O velho e o mar


16/10/2007


“Agarrado ao mastro, Seu Gueguel coça os olhos e pergunta qual a cor da água. No leme, Vítor, seu sobrinho de 18 anos, vai informando a cada mudança sutil na paisagem, à espera de uma contra-ordem. Se a água é azul-escuro, é fundo; se verde-esmeralda, estão sobre recifes ou próximo da terra; vento de refrega, sem direção, indica chuva; mas se o mar está calmo e a superfície mexida, é porque há um grande cardume de pequenos peixes e, abaixo, outros maiores para comê-los: pescaria na certa. Assim, Seu Gueguel, quase cego de tanto sal e sol, aos 63 anos e pescando desde os 8, toma emprestado os olhos do sobrinho e dita o rumo da velha jangada. A experiência e a intuição do velho pescador, associados à juventude e à admiração do sobrinho, fazem deles uma dupla quase perfeita. Mas nem sempre é assim. Muitos pescadores, mesmo ultrapassando os 65 anos, idade limite para a aposentadoria definida pelo Governo, continuam enfrentando os perigos do mar, muitas vezes sozinhos e por dias seguidos, por absoluta impossibilidade de parar de trabalhar. Muitos jangadeiros estão trocando partindo para o mercado do turismo — rápidos passeios em frente às praias rendem muito mais que longas jornadas em alto-mar para capturar alguns peixes — mas para os mais velhos pouca coisa mudou. Fiz essa matéria para a Grands Reportages, tendo “O velho e o mar”, de Hemingway, como inspiração. No Brasil, foi publicada na National Geographic e na Terra