Por Claudia Sanches
22/05/2015
O jornalista Petrônio Souza Gonçalves lança o seu terceiro livro, com imagens poéticas inusitadas, “Um Facho de Sol como Cachecol”. Composto por 231 poemas, os textos não têm título, o que é uma inovação na forma de composição. Cada poesia vem com o primeiro verso em destaque.
De acordo com de Luis Fernando Verissimo, o autor já tem uma expressão na literatura brasileira:
— Entre o lírico, o irônico, o insólito e o confessional viaja a poesia do Petrônio. Ele é realmente uma revelação.
Após a estreia dos títulos “Memórias da Casa Velha”, de contos, e “Adormecendo os Girassóis”, de poemas, Petrônio viaja nesse novo trabalho, pela temática de um homem preso ao seu tempo e pelas paisagens mineiras que o cercam, que ele carinhosamente chama de ‘as coisas do porão’.
O poema que abre o livro é dedicado ao grande amigo de Petrônio, o jornalista Sebastião Nery, em que o autor aborda a temática do tempo: “O tempo é mesmo um deus cruel…/ Crava em nossa memória/ A espada enferrujada das horas./ No rosto,/ O traço roto dos anos sem pincel./ Sem demora,/ Minuto a minuto,/ Nos devora./ Nos mastiga com a força do pensamento/ E nos cospe na sarjeta da eternidade”.
Na seção de máximas, encontramos uma poesia sobre o amor: “O amor é como um poema,/ Tem vida longa,/ Em frases pequenas”. Outros também compõem o livro, como: “Para arrumar a casa,/ É preciso afastar os móveis” ou “Eu sei,/ Depois esqueço./ Melhor a vida assim,/ Recomeço”.
Todas as poesias foram escritos nos últimos cinco anos. “Um Facho de Sol como Cachecol” tem o prefácio assinado pelo cronista e dramaturgo Alcione Araújo, grande amigo do escritor:
— Petrônio fantasiou e coreografou nossas surradas palavras para dizer ‘Um Facho de Sol como Cachecol’, de um jeito que jamais diríamos.
A capa da obra é assinada pelo cartunista Paulo Caruso, além de conter depoimentos de Fernando Morais.
Artur Xexéo lembra da singeleza nas “coisas simples do cotidiano” na obra do jornalista:
— Há uma delicadeza na poesia de Petrônio que a gente não vê muito por aí. Nela, a primavera tem sabor, as borboletas nascem em plantações, as madrugadas são música. É uma delicadeza mineira”.
O acadêmico Zuenir Ventura lembra aos versos sobre o tempo:
— Há na poesia do autor um tema recorrente que ele aborda com muita sensibilidade: o tempo, com sua passagem implacável e fugaz. É o tempo devorador de pessoas e coisas, capaz de ‘cravar em nossa memória a espada enferrujada das horas’, assim como pode ‘manchar com sua ferrugem os paralelepípedos quebrados das ladeiras de Ouro Preto’. Ao contrário, porém, da fugacidade do tempo, os versos que ele inspira neste livro se destinam a resistir, a permanecer.
O escritor e jornalista Petrônio mantém uma coluna semanal sobre política e cultura em mais de 40 jornais Brasil afora. Em 2005 ganhou o segundo lugar do Prêmio Nacional de Literatura “Vivaldi Moreira”, da Academia Mineira de Letras.
O lançamento do livro, que recebeu apoio cultural da Cenibra – Celulose Nipo Brasileira, está previsto para junho, e a obra do jornalista e escritor já marca o cenário literário mineiro pelo uso de uma simplicidade harmoniosa, com a leveza entre temas e imagens, cenários e poesia.
Vendas: http://www.boaviagemdistribuidora.com.br/Sinopse.aspx?id=111534
Contato com o autor: (31) 9239-2621
E-mail: petroniosouzagoncalves@gmail.com
Entrevista
Poesia que vem de Minas
ABI – Petrônio, o que o leitor pode encontrar neste seu livro novo?
Bom, a poesia é a síntese de nossa pobre vida diária. Uma síntese sentida e remoída, condensada em frases, palavras e versos. É o nosso universo exposto e traduzido no papel. Então, tem um pouco e muito de mim neste livro. Minhas crenças, meus sonhos, meus valores, emoções, minha visão de mundo, a minha forma de ver a vida e encarar nossa existência. Tudo isso está ali, devidamente pensado e sentindo, em cada página, em cada vírgula, em cada verso.
ABI – Você chega ao seu segundo livro de poemas recebendo elogios e críticas de escritores consagrados. Isso não te assusta?
Todo aquele que se propõe a escrever e publicar está sujeito a tudo isso, às críticas e aos elogios. Até agora tenho capitaneado boas críticas, e espontâneo depoimentos, o que é o coroamento de tudo aquilo que fiz para chegar até a publicação. Isso nos dá uma estranha sensação de vitória, de alcançar o objetivo, porque o fazer poético é muito, muito solitário e ingrato. É um universo só seu, intimo, e que você tem sempre a dúvida cruel se realmente conseguiu registrar ali o que havia pensado ou sentido. E tem aquela insegurança de que o que você escreveu não está tão bom assim. E como você coloca isso para as pessoas, para os amigos? Não tem jeito, entende? Então, o fazer poético é essa dúvida diária, essa eterna insegurança, que você só tem o retorno desejado quando você publica, quando você realmente se expõe, completamente. Aí quando você passa por isso tudo e ouve ou vê alguém que você não conhece te elogiar é a glória, a satisfação maior, a vitória. Neste caso não tenho medo da crítica, que seria o fracasso. O que vale mesmo é produzir e publicar, é se expor, mostrar realmente quem você é e o que você faz. Se as pessoas gostam ou não é o resultado, e eu o aceito com a maior tranquilidade do mundo, sem sofrimento ou pesar. Ou seja, estou sempre disposto a isso.
ABI – A sua poesia tem muita peculiaridade. Tem muitos cenários mineiros também. Como é isso para você?
A minha poesia vem do meu lugar, é o ar que eu respiro, a rua que ando, a esquina que vejo. A minha esquina é uma esquina mineira, brasileira, mas com um forte cheiro de fogão de lenha. Então tem a montanha em que o sol se põe por detrás, a curva que faz a vida do rio, a bruma das noites mágicas de Ouro Preto, o gosto do pão de queijo, o cheiro da chuva, os sonhos inconfidentes, as musicas cantadas nas esquinas do Brasil. Tudo isso me faz poeta, me faz escrever, descortinar o mundo e crer que viver ainda vale a pena. Mas nisso tudo tem um forte flerte, uma forte presença das coisas que li de Drummond, do universo roseano, do lirismo de Quintana, tem até dois poemas dedicados a ele no livro, sendo um, o Quintanear, sem a mesma profundidade dele, claro, mas com a mesma perspectiva, que é quase uma paráfrase, quando digo que: “Subíamos o mesmo caminho; ele com um peso nas costas, eu leve como passarinho”. Tem muito dessas delicadezas quintaneanas neste livro, que é sempre uma influência muito forte em minha vida. Agora eu sempre li e leio Fernando Pessoa, que foi quem mais glosou as metáforas na língua portuguesa, tem o Bandeira e suas andorinhas também. Digamos que tudo isso faz parte de minha vida e está inteira em minha poesia.
ABI – E como se deu a construção deste livro?
Ele vem sendo escrito nos últimos cinco anos, são ao todo 231 poemas escritos sem a mínima pretensão de se tornar livro e de ser lindo e apreciado. São escritos como um registro daquilo que senti, vivi, vi e ouvi. Tudo está ali. E cada um traz um momento, uma história, uma visão, um sentimento. O que posso te assegurar é que eles foram escritos com uma verdade infinita, como uma declaração do mais puro e profundo amor. Essa é a base da construção desta obra, o amor!
ABI – Você acredita em inspiração?
Claro. Ora, se não fosse a inspiração nós só teríamos grandes obras. Na obra de todo autor você sempre identifica sua melhor fase, ou seja, sua fase mais inspirada. E a inspiração vem junto com a transpiração. O equivoco é as pessoas pensarem que elas são antagônicas, separadas, distintas. Não! Elas se completam. E na hora da melhor transpiração de um autor vem a inspiração e o eleva… É quando ele toca a perfeição.
ABI – O seu livro tem a capa assinada pelo Paulo Caruso. Fale um pouco sobre o livro?
Bom, esse facho de sol ilumina minha vida inteira. É apenas uma parte de tudo que sou, a matinal, por assim dizer. O Paulo é um grande amigo, uma pessoa pela qual eu tenho verdadeira adoração. Poxa, se você soubesse da fidelidade dele com os amigos… então, pensei, esse título tem a cara do Paulo, vou convidá-lo para fazer a capa. Para surpresa minha, ele fez a capa com o maior zelo, carinho, atenção e consideração. Foi comovente. Me mandou a versão digitalizada pelo e-mail e a versão imprensa pelos Correios. Isso tudo na primeira hora. Aí pensei comigo: esse livro tem que ficar bom, tenho que fazer jus à capa do Paulo. Aí fui chamando os amigos, as pessoas que queria estar comigo tomando esse sol… Aí veio o Alcione Araújo, que assina o prefácio, meu amigo, que hoje está no céu. Ele fez um prefácio tão bonito, que fico triste só de lembrar de tudo. Ele só me tratava como poeta. Tenho muito para falar dele e da nossa amizade. Fomos bons amigos. Depois falei com o Zuenir, que é aquele anjo, um mineiro de fidalguia maior, viu a generosidade dele no texto que escreveu? Outro mineiro que está comigo é o Fernando Morais, que foi o primeiro autor que li inteiro, o livro Olga. O Fernando é o maior biógrafo deste país, esclarecido, carinhoso com os amigos e me deu a honra de ter seu depoimento na contracapa deste livro. Fico feliz por tudo e ainda mais por ser ele um atleticano devotado. Outro bom amigo que tem sua história em Minas é o Artur Xexéo, que fez um textinho tão mineiro, que ficou uma beleza. Xexéo é um grande jornalista, e o país inteiro reconhece isso. E depois não poderia faltar o Verissimo… poxa, sou leitor dele desde sempre e sempre nutri o desejo de conhecê-lo. Então sou fascinado por ele, e ele é gaúcho. Eu frequento o Rio Grande do Sul, tive duas namoradas gaúchas e tenho grandes amigos lá. Eu e o saudoso Moacyr Scliar passamos uma noite divagando sobre esta relação de mineiros e gaúchos, ao qual chamamos de estados irmãos. Escrevemos nos dois artigos sobre o mesmo tema. Belo Horizonte e Porto Alegre tem um trem juntas, uma onda, uma coisa que não se explica, mas se sente. E eu vivo isso tanto, que está no meu livro representada por um gaúcho da melhor cepa, e atleticano também. Então, todos esses amigos estão comigo neste livro, o que muito me honra, me orgulha, e eu dedico o livro a eles. A editora, que é de Santos, a Realejo Livros, tenho que destacar o cuidado que eles estão tendo com os lançamentos e a distribuição.
ABI – Para finalizar, como estão os lançamentos?
Estou aproveitando o momento para badalar o livro por aí. Faço lançamento em Belo Horizonte em junho, já comecei lançando por cidades mineiras, como Salinas, Divinópolis e Ipatinga. No interior de Minas tem ainda uma forte tradição literária, que chega a ser surpreendente. Laço aqui no Rio em Botafogo, acho que em agosto. Em São Paulo e Santos estão sendo acertados os lançamentos pela editora. Em Brasília vamos fazer uma noite mineira lá. Aí lanço ainda em Rondônia e Recife, são os locais que estão acertadas noites com este facho de sol como cachecol.