01/07/2022
O Voo da Borboleta Amarela, a cinebiografia que conta a história do escritor e cronista Rubem Braga, dirigido por Jorge Oliveira, com codireção de Pedro Zoca e produção de Ana Maria Rocha, já está inscrito em vários festivais de cinema na Europa e no Brasil. Mas, antes de ser visto nesses principais eventos internacionais e nacionais, o longa-metragem tem pré-estreia marcada para os dias 7 e 8 de julho, em sessão privada, na terra do escritor no Espirito Santo, no Centro Cultural do SESI, patrocinador oficial do filme.
O documentário foi filmado numa fazenda em Muqui, no Espirito Santo, no Rio de Janeiro e na cidade de Braga, em Portugal. A sua realização acontece graças a participação do SESI, que, mais uma vez, junta-se a JCV para trazer às telas mais uma obra do mesmo diretor, a exemplo do premiadíssimo Olhar de Nise, que contou a história da psiquiatra alagoana Nise da Silveira.
Segundo o diretor, O Voo da Borboleta Amarela demorou cinco anos para ser produzido, além de mais dois de pesquisa para a realização do argumento e roteiro. Durante esse tempo, Jorge Oliveira debruçou-se sobre as dezenas de livros de Rubem Braga, considerado o mais importante cronista brasileiro, autor de mais de 15 mil crônicas. O resultado desse trabalho é um espetacular longa-metragem, com quase 80 minutos de duração, que conta a história de vida do escritor numa cronologia inversa, desde a sua morte, em 1999, até a primeira crônica que escreveu aos 13 anos de idade ainda nos bancos escolares em Cachoeiro de Itapemirim.
Contar a vida desse cronista, escritor, poeta, suas aventuras amorosas e sua influência na política brasileira foi um desafio para o diretor e roteirista que contou com a participação de três atores para interpretar o personagem no longo período abordado no filme. O filme tem a participação especial do ex-embaixador Lauro Moreira, que interpreta Rubem Braga na maturidade, tem vários pontos em comum com o personagem, além de ter sido próximo dele no Rio de Janeiro onde, em 1950, levou ao teatro a crônica Ai de Ti Copacabana.
Roberto de Martin, ator que já participou de outros filmes de Jorge Oliveira, interpreta Rubem dos 50 aos 30 nos períodos mais férteis da produção literária do cronista que viveu gloriosos momentos profissionais como correspondente em Paris e como jornalista na cobertura da Segunda Guerra Mundial. O Rubem adolescente, que vive suas memórias de menino capixaba, é interpretado pelo jovem ator David Landeiro nascido na mesma Cachoeiro do Itapemirim, terra onde nasceu o cronista.
Toda a realização e produção do filme teve a coordenação da jornalista Ana Maria Rocha – que também montou o filme com o editor Adelson Barreto. O trabalho de edição, que durou um ano, foi realizado on-line, um avanço tecnológico possível e necessário por causa do isolamento social no período mais drástico da pandemia do Coronavírus. Neste período, a jornalista, trabalhou em diversos locais, como Alagoas, Espírito Santo, Portugal e Grécia enquanto o editor permanecia em Brasília.
“Foi uma experiência muito inovadora e interessante – afirma a jornalista – Estou acostumada a trabalhar na ilha de edição ao lado do editor. Tivemos que ter muita disciplina por causa das diferenças de fusos horários. Era muito material audiovisual transitando pra lá e pra cá mas foi um grande aprendizado. O filme também exigiu uma ampla pesquisa de imagens porque Rubem Braga deixou um vastíssimo legado de texto mas não era muito de se exibir para uma câmera, por isto quando descobríamos uma foto inédita era uma alegria imensa”.
Rubem Braga, para muitos, iguala-se a Machado de Assis, Lima Barreto, Antônio Maria e tantos outros cronistas que, com seus olhares atentos e aguçados, deixaram ao Brasil o testamento do que existe de mais puro na literatura e na língua portuguesa. O Voo da Borboleta Amarela, título do documentário, foi inspirado na crônica A Borboleta Amarela, um texto primoroso e poético sobre o simples voo de uma borboleta no centro do Rio de Janeiro.
Uma característica muito marcante do filme é que todos as falas dos atores são textos do próprio Rubem Braga. Jorge Oliveira explica que fez esta opção porque lhe pareceu obvio que, em se tratando de um escritor, nada seria mais preciso para falar da sua vida do que ele mesmo havia escrito. “Obviamente isto me deu enorme trabalho na pesquisa e na escolha dos textos que fossem mais representativos. Tive que escolher entre milhares de crônicas as que eram escritas na primeira pessoa e que ele falasse de sua vida pessoal, das idades, além de abordar os temas que eu queria colocar no roteiro. Eu escolhi mostrar o Rubem como homem, como pessoa, o amigo, as preferências e seu estilo de vida; o cronista possibilitando que o espectador entre no universo da escrita do Rubem. Além disso, quis mostrar também o repórter, o jornalista, que também é minha profissão. Rubem, na verdade, já fazia suas matérias jornalísticas como cronista e isto é ressaltado no filme pelo crítico literário Francisco Aurélio Ribeiro, conterrâneo do escritor.
Como roteirista tive o cuidado de escolher as crônicas e costurá-las com os meus textos que são interpretados pelo ator brasiliense Similião Aurélio que hoje mora na Alemanha.
Apesar de suas vivências cosmopolitas em grandes cidades do mundo, de cargos representativos que exerceu como Embaixador em Marrocos e Cônsul no Chile, Rubem Braga nunca deixou de ser do interior. Era um homem ligado à natureza e manteve-se fiel às suas origens, pois tinha receio que lhe escapasse a sabedoria dos homens simples da roça. Esteve sempre ligado às raízes da sua pequena Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. E para cultivar suas raízes mantinha um apartamento numa cobertura em Ipanema com um vasto pomar, criado por Burle Max.
“Sou um homem do interior, tenho uma certa emoção do interior, às vezes penso que eu merecia ser goiano”. (Rubem Braga).