O pré–sal já traz dissidências


23/07/2008


Colaboração de Bernardino Capell Ferreira, jornalista e sócio da ABI 

Em uma das minhas matérias publicadas no site da ABI, criticando certas tomadas de posição, a critério dos ministros do Estado, considerei que alguns deles, tidos como bons maestros, são, todavia, secundados por outros tantos que, não conhecendo suas partituras, não podem reger bem as orquestras sob suas batutas.

É o caso, a meu ver, da intempestiva crítica do Senador Edson Lobão ao Presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, por ter se manifestado contrario à proposta de Lobão com respeito à criação de nova empresa estatal para administrar as reservas petrolíferas denominadas pré–sal, (Valor Econômico de 30/6/2008), declarando que em 60 dias apresentaria as conclusões de estudos para alterar o atual modelo de exploração de petróleo no País.

O Senador Lobão, hoje Ministro das Minas e Energia, como já provou em várias oportunidades ter sido de grande valor ao Congresso, dando provas de boa atuação como parlamentar diplomata, no que diz respeito aos assuntos de expressão política, porém, como o caso pré–sal veio– lhe às mãos em decorrência do seu status atual no Ministério das Minas e Energia, julgaria mais acertado um certo cuidado no trato de um problema recentemente surgido, da órbita da Petrobras e que não deve dar motivo a conclusões precipitadas, creio eu.

Fui servidor do Conselho Nacional do Petróleo durante 35 anos e me jacto de conhecer muitos dos ângulos técnico–políticos que envolvem o ouro–negro, desde que o órgão estatal batia recordes ao perfurar poços com 150 metros de profundidade, com auxílio, apenas, de sondas de percussão, através de abnegados engenheiros e trabalhadores de campo, todos orgulhosos de pertencerem ao CNP.

Não mexamos na estrutura da nossa Petrobras — seus dirigentes, seus engenheiros e todos os profissionais que ali labutam receberam a notícia da descoberta do pré–sal como uma grande vitória.

Salta aos olhos de qualquer mediano inteligente que a Petrobras e suas associações reagirão à idéia do Senador Lobão.
Claro e evidente que qualquer nova atividade da Petrobras deverá se transformar em lucro, em razão, mais ainda, da exploração do petróleo contido nas reservas denominadas pré–sal, o que se refletirá obrigatoriamente na participação desse lucro por todos os envolvidos na ação, com bases em contratos existentes, participação essa que se estenderá, em cadeia, aos vários segmentos da sociedade brasileira consumidora de derivados do petróleo produzidos pela empresa.

Criar-se, pois, uma nova estatal para cuidar do petróleo no País, “modificando o atual modelo”, como o Senador Ministro deseja fazer, não deixa de ser uma incongruência, ou pelo menos um procedimento inadequado.

Deixem que a própria Petrobras possa propor o que achar por bem — a empresa já demonstrou a sua confiabilidade. Respeitada internacionalmente por todas as suas congêneres em todo o mundo, tem condições para absorver quaisquer custos operacionais em decorrência das operações na área do pré-sal, ou em outras que sua tecnologia avançada para exploração em águas profundas venha a requerer.

Deixemos que a nossa Petrobras possa realizar, como está realizando, o sonho do “petróleo é nosso”.

O que poderia advir da idéia do Ministro e Senador Lobão para montagem de uma empresa estatal, a qual teria que ter uma nova estrutura de apoio técnico-administrativo, com a qual se responsabilizasse por trabalhos hoje executados perfeitamente pela Petrobras?

E, por último, o que até então não foi cogitado, de onde viriam os recursos necessários a tal empreitada? Do BNDES, da pré-venda de ações da nova empresa (tudo é permitido neste País) rapidamente lançadas na praça ou simples cobertura oficial do Estado?

Quanto ao dizer do Senador Lobão de que o Presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, “torce pelos interesses da empresa”, óbvio, evidente e intuitivo que isso é o certo — quiséramos nós que todos os nossos dirigentes assim o fizessem!

O momento no qual vivemos, neste mundo conturbado por paixões que nem sempre demonstram honra e dignidade, nos tem trazido uma série de distúrbios que desequilibram e afetam ações de controle em torno da proteção ao Estado e à sociedade.
No caso em lide, julgo que a Petrobras esteja segura e bem administrada, não havendo razões para que venha a perder a sua preponderância, dividindo suas ações com outra estatal criada para o mesmo fim.

Note-se, ainda, que a Petrobras acompanha sempre a evolução das necessidades do petróleo que extrai, transformando-o em derivados na medida das necessidades do País, pretendendo sempre aumentar o seu poder de refino, entrando ainda na produção de combustíveis oriundos da biomassa. O que querem mais?

Meu caro Ministro Lobão, acredite se quiser, ou não, mas, não perca o seu precioso tempo em ampliar a Petrobras. Ela não nasceu xifópaga, sempre andou com suas próprias pernas e a sua voz, esta sim, é o eco dos brasileiros que um dia (e eu estava lá) disseram nas ruas “o petróleo é nosso” com a proteção de Deus e, por que não dizer, da nossa ABI, cuja bandeira, até hoje, tem sido proteger e participar das causas nobres no País.