Policial joga spray de pimenta em fotógrafa do ZH


13/09/2017


Tumulto após protestos contra e a favor de cancelamento de exposição em Porto Alegre (Foto: Evandro Leal/Estadão)

Uma repórter fotográfica do jornal Zero Hora foi atingida com spray de pimenta por um policial militar enquanto registraba, nesta terça (12), o protesto de pessoas contrárias e favoráveis à exposição Queermuseu, que foi cancelada pelo Santander Cultural após críticas no local e nas redes sociais. O ato terminou em briga e duas pessoas foram detidas.

De acordo com uma nota publicada pelo jornal, Isadora Neumann “fazia imagens da confusão entre manifestantes e Brigada Militar, quando um PM atirou o produto no rosto da jornalista”.

As imagens feitas pela repórter mostram o momento em que uma pessoa era detida pelos policiais, quando um policial se aproxima e solta um jato do spray contra ela. A lente da câmera fica coberta pelo produto.

Comandante diz que será feita análise técnica da ação

O comandante do 9º Batalhão da Brigada Militar, Eduardo Amorim, disse em entrevista ao G1 que a análise técnica da atuação do policial é feita em todos os casos em que a Tropa de Choque necessita entrar em ação.

Porém, salientou que não poderia fazer uma análise técnica do que aconteceu sem levar em conta o contexto no qual os policiais lidavam com uma situação na qual pedras eram atiradas contra eles.

“Quando meu pelotão estiver em operação de choque, tomando pedrada, não tem como visualizar nenhuma pessoa. É fácil analisar paradinho, mas não tem como identificar. Os objetos [que são atirados] vêm de tudo que é lugar. A análise técnica será feita, mas temos que mudar o foco de algumas pessoas que estão dizendo que ela foi atingida porque se tratava de uma jornalista”, justificou o comandante.

Amorim afirmou ainda que dois grupos estavam na praça, sendo que parte deles estava sem roupas em um ambiente onde circulam famílias e idosos. “Um grupo menor de pessoas se aproximou, e a Brigada viu isso e orientou esse grupo menor a não entrar na provocação. Mas todo mundo é adulto, e a Brigada afastou as pessoas do momento [em maior número], e um outro grupo veio para cima e jogou pedras”, relatou.

O grupo menor, de aproximadamente cinco pessoas, era composto por integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) e outros que se posicionaram contra a exposição. Eles se aproximaram do grupo maior, favorável à exposição, quando vaias começaram. Um tumulto se formou, evoluindo para os episódios de violência.

O Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul divulgou nota na qual “lamenta profundamente” que a categoria seja “mais uma vez, um dos alvos da violência desmedida da Brigada Militar”.

“Causa espanto qualquer apoio dado a ações policiais que ferem gravemente a liberdade de imprensa. É preciso olhar para o passado e não repetir os mesmos erros. Não há democracia sem imprensa livre”, finaliza a nota.

Os protestos simultâneos realizados ocorreram desde a tarde terça em frente ao Santander Cultural, no Centro de Porto Alegre. O ato terminou com briga entre manifestantes contrários e favoráveis ao cancelamento da exposição Queermuseu.

Por volta das 18h, algumas pessoas de grupos diferentes se insultaram e trocaram socos, e a Brigada Militar respondeu com gás lacrimogênio e bombas de efeito moral.

Em seguida, duas pessoas que protestavam contra o cancelamento da exposição foram presas por desacato e incitação à violência. De acordo com PMs que estavam no local, os manifestantes presos provocavam policiais e pediam que outros se juntassem às agressões verbais contra eles. Eles foram liberados após assinar um termo circunstanciado.

Encerramento da exposição

A exposição sobre a diversidade de expressão de gênero, que estava prevista para seguir até o dia 8 de outubro, foi encerrada no último domingo (10) após críticas nas redes sociais.

A mostra reunia mais de 270 obras, de 90 artistas plásticos. Algumas imagens foram consideradas ofensivas por pessoas que usaram as redes para denunciar o que consideraram um “incentivo à pedofilia, zoofilia e contra os bons costumes”.

O curador da mostra, Gaudêncio Fidelis, também foi ao protesto. No local, ainda antes dos tumultos, ele explicou que a obra que levantou críticas sobre pedofilia, da artista de Brasília Bia Leite, aborda o preconceito.

“É uma obra sobre bullying, sobre preconceito, sobre a agressão que os adolescentes e as crianças sofrem em todo o período inicial da sua vida. São duas pinturas. O fato de tomarem essas imagens de crianças e transformar isso em outra coisa, chamar de pedofilia, é uma distorção tão absurda, que só pode funcionar quando fora de contexto.”

Na segunda-feira (11), dois promotores do Ministério Público do Rio Grande do Sul foram até o Santander Cultural para visitar a exposição por conta das denúncias, mas o promotor Julio Almeida, no entanto, avaliou que não existe pedofilia.

“Verificamos as obras e não há pedofilia. O que existe são algumas imagens que podem caracterizar cenas de sexo explícito. Do ponto de vista criminal, não vi nada”, salientou, em entrevista ao G1.

Fonte: G1