14/06/2006
Rodrigo Caixeta
19/05/2006
A paixão de Daniel Augusto Jr. pela fotografia de futebol começou em 1997, quando ele trabalhava na sucursal de São Paulo do Lance!. Antes, porém, já tinha certa experiência na cobertura de esportes para a revista Placar e os jornais Folha de São Paulo e O Globo. Infelizmente, ainda não cobriu uma Copa do Mundo — “mas fotografei mais da metade dos jogos eliminatórios para o Mundial de 2006”, orgulha-se. Hoje, a maior parte das imagens que compõem seu arquivo pessoal é de coberturas esportivas.
O início na fotografia, no entanto, data de 1977, quando, por falta de opção, foi trabalhar como assistente de estúdio do fotógrafo Rômulo Fialdini e, posteriormente, de Jean Solari, francês que adotou o Brasil na década de 50 e que havia trabalhado nas revistas O Cruzeiro e Realidade. Daniel apaixonou-se pela fotografia e acabou sendo convidado para ser sócio da Agência F4, cujo estatuto era copiado da Magnum, de Cartier-Bresson:
— Fomos a primeira agência/cooperativa independente do Brasil a lutar por uma tabela de preços mínimos para o trabalho dos repórteres-fotográficos e pelo crédito obrigatório nas fotos e também a usar a Cessão de Direitos Autorais — baseada na lei 5.988, depois modificada pela 9.610, a Lei do Direito Autoral — para cobrar por nossos trabalhos.
Apesar de toda essa luta, 70% da vida profissional de Daniel são feitos de trabalhos como freelancer fixo, “uma idiossincrasia do mercado”, em revistas como Veja e Placar. O grande furo do fotógrafo foi a cobertura do enterro de Ayrton Senna, quando trabalhava na sucursal de São Paulo do Globo e foi o único profissional do mundo a tirar fotos ao lado do caixão:
— Só poderiam entrar no sepultamento amigos e parentes. Toda a imprensa do planeta teria que ficar de fora, por causa do pequeno espaço para trabalhar. Fui ajudado por um repórter do jornal e simulamos uma entrevista, em inglês, até passarmos pelos seguranças, que ficaram confusos e devem ter achado que eu era alguém importante. Entrei apenas com uma pequena câmera amadora e fotografei o exato momento em que o caixão descia à sepultura. Escondi o primeiro filme na cueca e parti para o segundo rolo com cenas exclusivas, usadas em outra edição. Foi, com certeza, a grande matéria da minha vida. Deu capa no dia seguinte, com a foto ocupando metade da página.
Outra capa de Daniel foi na cobertura presidencial de 1994. Fernando Henrique havia sido eleito no domingo e, na segunda-feira, o fotógrafo partiu com um repórter para o Pantanal, porque tinham informação de que ele tinha ido para lá descansar e pescar:
— Viajamos o dia todo pelo Rio Paraguai e, à noite, num breu que dava medo, me aparece o Presidente de salva-vidas no pescoço e bermuda de florzinha. Não sabia se ria ou se chorava pelo ridículo da cena. Claro que, no dia seguinte, foi primeira página do Globo.
Para Daniel, fotojornalismo hot news não existe sem câmera digital, pois hoje o repórter-fotográfico vai de uma pauta a outra, editando e transmitindo de dentro do carro, via telefone celular:
— Agora, nesta Copa do Mundo, com certeza o courier coletor de filmes já não vai existir; ele vai buscar cartões de memória. À medida que as fotos forem feitas durante o jogo, elas devem ser transmitidas para uma central da agência ou veículo dentro do estádio e, de lá, editadas, tratadas e transmitidas para o mundo todo, quase simultaneamente.
Fotojornalista até a alma, ele afirma:
— Para mim, não têm nenhum atrativo, nenhuma graça essas fotos feitas com a linha do horizonte torta, tentando exalar modernidade. Quando eu não tenho nenhuma idéia para fazer um retrato, busco o básico: boa luz, no foco, bem enquadrada. O mais simples possível é sempre o mais difícil. Por isso só existiu um Charles Chaplin.
Segundo Daniel, um grave problema da maioria das redações brasileiras é a falta de um editor de Fotografia:
— Vivemos a ditadura da arte e é horrível para um repórter-fotográfico ver sua foto usada em uma arte. A boa foto vale por si só. Como não existe a figura do editor que pauta o fotógrafo, conversa com ele antes de sair para a rua e vai com a sua edição brigar pelo espaço, o Diretor de Arte acaba fazendo este trabalho. E a grande maioria não entende nada de fotografia. Todo mundo se acha um pouco fotógrafo porque tem um celular de 8 megapixels! Um horror.
Outro problema para os repórteres-fotográficos brasileiros, diz ele, é o fato de as agências internacionais de notícias venderem pacotes mensais de fotos para as redações do mundo todo:
—Todas as publicações ficam com a mesma cara, nenhuma tem um diferencial, e, assim, inviabilizam-se investimentos na fotografia nacional. Uma foto da agência “x” pode ser a capa do concorrente, porque ambos assinam e recebem o mesmo pacote de fotos. Com o enxugamento das redações, perdemos muitas vagas também na fotografia e a perda do editor é irreparável.
Atualmente, entre os trabalhos como freelancer, Daniel Augusto Jr. faz o site do Corinthians e estuda a publicação de um livro com fotos de treinos e jogos:
— Vou reunir imagens interessantes que não cabem nos jornais em uma cobertura diária, mas vão bem em livros. É difícil lançar um livro no Brasil, mas vou correr atrás do meu sonho.
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