20/12/2016
Pesquisa realizada na Universidade de Coimbra conclui que 35,7% dos jornalistas entrevistados são alvo de pressões externas e aproximadamente um quarto afirma ser alvo de pressões da direção e da administração, segundo a agência Lusa.
A pesquisa, feita com uma amostra de 806 jornalistas, nota que mais de um terço dos entrevistados diz que já ter sido alvo de pressões externas no decorrer do seu trabalho, disse à agência Lusa o investigador responsável pelo estudo, João Miranda, que realiza uma tese de doutoramento na Universidade de Coimbra (UC) sobre a autorregulação profissional do jornalismo.
Apesar de uma maior evidência das pressões externas nas redações, 26,2% dos jornalistas que participaram do estudo dizem que também que já foram alvo de pressões da direção editorial e 23,8% de pressões da administração da empresa.
O pesquisador João Miranda fez um cruzamento de dados para perceber se havia alguma variação significativa em relação à idade, gênero ou vínculo laboral, concluindo que as pressões são “transversais aos diferentes setores do grupo profissional”. Apesar destes resultados, apenas cerca de 15% dos inquiridos discordam ou discordam totalmente com a ideia de “dispor de total liberdade na produção de conteúdos”, nota o estudo a que a agência Lusa teve acesso. Quase 90% dos jornalistas dizem cumprir os preceitos éticos e deontológicos inerentes ao exercício da profissão e a quase totalidade afirma que o seu trabalho nunca ou raramente é modificado sem a sua autorização.
Um quinto raramente sai da redação em reportagem
O inquérito, que também aborda as rotinas dos jornalistas, conclui que 2,7% dos inquiridos nunca contacta com fontes na redação de notícias e 10,7% raramente. As percentagens também são reduzidas quando é perguntado aos jornalistas se recorrem sempre ou muitas vezes apenas a notas de agência.
No entanto, cerca de 20,5% dos inquiridos raramente sai da redação e 3,7% nunca a abandona em reportagem. Essa tendência é corroborada pela hierarquia feita pelos jornalistas relativamente às metodologias que utilizam para contactar com as fontes. A principal metodologia é o contacto telefônico, seguido do contacto presencial, sendo que o contacto via ‘e-mail’ também se torna relevante, sobretudo quando os jornalistas elencam a sua segunda e terceira metodologia mais utilizada no contacto com as fontes. João Miranda ressalta ainda o fato de as redes sociais já serem a principal metodologia utilizada por 1,7% dos jornalistas inquiridos.
Na componente da autorregulação, a maioria dos jornalistas (76,4%) consideram fraco o grau de participação da profissão na Entidade Reguladora para a Comunicação Social e mais de metade considera igualmente fraco o grau de participação na Comissão da Carteira Profissional. Cerca de 70% dos entrevistados considera importante a criação de uma Ordem dos Jornalistas.