20/06/2021
Por Paulo Markun
Ricardo Carvalho faria 73 anos no próximo dia 3 de julho. Filho de um paraibano e de uma pernambucana, estudou no Colégio Marista e foi militante da Juventude Estudantil Católica. Cursou várias faculdades antes de trocar o curso de Relações Públicas pelo de Jornalismo, em São Paulo.Começou sua carreira na revista TV Guia, da editora Abril. Dali foi para a Folha de S. Paulo, onde se especializou na cobertura da igreja e dos temas de direitos humanos. Em 1976, na cobertura da reunião da CNBB, em Itaici, conheceu o dom Paulo Evaristo Arns. Ricardo orgulhava-se de ter publicado a primeira lista de desaparecidos políticos do Brasil, reproduzindo a carta entregue por dom Paulo ao presidente norte-americano Jimmy Carter.
Escreveu dois livros e dirigiu um documentário sobre o cardeal de São Paulo, Foi repórter no Jornal da República e na revista Istoé, antes de migrar para a televisão, onde foi editor-chefe do Globo repórter, apresentador do Jornal da Record, diretor de jornalismo da TV Cultura e o primeiro comentarista de sustentabilidade, no Jornal da Gazeta, entre outras funções.
Em 1978, foi um dos dez fundadores da Oboré, agência de comunicação dedicada ao mundo sindical. No ano seguinte, participou ativamente da greve dos jornalistas de São Paulo e ganhou seu primeiro prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos pela cobertura do Caso Galdino.
Em 1985, criou sua primeira produtora independente, a Argumento. Mais recentemente, comandou a TV Meio Ambiente, a primeira webTV brasileira dedicada ao tema.
Conhecido por todos como Ricardão, tinha um metro e noventa de altura e uma voz e uma risada inconfundíveis. Orgulhava-se de ser hiperativo, mas apresentava-se como repórter, rejeitando o títulos de escritor:
“Eu sou um jornalista que escreve. Sou basicamente um repórter. A reportagem é a razão de ser do jornalismo”.
No programa Diversidade em Ciência da Rádio USP, afirmou:
“Resgatar a memória é um exercício permanente meu. Eu tenho um nicho em que eu trabalho, que é a memória.”
Deixou vários livros, entre eles, “O Maestro”, biografia de João Carlos Martins, “O cardeal da resistência: as muitas vidas de Dom Paulo Evaristo Arns”, publicado pela Editora Instituto Vladimir Herzog, e “O cardeal e o repórter”, relançado pela Editora Terra Redonda, ganhador do Prêmio Vladimir Herzog em 2010. Dom Paulo foi tema ainda do documentário “Coragem, as muitas vidas do cardeal dom Paulo Evaristo Arns”, que acabara de disponibilizar na íntegra no Youtube.
Diretor da Associação Brasileira da Imprensa em São Paulo, estava finalizando a biografia do advogado e ex-ministro da Justiça José Carlos Dias.
Internado recentemente por um problema no pâncreas, Ricardo Carvalho morreu neste domingo, 20 de junho de 2021. Deixa uma filha, Julia Blasi Rodrigues de Carvalho.
Por Ricardo Kotscho, publicado no site UOL.
“Você está sabendo que o Ricardão morreu?”, perguntou-me ao telefone o amigo comum Dacio Nitrini. Não, eu não estava sabendo. Foi um choque, custei a acreditar. Ainda anteontem falamos sobre um debate que ele estava organizando sobre a vida e a obra de dom. Paulo Evaristo Arns e a sua relação com os jornalistas na época da ditadura. Queria prestar uma homenagem ao amigo no ano do centenário de seu nascimento. Não se queixou da saúde. Pois infelizmente era verdade: perdemos neste domingo, aos 73 anos, o jornalista, escritor e documentarista Ricardo Carvalho, o Ricardão, acima de tudo um grande ser humano, mais preocupado em ajudar os outros do que consigo mesmo.
Por isso mesmo, para não incomodar, não avisou os amigos quando, há duas semanas, foi internado no hospital da Prevent Senior com uma crise de pancreatite e teve problemas com o seu plano de saúde para fazer o tratamento. Sentindo-se melhor, foi para casa e não se queixou mais da saúde. Ricardão, de tanto se preocupar com os outros e o mundo, tornou-se um dos primeiros repórteres especializados em Direitos Humanos e defesa do Meio Ambiente, o que o fez ficar muito próximo do dom Paulo, sobre quem escreveu dois livros e produziu um documentário. . Nesta mesma época, anos 70 do século passado, nos tornamos muito amigos, irmãos de boteco, de sonhos e de fé na nossa profissão.
Depois de começar como repórter da Folha, Ricardão foi para a televisão, dirigiu o jornalismo da TV Cultura, trabalhou como editor chefe do Globo Repórter e do Bom dia São Paulo e a partir daí se dedicou a trabalhar com documentários. Em 1985, abriu sua própria editora, a Argumento, onde produziu e dirigiu programas de TV e documentários de resgate da memória nacional, como “Impressões do Brasil _ A imprensa brasileira através dos tempos”, “História da indústria no Brasil” e “Memória do meio ambiente”, tema também de vários vídeos.
Ricardo Carvalho é autor dos livros “O cardeal da resistência: as muitas vidas de Dom Paulo Evaristo Arns”, publicado pelo Instituto Vladimir Herzog, e “O cardeal e o repórter”, relançado este ano pela editora Terra Redonda, ganhador do prêmio Vladimir Herzog em 2010. Escreveu também uma biografia-reportagem sobre o pianista e maestro João Carlos Martins e estava terminando o livro sobre o jurista e ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, que eu não preciso nem ler porque ele já me contou tudo. O amigo era um apaixonado por tudo o que fazia. Nunca perdeu o entusiasmo de repórter iniciante. Cada trabalho que pegava encarava como se fosse o primeiro, o melhor e o último, mas nunca parou de fazer planos e projetos.
No ano passado, ele me arrastou para um deles, o programa de entrevistas “Ricardão & Ricardinho”, apelidado pelos inimigos de “Os Dinossauros”, que chegou a ir ao ar pela AllTV, do Alberto Luchetti, mas durou pouco porque não conseguimos patrocínio. A gente se divertia trabalhando. Só assim essa profissão vale a pena.
A pior coisa que tem neste ofício é escrever sobre a morte de um amigo, coisa que nunca aprendi a fazer, e mil vezes já prometi a mim mesmo que não faria de novo.
Dois anos atrás, abri uma exceção para escrever sobre Clóvis Rossi, o grande mestre de todos nós da geração 68. Ricardão soube da morte do meu velho parceiro de madrugada, mas esperou o dia amanhecer para me dar a notícia porque sabia que nós dois éramos também amigos-irmãos inseparáveis. Agora eu também não poderia deixar de escrever sobre essa figura rara, que se casou muitas vezes e era amigo de todas as ex-mulheres, passou por mil colégios e moradias, um cara que dedicava tempo e atenção às amizades, e não dava a menor importância às coisas materiais.
Morreu um sonhador com um coração onde cabia todo mundo. Quem vai me chamar agora para ir ao boteco da esquina fazer uma “reunião de pauta” ou falar mal dos nossos times? Vai com Deus, xará, descanse em paz. Vida que segue.
Por Eduardo Suplicy, vereador do PT -SP
Expresso à sua filha Júlia e a todos/as seus amigos/as jornalistas meus sentimentos e pesar pelo falecimento de nosso tão querido e exemplar jornalista, escritor, produtor, documentarista, Ricardo Carvalho, aos 73 anos, neste domingo.. O Ricardão trabalhou na “Folha de S. Paulo, “Jornal da República”, “Isto É “, “TV Cultura”, “TV Globo”, “TV Gazeta”. Escreveu excelente livro sobre Dom Paulo Evaristo Arns e o Maestro João Carlos Martins. diretor licenciado da Associação Brasikeira de Imprensa onde teve papel de destaque na defesa dos direitos Humanos, também como Conselheiro do Instituto Vladimir Herzog. Colaborou comigo diretamente ao dirigir a segunda fase de minha campanha para governador em 1986 pelo PT e em tantas campanhas em defesa dos direitos humanos e da democracia.
Por Vera Perfeito, conselheira e Diretora de Cultura da ABI
Na quinta-feira, dia 19 de junho, liguei para meu amigo Ricardão – como ele gostava de ser chamado – em São Paulo para dar notícias do nosso amigo Davit Chargel, o presidente do Conselho Deliberativo da ABI, que acabara de ser internado com Covid. Na véspera, interrompemos uma reunião de grupo – eu, ele, Davit, Vitor Iório e Bernardo Karam – para organização dos festejos do bicentenário da Independência, em Paquetá, onde Davit montou o Museu da Comunicação na casa que pertenceu a José Bonifácio, o Patriarca da Independência e o primeiro ecologista do Brasil como Ricardão ressaltava.
Ele estava preocupado com o Davit, como todos nós, mas continuava com seus planos de vir ao Rio, visitar a ilha e seguir adiante com as planilhas de comemorações. Disfarçava quando eu lhe perguntava a data da operação de vesícula e de outros problemas que sabia que tinha. Mas, estava longe de imaginar que seus problemas de saúde eram tão urgentes.
Como estranhei que não respondesse as minhas mensagens, entrei no whatsapp do Meio Ambiente que ele havia me colocado e não acreditei no que li: Ricardo faleceu. Consegui falar com uma pessoa dali – ex-enteada dele que o adorava e que foi ao hospital onde teve a terrível notícia – e não acreditei quando recebei a notícia. Até agora ainda estou meio zonza.
Mas vá na luz meu amigo porque o bom humor e sua risada ficarão para sempre. AJuju teve um tremendo pai. Beijos, amigo.
Por Lívia Ferrari, conselheira da ABI
Com profunda tristeza e perplexidade recebi a terrível notícia da morte do amigo Ricardo Carvalho. Parece tão irreal, inacreditável. Falei com ele na semana passada…. “A vida é um sopro”, dizia Oscar Niemeyer , que viveu 104 anos. Ricardo não chegou lá. Deixou todos nós atônitos. Morreu aos 72 – ou “sessenta mais doze”, como se referia, brincando com a idade. Nosso amigo, jornalista dos bons, tinha muitos projetos ainda a realizar. Ele era um turbilhão de ideias, de realizações, de criatividade.
Tive a sorte de conhecer Ricardo Carvalho. Pena que não pessoalmente – desejo que ele pretendia realizar em breve, pós vacinação, em encontro com os amigos cariocas, num bar qualquer do Rio. Esse dia, infelizmente, não chegou.
A força de sua presença e de nossa amizade ficou marcada, entre outros feitos, no site da ABI, que tanto se beneficiou com suas excelentes produções de matérias, artigos, fotos, entrevistas, como as da série, criada por ele, “Jornalistas em Quarentena”. Ricardo, orientado por sua grande competência, mandava todo material pronto, acabado, com texto final, chamada, título, sugestão de arte, tudo irretocável. Era só postar. E depois de publicado, ele já tinha na cabeça uma sacada nova, com sugestão de entrevistas e reportagens em diferentes áreas de interesse, da cultura, política, meio ambiente, direitos humanos, comportamento, esporte…
Mas da concepção da pauta até a realização dos trabalhos eram longas conversas por celular, recheadas com boas gargalhadas. Ricardo honrava sua origem pernambucana de bom conversador, contador de “causos” com humor e imaginação, com aquele vozeirão que fazia jus a seus quase 1metro e 90 de altura.
Reproduzo aqui, com muita dor, um dos diálogos que tivemos em 31 de maio, via whatsapp, sobre sua saúde:“Estou bem melhor… só com muito medo da dor voltar. E devo entrar na faca daqui uns dias… talvez tenha q operar. Algo em torno de 90% de chance de operar. Médicos sugerem tirar a vesícula para se livrar dela e poder voltar a, por exemplo, tomar o meu vinhozinho… viva a cirurgia!!!”
Mais adiante, Ricardo escrevia: “A minha vida está um pouco de cabeça para baixo. Assim que voltar a alguma normalidade eu tb volto para o site. E com prazer!! Bjs”.
E não deixou de registrar a alegria com o fato de sua filha Júlia ter tomado, em 2 de junho, a vacina de Covid-19. “A minha Juju vacinou hoje”.
Ricardo não teve tempo de concluir a matéria que preparava para o site da ABI sobre a 43º edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Uma de suas últimas contribuições foi na quinta-feira, dia 10, por ocasião da semana mundial do meio ambiente. Ao lado das jornalistas Cristina Serra, Zezé Sack e Vera Perfeito, ele participou de debate virtual sobre a Amazônia, no YouTube da ABI, que abordou o esquecimento a que foi relegado Genésio Ferreira que, quando tinha 15 anos, em 1990, foi a principal testemunha que levou para a cadeia os assassinos de Chico Mendes.
Tantos outros belos trabalhos jornalísticos foram interrompidos. Ricardo não está mais aqui para concluí-los com seu talento e entusiasmo.
Descanse em paz, meu amigo.
Por Andrea Penna, Diretora de Jornalismo da ABI
Ricardo Carvalho era um especialista em meio-ambiente, direitos humanos, esportes, saúde, história do jornalismo e vários outros campos do saber. Escreveu livros e artigos, e produziu centenas de vídeos, séries e documentários sobre todas essas especialidades. Jogava nas 11!
Quando soube que minha “praia” era a área da comunicação em saúde, ele de cara propôs que fizéssemos um programa sobre prevenção das doenças mais comuns no Brasil. Queria apresentar o projeto à Direção da Tv Cultura. Queria discutir também nesse futuro programa, os tratamentos com a cannabis medicinal, tema que tinha especial foco e conhecimento e com o qual fizemos um programa sensacional no canal da ABI (disponível no YouTube).
Ricardo deixa órfão, além dos familiares, uma legião de amigos e colegas, e também os parceiros dos inúmeros projetos. Perde o jornalismo, e uma tristeza infinita se abate em todos que com ele conviveram, mesmo de forma virtual, como eu. Conversamos pela última vez na 6a feira no início da tarde, quando trocamos ideias sobre o prêmio Vladimir Herzog e a matéria que ele me entregaria para postar no site da ABI na mesma 6a feira. Nao houve tempo! Ele passou mal nessa noite e foi internado , faleceu no domingo.
Ricardo, alegre, criativo e combativo, sempre lembrarei de você com muito carinho!
Por Magno Martins
Soube, há pouco, através do jornalista Hélio Doyle, com quem trabalhei no Jornal de Brasília, da morte do jornalista paulista Ricardo Carvalho, 72 anos, um baita marqueteiro. Já atuou por muito tempo em Pernambuco, importado pelo ex-governador Joaquim Francisco. Não foi Covid, ele já vinha doente há muito tempo.
Eu o conheci em Brasília quando Joaquim me convidou em 1990 para coordenar a área de Imprensa da sua campanha a governador. Alto, incisivo, brigão no bom sentido da guerra eleitoral, Ricardo construiu uma carreira bem sucedida em Pernambuco. Conduziu as campanhas de Joaquim para prefeito do Recife e governador, ambas vitoriosas. Fez uma dobradinha com Luiz Alberto Passos, mas nunca se entendeu com Roberto Viana, o então mais poderoso assessor de Joaquim.
Na campanha de 90, Ricardo foi protagonista de uma bela história. Sem ir a debates por estar bem folgado nas pesquisas, Joaquim começou a despencar na reta final com a exploração de Jarbas Vasconcelos, com quem polarizou, com a contrapropaganda na TV carimbado de fujão pelo adversário. Além de agressiva, a chamada era ilustrada por uma cadeira vazia.
Vendia a ideia de que Joaquim temia enfrentar Jarbas num debate. Deu certo. Num sábado, lembro como hoje, estávamos com Joaquim pelas ruas de Garanhuns quando chegou a notícia de que havia caído nas pesquisas e Jarbas ameaçava assumir a liderança. Era resultado da cadeira vazia, do apelido fujão, que estava se cristalizando nele.
Por sugestão de Ricardo Carvalho, que estava enfurnado no estúdio da propaganda eleitoral de Joaquim no Recife, toda agenda em Garanhuns e região foi suspensa. Voltamos voando, literalmente, para Recife. Joaquim, eu e mais dois assessores que cuidavam da logística da campanha.
Joaquim não tinha a menor noção da estratégia que adotaria para frear a queda nas pesquisas. Encontramos Ricardo num hotel do Recife já com a cartada nas mãos: Joaquim desafiar Jarbas para um debate, cara a cara, olho no olho. Mas como fazer esse confronto se a legislação eleitoral não permitia exclusão dos outros candidatos em debates?
Foi quando Ricardo matou a charada: o debate se daria durante o tempo do guia eleitoral na TV, resultado da soma do tempo de Joaquim com o de Jarbas, algo em torno de 50 minutos. A princípio, a Justiça Eleitoral não gostou da ideia, mas depois cedeu. O cara a cara foi realizado nos estúdios da TV Jornal e durou exatamente 50 minutos, mediado pelo jornalista José Mário Austregésilo, da TV Universitária.
Joaquim chegou com uma pasta amarela sem absolutamente nada dentro, vazia. Só para assustar Jarbas. Este, numa noite infeliz, gaguejou, mostrou enormes fragilidades diante de um Joaquim que rugia feito um leão.
Joaquim saiu da TV Jornal como vencedor do debate, houve Carnaval fora dos estúdios na rua, onde as militâncias acompanhavam o confronto num telão.
Joaquim reagiu nas pesquisas, ganhou de Jarbas no primeiro turno e ainda puxou o senador Marco Maciel.
O MAR DA GENTILEZA
Por Paulo Marcelo Sampaio
Já passa das oito e meia da manhã e ainda não dormi. A insônia tem um motivo, um triste motivo: Ricardo Carvalho.
Conheci Ricardão em São Paulo, numa cerimônia do Instituto Vladimir Herzog. Consultor do instituto, fazia o papel de mestre de cerimônia. E naquela noite em que se homenageava a jornalista Miriam Leitão, ele se desdobrava em atenções aos forasteiros do Rio de Janeiro: Miriam, Claudio Renato e eu. Era o mar da gentileza.
Daquele dia em diante, alimentamos uma amizade, com ligações por celular e encontros raríssimos. Contar histórias era o que fazia melhor. Mesmo à distância, dava pra perceber o brilho nos seus olhos quando falava de um projeto.
Nos últimos contatos, há mais ou menos oito meses, lhe falei sobre livros que garimpei num sebo. Um sobre dom Paulo Evaristo Arns, devidamente autografado (não revelei pra quem era o autógrafo, por motivos óbvios) e outro do Antonio Maria. “Que coincidência, Paulo. Ando pensando em fazer um documentário sobre ele. Eu até conheço uma filha dele, a Rita. Podíamos fazer isso juntos”, me convidou, generoso que era, preocupado com minha então recente demissão.
Porque Ricardo era assim. O problema dos outros era problema dele também.
O projeto sobre o autor de “Ninguém me ama” não seguiu adiante. Seria engraçado se tivesse acontecido. Porque, ao contrário da letra da música, todos amavam Ricardo Carvalho, todos queriam Ricardo Carvalho.
Neste domingo o mar da gentileza quebrou sua última onda.
Jornalista com J maiúsculo.
Por Dácio Nitrini
Caiu na área é pênalti !
futebol e política
uma ideia do Ricardão
Marcos Gomes é jornalista, membro da Comissão de Cultura e Lazer da ABI
No último fevereiro, dias antes do carnaval que não aconteceu, toca o telefone e, do outro lado da linha Ricardo Carvalho, diretor da ABI em São Paulo propõe:
– Tô gostando do ABI Esporte mas acho que podemos fazer um programa mais descontraído, com a cara do torcedor, pra bater papo, jogar conversa fora, como se estivéssemos na mesa do botequim, vamos falar de futebol e política.
Surpreendido com a iniciativa apenas mencionei uma preocupação.
– Ricardo, não tenho condições de produzir, você pode ajudar?
De bate pronto emendou:
– Deixa comigo vou chamar uns amigos.
Alguns dias depois recebo outra ligação do Ricardo confirmando os componentes da bancada:
– Anota aí: Cid Benjamin (Flamengo), Caco Schmitt (Gremio) e Carlos Monforte (Santos).
Torcedor fanático do Palmeiras, Carvalho trouxe também o nome da série, que seria exibida mensalmente, a partir de março: Caiu na área é pênalti ! Futebol e política.
O primeiro episódio foi ao ar na segunda-feira, 23, um dia bastante agitado em Brasília, com a decisão do presidente Bolsonaro de demitir o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.
O segundo programa exibido no dia 19 de abril, teve como tema central a notícia que abalou o “planeta futebol”, a criação da Superliga, formada por 12 clubes bilionários como Real Madrid, Barcelona, Milan, Manchester City, Manchester United, Liverpool, entre outros. Foi o dia que ardeu bastante a orelha do presidente do Real Madrid, Florentino Peres, um dos autores da ideia, dias depois bombardeada pelos torcedores desses times.
Em maio o Caiu na área é pênalti debateu a reta final dos campeonatos estaduais e a convocação do general Pazuello para depor na CPI da Covid -19. Ricardão já estava desconfiado do insucesso do Palmeiras e, dessa vez quem sofreu foi a orelha do técnico português Abel Ferreira. O campeão foi o São Paulo.
No último dia 14, a última participação do conselheiro Ricardo Carvalho, no ABI esporte, teve como destaque a realização da Copa América no Brasil. Doeu a orelha do Bolsonaro.
Ricardo Carvalho realizou também importantes trabalhos em defesa do meio ambiente. Descanse em paz.