Há 40 anos, posse da nova diretoria da ABI em SP


08/08/2020


Em 1980, a Folha de S. Paulo avisava a posse da nova diretoria da ABI, em SP, que contou com a presença do presidente Barbosa Lima Sobrinho

A ABI une cariocas e paulistas

por Wagner Kotsura

Em 8 de agosto de 1980 – há exatos 40 anos – a ABI reafirmou em São Paulo seu compromisso na luta pela completa redemocratização do Brasil. Naquele dia, com a presença de Barbosa Lima Sobrinho, tomou posse a nova diretoria da Representação paulista, sob a presidência do jornalista Ricardo Carvalho, na sequência de um grande movimento que havia tomado conta das redações alguns anos antes, e que merece ser lembrado. Fiz parte desta diretoria ao lado de Ana Maria Baccaro, DácioNitrini, Fausto Cupertino, José Eduardo de Faro Freire, Juca Kfouri, Marcelo Tulmann Neto, Selma Severo Lins e Silvia Campolim.

Em 1975, a eleição de Audálio Dantas acabou com 10 anos de domínio pelego no Sindicato dos Jornalistas. Uma vigorosa mobilização uniu companheiros de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, não apenas por direitos trabalhistas, mas igualmente por avanços no campo da democracia e do respeito aos Direitos Humanos, especialmente após o assassinato de Vladimir Herzog em outubro daquele ano.

Nós, em São Paulo, sentíamos a necessidade de reforçar essa ação política. E enxergávamos um caminho indispensável na ABI, concentrada no Rio desde sua fundação, em 1908. A articulação liderada por José Eduardo Faro Freire e a experiência de Marcelo Tulman Neto tornaram possível a aprovação dos órgãos dirigentes no Rio para a criação da Representação da ABI em São Paulo. Uma bem sucedida campanha de filiação criou as condições para a instalação da sede e a eleição, em 1978, da primeira Diretoria, sob a presidência do jornalista Alípio Viana Freire, numa composição pluralista necessária ao momento histórico.

O jornalista Ricardo Carvalho, da ABI/SP (de camisa branca), acompanha o presidente Barbosa Lima Sobrinho e senhora

Tempos difíceis, com a tumultuada abertura numa ditadura militar falida,o novo sindicalismo simbolizado pela greve dos metalúrgicos do ABC, a anistia concedida sob pressão social, o fim do bipartidarismo.

Naquele 8 de agosto havia ainda muito o que fazer – e foi feito. Alguns exemplos. No fim daquele mesmo mês, a escalada do terrorismo de direita foi além das bombas em bancas de revista que vendiam publicações de oposição, e deixou a marca da morte na sede da OAB no Rio, atingindo a secretária Lyda Monteiro da Silva.

Violência sem fim. Os inimigos da democracia chegaram ao horror de colocar em prática um plano para explodir o centro de eventos no Riocentro, na noite de 30 de abril de 1981, quando se realizava um espetáculo musical pelo Dia do Trabalho, com milhares de pessoas presentes.

A voz da ABI jamais se calou.

Nós, de São Paulo, que viajamos uma noite inteira pela Via Dutra para votar na chapa do inesquecível Barbosa Lima Sobrinho em 1978, recordamos com orgulho o papel que desempenhamos para manter elevado o nome da ABI, seus princípios e ideais. Continuamos presentes, com a mesma força de 40 anos atrás.

(Wagner Kotsura, jornalista, foi diretor da ABI/SP de 1978 a 1982).

 

Dom Paulo Evaristo Arns, que já era associado da ABI

A “segunda profissão” de um cardeal

Por Ricardo Carvalho

Todos os repórteres que durante o regime militar cobriam a Cúria Metropolita de São Paulo davam graças a Deus de ter o cardeal dom Paulo Evaristo Arns como titular. Isto significava a certeza que sempre tinha novidades, já que dom Paulo havia se tornado uma referência fundamental em defesa dos Direitos Humanos no Brasil e na América Latina. Ele tinha o saudável hábito de atender os jornalistas nas entrevistas coletivas, nas individuais e nas conversas em off, sempre com informações pertinentes. Ele chegou a confidenciar, por exemplo, que ficava sabendo das atrocidades e torturas no DOI-CODI, porque alguns soldados católicos que serviam no local procuravam por ele para contar…

Dom Paulo ficou no cargo de arcebispo por 28 anos. E mais. Sempre que possível e o censor deixava passar, ele publicava, às vezes sem assinar, seu artigo no jornal da Arquidiocese, O São Paulo, que viveu sob censura prévia por mais de 10 anos: foi o último a ser liberado, junto com o Movimento. Era o jeito dele, cardeal, exercer a sua “segunda profissão” – a de jornalista – como nós, que fazíamos a cobertura regularmente da Cúria,brincávamos com ele. Agora, se alguém duvidasse, ele não pestanejava e logo exibia, orgulhoso, a carteirinha da ABI.

Ele se tornou sócio-militante em 3 de maio de 1976 e no dia 30, durante a missa dominical na catedral, dom Paulo foi surpreendido pela presença do jornalistaDauroCavallaro, da ABI, que foi entregar pessoalmente a carteirinha ao cardeal. Quem sabe de todos estes detalhes é a Maria AngelaBorsoi, que foi secretária dele por 28 anos e hoje é responsável pela sala Cardeal Arns no Arquivo da Igreja, em São Paulo:

“Meu Deus, como me lembro disso… era uma das minhas rotinas providenciar o pagamento da anuidade pontualmente e me lembro também, com emoção, a satisfação dele a cada vez que recebia a preciosa carteirinha, que era renovada todos os anos”.