Representação de mulheres na mídia levará 67 anos para ser equilibrada, diz relatório


20/07/2021


Por Media Talks

Credito da foto: Crédito: Andrzej Rembowski / Pixabay

 

A 6ª edição do Global Media Monitoring Project (GMMP), lançada nesta quarta-feira (14/7), mostra que a baixa representação de mulheres na mídia levará pelo menos 67 anos para ser sanada, caso se mantenham as tendências atuais.

As conclusões do relatório se baseiam na análise de 30.172 reportagens publicadas em setembro passado em jornais, transmitidas em rádio e televisão e disseminadas em sites de notícias e através de tweets de mídia de notícias em mais de 100 países, incluindo o Brasil.

O estudo do GMMP 2020 é considerado a maior iniciativa de pesquisa do mundo sobre igualdade de gênero nas notícias e no jornalismo.

Veja aqui os destaques deste raio-X sobre a presença de mulheres na mídia, e posteriormente o detalhamento:

  • Proporção de fontes e personagens femininos pulou de 1% para 25% em cinco anos
  • 40% das matérias na mídia tradicional são protagonizadas por mulheres
  • Em cinco anos, presença de mulheres como fonte especializada subiu 7 p.p.
  • Na pandemia, protagonismo de personagens femininas sobre ciência e saúde caiu
  • Sites e jornais têm menor porcentagem de especialistas mulheres em notícias
Números melhoram, mas há longo caminho a percorrer

Os avanços de representatividade são flagrantes, embora o GMMP possa ser considerado uma mistura de boas e más notícias. Entre 2015 e 2020, ocorreu um avanço de um ponto para 25% na proporção de personagens e fontes que são mulheres.

Após uma década de estagnação, a visibilidade das mulheres como repórteres aumentou em três pontos percentuais no geral, nas notícias impressas e transmitidas (rádio, internet e TV). Atualmente, quatro em cada dez matérias na mídia tradicional são relatadas por mulheres, em comparação com 37% registrados desde 2005.

Maria Angeles Samperio, presidente do Conselho de Gênero da Federação Internacional de Jornalistas, elencou iniciativas que veículos de comunicação podem tomar para se tornarem ambientes mais igualitários:

“Embora haja um ligeiro progresso, a mídia deve fazer muito mais. Listas de mulheres especialistas, diretrizes sobre como adotar uma abordagem intersetorial na redação e monitoramento de conteúdo são algumas das muitas soluções.”

Jornalismo científico diminui presença de mulheres na pandemia

As vozes das mulheres como fontes especializadas aumentaram em 2020 — 7 pontos acima do constatado há cinco anos, representando em 2020 cerca de 24% dos profissionais consultados pela imprensa.

Embora a esmagadora maioria das notícias de ciência/saúde monitoradas pelas equipes do GMMP estivessem relacionadas à Covid-19, o relatório observou uma queda na voz e na visibilidade das mulheres nessas reportagens.

Apesar da participação de notícias de ciência/saúde tenha sido significativamente maior em 2020 em comparação com períodos anteriores (de 10% em 2005 para 17% atualmente), a presença das mulheres neste tópico diminuiu cinco pontos após um aumento constante entre 2000 e 2015.

Por exemplo, as mulheres representavam 27% dos especialistas em saúde que apareciam nas histórias de coronavírus, muito menos do que a média mundial de 46% dada nas estatísticas da força de trabalho.

Mulheres idosas têm destaque ínfimo

As mulheres também eram menos propensas a serem citadas como especialistas ou comentaristas. Os sites de notícias (23%) e jornais (24%) apresentaram a menor porcentagem de especialistas em notícias que são mulheres.

O estudo também destaca a ausência de mulheres mais velhas nas notícias, com apenas 3% das mulheres retratadas entre 65 e 79 anos, em comparação com 15% dos homens.

Sarah Macharia, coordenadora global do GMMP, disse:

“Está claro, a partir dos 25 anos de monitoramento da mídia, que a mudança é extremamente lenta. A mudança incremental é importante, por menor que seja, tanto quanto os grandes saltos à frente.”

Mulheres são menos retratadas e ouvidas em reportagens, aponta pesquisa. (Hadi Yazdi Aznaveh/Unsplash)
Ainda pouco destacada, violência contra mulheres cresceu, avalia pesquisa

Depois do movimento #MeToo, desencadeado por denúncias de assédio a atrizes de Hollywood, histórias sobre violência baseada no gênero (VBG) dificilmente chegam às principais notícias do dia e em 1% das vezes que o fazem, mulheres e meninas são gravemente sub-representadas.

Menos da metade das reportagens específicas de gênero realmente destacam questões de (des)igualdade de gênero, aponta o relatório.

Houve aumento da violência de gênero durante a pandemia, que segundo o estudo tem sido mal retratada nas notícias, sinalizando “um sério déficit na prestação de contas da mídia às mulheres”.

O GMMP é coordenado pelo WACC, uma ONG global que promove os direitos de comunicação para a justiça social, reunindo organizações de direitos das mulheres, grupos de base, associações de mídia, organizações religiosas, estudantes universitários e pesquisadores em todo o mundo.

Representação de mulheres na mídia levará 67 anos para ser equilibrada, diz relatório