O silêncio também fala!


27/01/2023


Por José Trajano, do Conselho Consultivo da ABI, no UOL

‘O silêncio também fala!’

A frase é da professora Leda Maria da Costa, pesquisadora do Laboratório de Mídia e Esporte da Faculdade de Comunicação Social da UERJ na reportagem de Vitor Seta em O Globo desta quinta-feira (26).

Ela analisou os dados do sistema Bites, que levanta informações entre Twitter, blogs, notícias e fóruns em português sobre diversos assuntos. No caso, a comparação foi entre a convocação de Daniel Alves para o Mundial do Qatar e a divulgação da acusação de agressão sexual, pela qual o jogador está preso em Barcelona.

A convocação absurda feita pelo ex-técnico da seleção Tite recebeu 481.068 menções. Já as citações entre a primeira acusação de agressão sexual até o atual momento foram 203.479. Uma diferença de 2,3 menor para o caso. O importante para a maioria das pessoas é a questão de campo. Muito triste isso!

O que demonstra, segundo a professora, ‘a naturalização de eventos vinculados a crime de ordem sexual no esporte, no futebol. E anuncia, em grande medida, o ambiente machista do futebol.’

Isso nos envergonha!

Incluo-me ao lado de pouca gente, mas que respeito pelo combate, pela coragem, pelo destemor, como Casagrande, Juca Kfouri, Alicia Klein, Milly Lacombe, e alguns poucos que se manifestaram e não se calaram sobre a agressão sexual do Daniel Alves, o cara que transcende, como disse o técnico Tite ao justificar a convocação dele para a Copa.

Assim como os jogadores, que se omitem através do silêncio, grande parte da imprensa esportiva dá de costas e ainda passa pano para gente como Robinho (outro dia foi exaltado em um programa de tevê). Fico indignado e enojado.

Por isso, com 60 anos de jornalismo esportivo nas costas, faço questão de me juntar ao lado dos que gritam, dos que não irão se calar. Como escreveu a Milly “dessa vez o silêncio não vai significar ausência de comunicação. Dessa vez, o silêncio grita.”

De 2018 a 2022, 240 boletins de ocorrências contra atletas e ex-atletas por violência doméstica e crimes sexuais foram registrados só em São Paulo, revela a professora.

Passavam pano. Agora, não. Ficar em silêncio diz tudo. O silêncio fala!