Um dos mais destacados repórteres-fotográficos do País, cujo currículo inclui passagem como fotógrafo e editor pelos jornais O Globo, Última Hora — onde começou como laboratorista — e JB, Orlando Brito nasceu em Minas Gerais, em 1950, e chegou a Brasília antes mesmo de sua inauguração, iniciando lá sua carreira, aos 15 anos de idade.
Dono de invejável portfólio, em que se encontram registrados alguns dos mais importantes episódios da política brasileira, Brito acha que há uma certa ansiedade dos colegas que fazem atualmente cobertura do Congresso e do Palácio do Planalto:
— Fotógrafos que cobrem o Poder têm a preocupação de fazer retratos que se pareçam com cada momento da política. Eu, particularmente, sempre digo que uma foto jornalística deve ser a alma do fato que a gerou.
Ele diz ainda que a verdadeira função do fotojornalismo é narrar o fato com imagens,descrever para os leitores o desenrolar de um acontecimento,“cada qual com sua característica de narrativa: repórteres escolhem palavras, adjetivos, verbos; fotógrafos escolhem ângulos, objetivas,distâncias etc.”. Mesmo com todos os “poréns ”, Brito acha que o fotojornalismo no Brasil evoluiu muito, a ponto de ajudar a mudar o formato das publicações:
— Houve um tempo em que as fotografias, muitas vezes,eram usadas apenas para embelezar o trabalho de diagramadores e dar fama de leveza a alguns editores. Fotografias serviam para ilustrar textos; agora, textos ilustram fotos. O leitor também descobriu a objetividade de informar-se com imagens, gostou da precisão e da liberdade de aproximar-se dos acontecimentos através das fotos, que adquiriram linguagem própria.
Hoje um jornal inteligente não pode prescindir da informação fotográfica. Questionado sobre a foto mais marcante, Orlando Brito destaca o trabalho de um antigo colega e professor:
— Ainda me lembro do dia em que vi pela primeira vez a foto de Jânio Quadros com os pés trocados, feita em 1961 pelo Erno Schneider. Aliás, devo ao mestre Erno minha gratidão de aluno.
Autor das imagens que se tornaram ícones da imprensa na revista Veja — onde trabalhou de 1982 a 1998 e produziu 113 capas —, dirigiu por três anos a sucursal de Caras em Brasília,onde agora mantém a agência de foto-notícias Obrito News.
Colecionador de troféus, Orlando Brito ganhou o World Press Photo do Museu Van Gogh, de Amsterdã, em 1979; dez vezes o Prêmio Abril de Fotografia; e os Prêmios de Aquisição da Primeira Bienal de Fotografia do Masp (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e da Bienal Internacional de Fotografia de Curitiba, além da Bolsa de Fotografia da Fundação Vitae, em 1991. Autor de três livros — Perfil do poder, Senhoras e senhores e Poder, glória e solidão —, tem fotos publica das também na Coleção Pirelli, do Masp, no acervo próprio do Museu e em várias galerias de arte brasileiras. No exterior, teve trabalhos exibidos numa mostra no Museu Georges Pompidou, em Paris, no projeto Brèsil des Bresiliens.
-
-
Fernando Collor era candidato a Presidente da República, em 1989. Veja encarregou-me de cobrir a campanha do então governador de Alagoas. Durante uma entrevista de Collor a uma emissora de TV e deparei-me com esta cena, que representava precisamente a sua imagem de marqueteiro: um jovem com cabelo de franja, camisa cor-de-rosa e gravata frouxa no pescoço. Sobre sua mesa, uma estátua de Nossa Senhora, representando a religiosidade do candidato. No retrato da própria esposa, sua preocupação com a família. O frasco de guaraná em pó, para aludir a energia e a forma física. O punhado de canetas, a agilidade para enfrentar a burocracia. Os biscoitos de maizena, a alusão à alimentação popular. O charuto cubano, a presença da aristocracia. E, por fim, um livro Como Se Faz Um Presidente Da República, de um autor americano, era a presença viva do marketing.
-
-
Em 25 de abril de 1984, o parlamento brasileiro deixava de aprovar o projeto Diretas Já, que adotaria eleições com a participação do povo para presidente. Assim como muitos coleguinhas de outros jornais e revistas, eu passei o dia envolvido naquela importante e extenuante cobertura. Ao fim da sessão, já bem tarde da noite, saí para voltar à redação de Veja. Foi quando me deparei com a cena que rendeu uma fotografia mais significa que todas aquelas que eu havia feito durante 15 horas de trabalho: os militares rondando o Congresso Nacional. Entendi na hora que o vulto dos soldados representavam o quanto era sombrio aquele momento.
-
-
Em 1986, eu tive que fotografar o Presidente José Sarney para ilustrar a entrevista das páginas amarelas de Veja. Disse ao presidente que para ilustrar algumas matérias de revista era comum que personalidades fizessem pose para os leitores. E mais, que eu havia visitado uma exposição em Nova Iorque, cujos personagens eram grandes nomes da história política internacional em poses descontraídas, como Charles De Gaulle, John Kennedy, Winston Churchill, Mahatma Ghandi, Juan Perón. Ele concordou mas eu só não disse ao presidente que a exposição que eu disse ter visitado jamais existiu.
-
-
Esta foto foi feita numa época em que, praticamente, toda a América Latina era dominada por ditaduras militares. Além de Brasil e Chile, o Uruguai, o Paraguai, a Argentina, a Bolívia, o Peru e a Colômbia também tinham generais sentados na cadeira presidencial. Eu trabalhava em O Globo e fui a Santiago cobrir a visita do general João Figueiredo ao também general Augusto Pinochet. Entre tantas fotos que a viagem rendeu, não me esqueci daquela em que os presidentes brasileiro e chileno desfilam em uma carruagem da cavalaria.
-
-
Num almoço no Clube da Aeronáutica, em Brasília, o Presidente Ernesto Geisel explicava aos seus colegas generais por que escolheu João Figueiredo para sucedê-lo no Palácio do Planalto. Era um pronunciamento aguardado com ansiedade, pois muita gente esperava que Geisel anunciaria o nome de um civil. Os jornalistas foram colocados num lugar aparentemente inadequado para cobrir o evento — contra a luz. Ótimo, adorei. Pois, foi o único ponto de vista que tive para mostrar a decisão tida como obscura do general anunciando outro general para ser presidente.
-
-
Com o Diretas Já derrotado no Congresso tudo levava a crer que Tancredo Neves fosse o próximo chefe da Nação. e comandaria os lugares da mesa do poder. Num almoço com parlamentares cristãos, no Clube do Congresso, em Brasília, lá estava do doutor Tancredo, caprichosamente colocado à minha frente e tendo ao fundo a mesa daquele banquete. Era um cenário que preconizava o curso da história.
-
-
João Figueiredo estava indicado para suceder a Ernesto Geisel na presidência da República e foi parar numa festa militar na cidade de Osório, no Rio Grande do Sul. Durante a demonstração, dois soldados se acidentaram nas manobras de rappel. Morreram. Foi muito triste registrar a queda dos dois soldados. A seqüência de fotos ganhou prêmio. Pela primeira vez, um fotógrafo brasileiro recebia o troféu World Press Photo, da Fundação Van Gogh, de Amsterdã, na Holanda.
-
-
Na eleição presidencial de 2002, eu cuidava da campanha do tucano José Serra, mas sempre que podia cobria as andanças de Luís Inácio da Silva. Desde Collor, eu fotografava as tentativas de Lula para ganhar uma eleição presidencial e pudemos todos ver o quanto sua presença na mídia o transformou em figura conhecida do povo. Em um dos comícios da última eleição eu pude fotografá-lo com a segurança de que o futuro presidente podia ser reconhecido numa imagem que não apresentasse sua face. Somente as duas mãos de Lula, com um dedo a menos, eram suficientes para identificá-lo.
-
-
Durante o festival de cinema de Brasília, o Hotel Nacional tornou-se um dos QGs da intelectualidade brasileira. O cineasta Rui Guerra e as atrizes Leila Diniz e Ana Maria Magalhães faziam parte dos perseguidos pela repressão militar, em 1970.