O secretário-geral das Nações Unidas(ONU), Ban Ki-moon, recebeu nesta sexta-feira, 22, no Riocentro, documento preliminar com as propostas da sociedade civil na Rio+20 e uma carta de repúdio elaborados pelos participantes da Cúpula dos Povos. As propostas da Cúpula dos Povos foram discutidas nas plenárias realizadas no Aterro de Flamengo, que reuniram ONGs e ativistas do Brasil e do mundo.
Apenas cinco representantes da Cúpula dos Povos puderam falar durante o encontro, que teve acesso restrito à imprensa. Segundo os ativistas, Ban Ki-moon disse que a reunião foi uma das mais importantes do evento, e destacou o papel relevante da Cúpula dos Povos na conferência.
De acordo com Graziela Rodrigues, da Articulação de Mulheres Brasileiras do Comitê Organizador da Cúpula dos Povos, a reunião representou um avanço em termos de diálogo com as Nações Unidas.
—Basicamente, falamos que não queremos que as discussões da Rio+20 sejam dominadas pelas corporações, soberania alimentar, que a natureza não tem preço e não está à venda, do direitos à terra dos povos indígenas.
Cindy Wiesner, da Aliança Grassroots Global Justice, também conmentou o encontro:
—As respostas foram genéricas, assim como o documento final da Rio+20.
Grupos de empresas, instituições financeiras, organismos de desenvolvimento e instituições financeiras entregaram mais de 600 compromissos voluntários, como ações e metas para o desenvolvimento sustentável, que somam um montante de U$ 513 bilhões, segundo balanço apresentado pela ONU.
Representantes de ONGs brasileiras divulgaram uma carta de repúdio, assinada por 50 ativistas de todo o mundo, com críticas ao resultado da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. Para pressionar a retirada da menção à sociedade civil do documento final da Rio+20, ativistas abriram uma petição online apoiada por dezenas de entidades e ambientalistas, entre os quais Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, e Fabien Cousteau, neto do lendário oceanógrafo Jacques-Yves Costeau.
Tumulto
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, participou de um encontro no Riocentro, que contou com a presença de ministros estrangeiros da área ambiental, sobre a experiência do Brasil na redução do desmatamento. Os debates, contudo, foram interrompidos quando um ambientalista mostrou cartazes criticando o Código Florestal e obras como a Usina do Belo Monte.
Visivelmente irritada, a ministra gritou com os ativistas dando início a um princípio de tumulto, que culminou na antecipação do encerramento do encontro.
—Temos tentado um diálogo aberto com o governo sobre a construção da Usina de Belo Monte e sobre o retrocesso do Código Florestal, mas não existe um diálogo verdadeiro. Inúmeras vezes tentamos audiências, mas não fomos recebidos, afirmou a ambientalista Maíra Irigary, do Movimento Xingu Vivo para Sempre, presente ao evento.
Em outro momento, Izabella Teixeira anunciou a criação do Centro Mundial de Desenvolvimento Sustentável(Centro Rio+), com sede no Rio, que vai reunir órgãos nacionais e internacionais na discussão sobre o meio ambiente.
—Este é um legado concreto e tributo ao Rio de Janeiro. Na Rio-92 havia um debate que era exatamente o de criar a comissão de desenvolvimento sustentável no Rio, que não vingou. Mas, vinte anos depois, criamos o Centro Rio+. A ideia é manter acesso ao ideário e promover a continuidade dos Diálogos de Desenvolvimento Sustentável, inaugurado na Rio+20, que vai possibilitar o engajamento da sociedade.
Direito reprodutivo
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil(CNBB) classificou como “retrocesso” o rascunho zero em comparação aos resultados da Rio-92.
“A Rio+20 indica uma resposta a essas questões com a chamada economia verde. Se esta, em alguma medida, significa a privatização e a mercantilização dos bens naturais, como água, os solos, o ar, as energias e a biodiversidade, então ela é eticamente inaceitável, diz o documento.”
Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB, que coordenou os trabalhos sobre o tema durante reunião dos bispos e arcebispos, destacou que a própria medida provisória do Código Florestal, em análise no Congresso, mostra o “descuido” dos governantes quando o tema em questão é o meio ambiente.
O bispo apoiou a retirada do documento final da Rio+20 do ponto que tratava do direito reprodutivo das mulheres, alegando que o tema não faz parte da agenda ambiental. O veto do direito reprodutivo das mulheres foi feito pelos representantes do Vaticano presentes na Cúpula.
Já a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, chefe da delegação dos Estados Unidas na Rio+20, defendeu nesta sexta-feira, 22, a menção ao direito reprodutivo das mulheres no documento:
—Para atingirmos as nossas metas, temos que assegurar os direitos reprodutivos das mulheres. Os Estados Unidos vão continuar a trabalhar para assegurar que esses direitos sejam respeitados em acordos internacionais.
Em seu discurso, Hillary Clinton ressaltou a condução do Brasil na conferência:
—A declaração final que será assinada O Brasil prestou um grande serviço ao mundo ao nos hospedar e receber aqui. Este é um momento difícil, mas, graças à liderança brasileira, conseguimos nos reunir em torno de um documento que representa grande avanço para o desenvolvimento sustentável.
Hillary acrescentou que, apesar de haver discordâncias entre os países, há entendimento em áreas importantes:
—O resultado mais importante desta conferência é um exemplo de uma nova forma de pensar, que nos levará a modelos importantes para ações futuras.
A chanceler anunciou a destinação de U$ 20 milhões para o desenvolvimento de projetos de energia limpa na África.
Paraguai
A Cúpula dos Povos da Rio+20 aprovou nesta sexta-feira, 22, uma moção de apoio ao Presidente do Paraguai, Fernando Lugo, ameaçado de impeachment. Foi convocada uma vigília em frente ao consulado do Paraguai, na Praia de Botafogo, zonal sul do Rio.
—Apesar de estar respeitando os trâmites burocráticos dentro do Congresso paraguaio, o processo é suspeito pelo açodamento, como nunca aconteceu antes. Fizemos a moção de apoio para garantir a democracia na América Latina, disse Carlos Ribeiro, um dos integrantes da Cúpula dos Povos.
Sindicalistas brasileiros estão organizando uma viagem ao Paraguai neste sábado, dia 23, para tentar garantir a permanência de Lugo no cargo.
—Estamos percebendo que é um golpe o que está acontecendo no Paraguai, porque não está sendo respeitada a vontade do povo. Vamos fortalecer a luta dos trbalhadores paraguaios, disse Rosane Silva, secretária Nacional de Mulheres Trabalhadoras da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
*Com Agência Brasil, G1, O Globo.