse Ferreira Gullar referindo-se ao aneurisma na artéria da aorta que matou Reynaldo Jardim na última terça-feira, 1º de fevereiro de 2010, em Brasília.
Com uma carreira jornalística repleta de sucesso, Reynaldo Jardim criou no final dos anos 50 o “Suplemento Dominical do JB” (SDJB), que na opinião de Ferreira Gullar foi realmente a grande novidade da imprensa da época, que deu origem mais tarde ao “Caderno B” e marcou o início da consagrada reforma do jornal na década seguinte:
— O lançamento do caderno foi a renovação. A reforma do jornal começa de fato com o suplemento, que se tornou uma espécie de porta-voz das mais avançadas experiências jornalísticas do País, disse Gullar.
Até aquele momento o Jornal do Brasil era um impresso que do ponto de vista gráfico e editorial não tinha uma boa apresentação, com suas páginas tomadas por anúncios classificados. O “Suplemento Dominical” acabou se transformando em um dos mais respeitáveis espaços da imprensa brasileira sobre arte e cultura, onde também foram colaboradores Mário Pedrosa e Antônio Houassis.
Para Reynaldo Jardim tratava-se de um “caderno de vanguarda inserido num mar de anúncios classificados”, que acabou incentivando a Condessa Pereira Carneiro a pensar em um conteúdo novo para o seu jornal. Para cuidar da reforma ela contratou uma equipe de jornalistas egressa do Diário Carioca encabeçada por Jânio de Freitas.
O ingresso de Reynaldo Jardim na empresa da família Pereira Carneiro teve início na Rádio JB, onde criou e dirigiu o “sistema música e informação”. Em 1964, se transferiu para a revista Senhor e mais tarde criou o jornal O Sol. Ainda nos anos 60 foi diretor de telejornalismo da Rede Globo, criada em 1965.
A crítica de teatro Bárbara Heliodora conheceu Reynaldo Jardim quando se transferiu da Tribuna da Imprensa para o JB, em 1959, para assumir a vaga do colunista Geraldo Queirós. Na época, o jornalista Mário Nunes escrevia críticas teatrais para o noticiário diário do jornal e reclamou com a Condessa Pereira Carneiro sobre a contratação de Barbara.
Barbara Heliodora disse que chegou a pensar em parar, mas foi surpreendida com uma nota de Reynaldo Jardim no “Caderno B” dizendo que, enquanto ela não voltasse, não haveria coluna de teatro no jornal. O episódio acabou com o Mário Nunes concordando que ela fizesse a crítica para o “Suplemento Dominical” até ser convidada para assumir a direção do Serviço Nacional de Teatro (SNT).
Ao recordar essa passagem, Heliodora disse que Reynaldo Jardim foi uma pessoa muito importante no início da sua vida profissional:
— A lembrança que tenho dele é de uma intensidade estimulante, do apoio que me deu no princípio da minha carreira como crítica teatral.
Reynaldo Jardim nasceu em São Paulo em 13 de dezembro de 1926. Morreu aos 84 anos, no Hospital do Coração de Brasília, onde estava internado. Como poeta escreveu os livros “Paixão segundo Barrabas”, “Maria Bethânia guerreira guerrilha”, Joana em flor”, “Viva o dia”, “Cantares prazeres”. Seu último livro de poesias foi “Sangradas escrituras”, lançado em 2010, segundo lugar na categoria Poesia da 52ª edição do Prêmio Jabuti. O livro tem 1 mil 200 páginas de poemas escritos ao longo dos 64 anos em que se dedicou a escrever poesias.