Por Igor Waltz*
24/06/2014
A Justiça britânica considerou Andy Coulson, ex-chefe de redação do tabloide News of the World, culpado de pelo menos uma acusação no julgamento das escutas telefônicas realizadas pelo jornal. O mesmo júri absolveu a outra acusada, Rebekah Brooks, de todas as acusações. A sentença foi anunciada nesta terça-feira, 24 de junho, após oito dias de deliberações no tribunal de Old Bailey, em Londres.
O caso foi deflagrado em 2011, após investigações da Scotland Yard apontarem que mais de 4 mil pessoas tenham tido seus telefones grampeados por repórteres do tabloide. O escândalo provocou o fechamento da publicação de Rupert Murdoch. Telefones e celulares foram interceptados entre 2000 e 2006, gerando uma “fonte” que rendeu manchetes ao tabloide dominical e que só secou quando, em 2007, um artigo sobre a família real levantou suspeitas.
Coulson, que assumiu como secretário de comunicação do primeiro-ministro David Cameron poucas semanas depois de deixar a chefia do News of the World, precisou renunciar ao cargo. O jornalista pode enfrentar uma pena de prisão. A sentença deverá ser comunicada em breve.
Pouco depois de anunciada a condenação, Cameron admitiu, em uma declaração gravada e divulgada na televisão britânica, que “foi uma decisão errada”. “Lamento muito tê-lo contratado, foi uma decisão errada, e sou muito claro quanto a isso”, afirmou.
Já Rebekah Brooks, que havia sido uma das conselheiras do magnata da comunicação Rupert Murdoch, foi absolvida das acusações de conspiração para interceptar chamadas telefônicas e para pagar funcionários por informações. Ela e o marido, Charlie Brooks, eram acusados ainda de obstrução da justiça, por terem alegadamente escondido da polícia documentos e computadores cruciais para a investigação do caso.
Além de Brooks e Coulson, outras pessoas foram julgadas. O editor Stuart Kuttner foi considerado culpado de conspiração com vista a acessar conversas telefônicas, enquanto a ex-assistente de Brooks, Cheryl Carter, e o ex-diretor de segurança da News International, Mark Hanna, foram absolvidos de obstrução à justiça. Ambos eram acusados de ter sonegado informação às autoridades.
O escândalo das escutas provocou um intenso debate no Reino Unido sobre as práticas de alguns jornalistas e dirigentes da imprensa britânica, a mais poderosa da Europa, e trouxe à luz as relações muitas vezes obscuras entre a mídia e a política. Perante a dimensão das revelações, o Governo britânico criou um órgão de regulação da imprensa que, no entanto, ainda não iniciou suas atividades.
*Com informações da EFE, France Presse e do jornal Público (Portugal).