27/07/2020
Ao explicar as razões pelas quais as empresas chinesas de alta tecnologia (especialmente a Huawei e o aplicativo Tik Tok) são perseguidos pelo governo norte-americano, o cônsul-geral da China no Rio de Janeiro, Yan Li, foi direto ao ponto: “Os Estados Unidos reagem como bandidos nesta área”.
A sinceridade da resposta do diplomata surpreendeu os dez jornalistas convidados para uma teleconferência, na última quinta-feira (dia 22/07). O uso de um adjetivo tão forte tinha uma razão de ser. No dia anterior a esta entrevista aqui no Rio, o presidente Donald Trump determinou o fechamento e a expulsão de 72 funcionários do consulado chinês, na cidade Houston, no Texas. Na mesma semana, ainda, o governo francês deu um prazo de oito anos para que as empresas de telefonia que atuam naquele país se desfizessem de tecnologia comprada da Huawei.
O Sr. Li explicou que a Huawei desenvolveu o sistema mais robusto do mundo para a transmissão de telefonia celular da quinta geração – 5-G. Suas concorrentes diretas, a finlandesa Nokia e sueca Ericsson ainda não atingiram o patamar de confiabilidade dos chineses. O mesmo acontece com empresas americanas e canadenses.
“Como não conseguiram ainda alcançar o nível de eficiência dos equipamentos da Huawei, tentam desmerecê-los alegando que através deles poderíamos vir a controlar os dados de usuários de telefonia no mundo todo. A Huawei é a única que assina termo de confidencialidade com os seus clientes. Coisa que as companhias americanas não fazem”, argumentou o cônsul-geral.
Laboratório de mídia
A Associação Brasileira de Imprensa – ABI – também foi convidada para participar deste evento promovido pelo consulado. Esteve representada pelo diretor Arnaldo César.
Há mais de um ano, a atual diretoria da ABI vem mantendo contato com a representação chinesa no Rio para o desenvolvimento de um projeto conjunto. Por iniciativa do então conselheiro Jesus Chediak (falecido, recentemente, em decorrência do coronavírus), negocia-se a montagem de um laboratório de mídia digital, num dos espaços vagos do prédio-sede, no Centro do Rio.
O projeto elaborado pelo conselheiro Arnaldo César e apresentado ao cônsul comercial, Xu Yuansheng, destina-se à qualificação profissional de jornalistas brasileiros desempregados dispostos a enfrentar novos desafios no mundo digital. O laboratório atuaria também como uma incubadora de “startups” para a produção de conteúdos a serem comercializados tanto no mercado brasileiro como no chinês.
Numa conversa que se prolongou por quase três horas, o Sr. Li também discorreu sobre as relações do seu país com o Brasil. Revelou que apesar da pandemia e da retração da economia mundial a balança comercial entre as duas nações não “recuou um centavo sequer”. E, que apesar de todos os ataques feitos pelos adeptos do atual governo brasileiro, Pequim continua firme no propósito de construírem alianças duradouras e autossustentadas com Brasília.