Por Cláudia Souza*
31/10/2014
A família do correspondente do jornal “Washington Post” em Teerã, o iraniano-americano Jason Rezaian, 38 anos, pediu sua libertação nesta quinta-feira, dia 30, data em que completam cem dias de sua detenção. A carta aberta assinada por Mary Breme Rezaian e Ali Rezaian, mãe e irmão de Rezaian, respectivamente, foi divulgada pelo “Post”. No documento os parentes relatam que o jornalista está recluso em uma cela de isolamento na prisão de Evin, localizada ao norte de Teerã.
— Durante mais de dez anos Jason escreveu textos justos e honestos sobre a vida no Irã e trabalhou duro para desarmar os conceitos errôneos que outras partes do mundo têm sobre o país. Meu filho está detido há mais de cem dias sem saber quais são as acusações que recaem sobre ele. Por que silenciam sua voz? Se o Irã tem alguma prova contra Jason, por que não o comunicaram? Por que não o acusam e permitem que ele contrate um advogado para se defender?, questiona Mary Breme Rezaian.
A mãe do repórter lamentou o fato de não ter notícias do filho há mais de três meses e afirmou que o caso prejudica a imagem do país:
— Como Jason sofre de pressão alta, estou muito preocupada com seu estado de saúde. Ele é um jornalista íntegro, uma pessoa amável e decente. Que mensagem o Irã está enviando ao um mundo, que já desconfia tanto deste país? Esta prolongada detenção prejudica Jason, sua família e também o Irã, país que merecia uma imagem melhor do que esta.
Jason Rezaian foi detido em 22 de julho, junto com a esposa Yeganesh Salehi, correspondente do jornal dos Emirados Árabes, “The National Yeganeh Salehi”. Neste mesmo dia foram presos uma fotógrafa freelancer, que trabalha para o “Washington Post”, e o marido. Ambos pediram sigilo sobre suas identidades.
Os dois casais eles têm dupla nacionalidade iraniana e americana (o que o Irã não reconhece) exceto Yeganesh Salehi, que aguarda os trâmites para obter permissão de residência e trabalho nos Estados Unidos, país considerado inimigo pelo Irã, e com o qual não mantém relações diplomáticas. Como o Irã não reconhece a dupla nacionalidade, não permitiu aos detidos o acesso à assistência consular.
A fotógrafa freelancer e seu marido, que pediram para não serem identificados, foram libertados dias depois, enquanto Yeganesh Salehi foi solta há três semanas, após pagar fiança. Ela não fez declarações sobre o assunto. As autoridades iranianas não informaram os motivos das detenções, mas vários meios de comunicação ultraconservadores julgam tratar-se de espionagem.
De acordo com dados da ONG Repórteres Sem Fronteiras(RSF), 65 jornalistas e blogueiros estão detidos no Irã atualmente, a maioria acusada de delitos como “atentado contra a segurança nacional”, “incitar propaganda contra o Estado”, “divulgar falsidades” e “perturbar a ordem pública”.
*Com informações da agência EFE.