10/09/2022
Por José Reinaldo Carvalho, conselheiro da ABI e membro da Comissão de Relações Internacionais, em Brasil 247
Mais de 13 milhões e meio de chilenos foram às urnas no dia 4 de setembro, convocados para aprovar ou rejeitar o projeto de nova Carta Magna, redigido pela Convenção Constitucional. Por maioria esmagadora de 62 por cento, os votantes rejeitaram o projeto, o que está sendo considerado como uma vitória dos setores políticos de direita e extrema-direita que tinham sido derrotados na última eleição presidencial.
O titular de La Moneda mantém uma retórica, que pode expressar uma ilusão, de que poderá resolver o impasse constitucional por meio da instalação de nova convenção.
É preciso reconhecer que o país está em crise e que seu epicentro é o Palácio La Moneda, onde o titular não tem revelado capacidades de liderar as forças progressistas no país e enfrentar a direita. Há dúvidas de que Boric tenha condições políticas de reverter a curto prazo tamanho fracasso. A rejeição ao projeto constitucional foi antes de tudo um voto de reprovação e protesto contra seu governo.
São problemas que precisam ser enfrentados com frontalidade. Embora a Convenção Constitucional tenha se debruçado na redação de artigos que assegurem o Estado Social de Direito, predominou na elaboração da Carta uma visão fragmentadora da unidade popular e das lutas sociais, vistas como conquistas de grupos e minorias, instrumentalizados por organizações não governamentais ligadas ao imperialismo, designadamente, entre outras, Open Society, do magnata George Soros, e NED, o famigerado National Endowment for Democracy (Fundo Nacional para a Democracia), uma organização estadunidense voltada para a “promoção da democracia” em outros países, um instrumento de intervenções, golpes e das chamadas guerras híbridas.
A luta por uma nova Constituição democrática no Chile é indissociável do enfrentamento em profundidade dos problemas estruturais do país.