Por Cláudia Souza*
30/10/2015
Decisão judicial proposta pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, impediu a circulação dos jornais “Bugün” e “Millet” e a transmissão dos canais de TV Bugün e Kanaltürk, de propriedade do grupo Koza-Ipek, acusado de fazer oposição ao governo.
Decisão judicial proposta pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, impediu a circulação dos jornais Bugün e Millet e a transmissão dos canais de TV Bugün e Kanaltürk, de propriedade do grupo Koza-Ipek, acusado pela promotoria da capital Ancara de financiar, recrutar e fazer propaganda a favor do imã Fethullah Gülen, opositor do presidente, e de liderar empresas classificadas pelo governo como “organizações terroristas”.
Fethullah Gülen, ex-aliado de Recep Tayyip Erdogan, após a explosão do escândalo de corrupção de 2013 que envolveu vários integrantes do governo. Erdogan acusa o religioso de um complô para derrubar o governo. Muitos simpatizantes de Gülen foram detidos desde então.
Na última quarta-feira, dia 28, a polícia invadiu o edifício-sede do grupo Koza-Ipek após o anúncio da decisão judicial. Os agentes prenderam jornalistas e utilizaram gás lacrimogênio e jatos d’água para dispersar os profissionais de imprensa que tentaram impedir a entrada da polícia e resistiam em deixar o local.
O chefe de redação da Bugün TV, Tarik Toros, que estava apresentando um programa ao vivo no momento da invasão, criticou a censura imposta pelo presidente da Turquia: “Caros telespectadores, não se surpreendam caso vejam policiais em nosso estúdio nos próximos minutos”.
De acordo com a AFP, o redator-chefe do jornal “Bugün”, Erhan Basyurt e mais dos funcionários do diário foram demitidos na quinta-feira, dia 29:
— Recebi uma notificação proibindo a impressão do jornal. A edição já estava indo para a prensa, contou Basyurt.
Eleições
O conflito entre o governo e a imprensa turca se intensificou com a proximidade das eleições, marcadas para o próximo domingo, dia 1º de novembro. O presidente turco, membro do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) pretende recuperar a maioria absoluta das cadeiras do Parlamento.
De acordo com dados da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a Turquia ocupa a 149ª posição entre os 180 países citados na classificação mundial da liberdade de imprensa. O país, que almeja integrar o bloco da União Europeia, é considerado pela UE uma região importante para a solução da crise migratória no continente.
Em relação à crise com a imprensa a União Europeia considerou “preocupante” a intervenção do governo turco nos veículos de comunicação ligados à oposição e pediu a Ancara que respeite a liberdade de imprensa.
A porta-voz da diplomacia europeia, Catherine Ray, considerou preocupante a decisão da justiça turca de nomear um administrador pró-governo como gestor do grupo Koza:
— A situação do grupo Koza-Ipek é preocupante e está sendo acompanhada de perto. Queremos reiterar a importância do respeito à lei e à liberdade de imprensa. A Turquia, como país candidato à adesão ao bloco, deve garantir o respeito aos direitos humanos, que inclui a liberdade de expressão. Vamos continuar apresentando o tema da liberdade às autoridades turcas, destacou Ray.
Os Estados Unidos também protestaram contra a censura aos veículos de comunicação imposta pelo governo turco:
— Continuamos pressionando as autoridades turcas para que suas ações respeitem os valores democráticos universais, incluindo a liberdade de imprensa e de reunião, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby.
*Fonte: AFP