Palmas para “João Saldanha”


05/04/2012


 
Uma prolongada e calorosa salva de palmas saudou nesta terça-feira, 3 de abril, no Cine Odeon Petrobras, no Rio, a apresentação do documentário “João Saldanha”, de André Iki Siqueira e Beto Macedo, que mostra a densa e polêmica trajetória do jornalista, comentarista esportivo de jornal, rádio e televisão, técnico da Seleção Brasileira de futebol em 1969 e do Botafogo de Futebol Regatas em 1957 e militante do Partido Comunista Brasileiro-PCB, a cuja direção nacional pertenceu. Os aplausos finais repetiram o que sucedeu durante inúmeros momentos da projeção, em que o público, esbaldando-se de rir diante de falas espirituosas ou entusiasmado com declarações contundentes de Saldanha, aplaudiu intensamente o documentário.
 
O filme acompanha o percurso de Saldanha desde o Rio Grande do Sul, onde nasceu, até o seu falecimento durante a Copa do Mundo de 1990, na Itália, para onde, já muito doente, embarcou numa cadeira de rodas.  Seu médico advertira que ele se encontrava diante de uma opção dificil: ir à Copa, com risco de morrer,  ou morrer aqui no  Brasil, dentro de três meses. Apaixonado por futebol e preocupado em cumprir  a seus compromissos profissionais, no “Jornal do Brasil “ e na Rede Globo de Televisão, Saldanha preferiu viajar. Voltou morto.
 
Produzido por Roberto Berliner e Alxandre Niemeyer, este do famoso Canal 100, cujas imagens ilustram muitos momentos do documentário,  com produção executiva de Rodrigo Letier e Lorena Bondarovsky,  coordenação de Paola Vieira,  direção de fotografia e câmara de Maurizio D’Atri, montagem de Pedro Bronz   e trilha sonora de Sacha Amback, “João Saldanha”  revela aspectos pouco conhecidos da biografia dele, como sua participação como assistente  político do PCB na guerrilha de Porecatu, interior do Paraná, onde, no começo dos anos 1950,  camponeses sem terras enfrentaram com armas os jagunços dos latifundiários e a Polícia do então Governador Moisés Lupion, e também  na greve geral dos trabalhadores do  Estado de São Paulo em 1953.  
Muito querido e admirado pelos dirigentes sindicais, o jovem Saldanha, bem apessoado e  galante, propôs casamento a uma das líderes da greve, Maria Sallas, mas esta prudentemente recusou a proposta: casar, somente de papel passado. Grande namorador, Saldanha casou cinco vezes. Suas ex-mulheres, assim como as suas três filhas e um filho, prestam belos depoimentos sobre ele.
 
Embora sem se limitar à atividade de Saldanha no campo do esporte, o documentário  contém cenas importantes de sua atuação como técnico do Botafogo, campeão carioca de 1957 sob o  seu comando, e como técnico da Seleção Brasileira de futebol,  que ele dirigiu nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970 no México, levando-a à classificação.  É mostrada em seguida a crise que culminou com  a sua demissão, diante de sua recusa em convocar o jogador Dario, então centro-avante do Clube Atlético Mineiro, como queria o ditador General Emílio Gasrrastazu Médici. O público aplaude com vigor quando o filme mostra a reação de Saldanha numa entrevista na época: “Eu e o Presidente temos várias coisas em comum: ele é gaúcho, como eu, ele é gremista, eu também sou, e ele gosta de futebol, como eu. Mas o Presidente escala o seu Ministério e eu escalo a minha Seleção”.   
 
Nesse ponto, de forma objetiva, sem induzir o espectador a essa conclusão, “João Saldanha” mostra como a imprensa, servil à ditadura militar, alimentou a crise que  precederia a sua substituição pelo técnico Mário Jorge Lobo Zagalo, que logo convocaria Dario, como queria o ditador  Médici. Mostra também, sem comentários,  a sabujice diante da ditadura dos dirigentes da então denominada CBF (Confederação Brasileira de Futebol), liderados pelo seu Presidente, João Havelange.
 
Ágil e num ritmo que prende o espectador, “João Saldanha” contém depoimentos de 57 pessoas entrevistadas sobre ele, várias delas apresentadas em atraentes  flashes sob o título “Históras do João”. Entre esses depoimentos estão os de 20 jornalistas, comunicadores de rádio e televisão ou publicitários:  Alberto Helena Júnior, Alberto Léo, Armênio Guedes, Carlos Alberto Vizeu, Doalcei Camargo, Ivan Alves Filho, Jaguar, José Carlos Araújo, José Machado, Juca Kfouri, Luiz Mário Gazzaneo, Luiz Mendes, Marcelo Rezende, Maurício Azêdo, Paulo Stein, Sérgio Cabral, Villas-Bôas Corrêa e Washington Rodrigues, citados aqui em ordem alfabética e  não na ordem em que aparecem no documentário.
 
Produzido pela TVZero em co-produção com o Esporte Interativo e o Canal 100, “João Saldanha” será exibido no canal Esporte Interativo da internet e, em julho, mês do nascimento de João, no Canal Brasil. Será lançado então o dvd do filme.
 
Após os aplausos na sessão no Odeon, o diretor André Siqueira admitiu que os produtores do filme  poderão examinar a possibilidade de sua exibição também na rede comercial de cinemas.