O pioneirismo de Nelson Werneck Sodré


24/08/2011


Dezenas de pessoas compareceram à cerimônia de homenagem ao centenário de nascimento de Nelson Werneck Sodré, realizada na noite desta terça feira, 22, na ABI. A solenidade contou com a participação de Olga Sodré, filha do homenageado, que falou sobre a trajetória profissional e o pensamento do pai. O evento é uma atiividade da Diretoria de Cultura e Lazer da ABI, com o apoio dos Sindicatos dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro; dos Artistas e Técnicos em Diversões Públicas; dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica; dos Músicos Profissionais do Estado do Rio de Janeiro e pelo Clube de Comunicação.
 
A mesa de honra do encontro reuniu Olga Sodré, Jorge Coutinho, Presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado do Rio de Janeiro, Miguel Walther Costa, Presidente do Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro, Luiz Antônio Gerace da Rocha e Silva, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Cinematográfica do Rio de Janeiro, o jornalista Sergio Caldieri, Secretário do Conselho Deliberativo da ABI, o ex-deputado e militar Eduardo Chuay, amigo de Nélson Werneck Sodré, e o jornalista Mário Augusto Jakobskind, membro da Comissão da Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI.
 
Ao iniciar o seu discurso, Olga Sodré criticou o abandono da obra do pai, segundo ela, a partir da valorização no ambiente acadêmico de autores estrangeiros em detrimento de pensadores nacionais:
­—Tenho falado muito na cortina de silêncio sobre a obra do Nelson Werneck Sodré. Marcos Silva, professor titular de Metodologia da História da USP, e Coordenador do Dicionário Nelson Werneck Sodré, comentou em uma palestra no Museu Republicano da USP, em Itu, que o Nelson tinha sido completamente eliminado das bibliografias das universidades. Contou que quando era estudante da USP fez um trabalho baseado na obra de Nelson. O professor achou uma maravilha e perguntou quem tinha sido a fonte. Quando ele disse o nome do historiador Nelson Werneck Sodré, o professor se calou. Nós temos em Nélson Werneck Sodré um intelectual que representa um ícone do pensamento brasileiro e uma luz nesse momento atual. Por isso, seria importante combatermos a alienação brasileira e lembrarmos que até hoje nas nossas universidades temos que ter a tiracolo um autor estrangeiro para justificarmos uma tese, o que inclui muitas citações desses autores estrangeiros, sem nenhuma reflexão.
 
Olga também destacou a atuação de Nelson Werneck Sodré na política e na defesa dos interesses nacionais:
—Nós vivemos em uma sociedade moldada pela pressão constante e incessante ao consumo. As revoltas que aconteceram em Londres são motivadas pelo consumismo. Atrelar a vida humana a isto é um empobrecimento que só vai gerar violência. É claro que o projeto de nação de Nelson Werneck Sodré tinha sido derrotado, e ele poderia ter entregue a chuteira, mas ficou aqui e produziu uma parte de sua obra que é muito interessante, na qual vai analisar essas transformações. Os principais intérpretes do modelo nacionalista foram duramente golpeados. Não preciso falar que ele foi preso, não podia mais ensinar, mas aproveitou para escrever. Essa luta que foi derrotada em 1964, já vinha acontecendo nos bastidores desde a década de 1930, com sucessivas tentativas de golpes, que desaguaram no suicídio de Vargas, na tentativa de impedimento da posse do Juscelino Kubitschek, na tentativa de impedir a posse de João Goulart. Nelson esteve presente em todas essas lutas, pensando, participando, escrevendo sobre tudo isso.
 
Nelson Werneck Sodré iniciou a carreira na imprensa em 1934, e inovou ao aliar o conhecimento histórico à prática do Jornalismo:
—Ele realizou uma coisa fantástica que os acadêmicos não entenderam, mas que uma psicóloga social como eu entende, que é o entrelaçamento entre o Jornalismo e a História. A imprensa é considerada, não apenas como a fonte de informação, mas também como a representação e o testemunho de uma época. Então, trabalhar a imprensa como ele trabalhou representa pioneirismo, inclusive científico, sublinhou Olga.
 
Outra importante contribuição de Sodré, destacou Olga, foi o estudo sobre a Comunicação Social no Brasil:
—Ele refletiu sobre as transformações e foi um precursor do pensamento sobre a Comunicação no Brasil, denunciando a massificação cultural implantada a partir da padronização dos gostos, da utilização de filmes estrangeiros. Denunciando o milagre econômico, o neoliberalismo, no papel de observador atento às mudanças que estavam se implantando, sempre com uma grande  lucidez contra a farsa do liberalismo. Já nos anos 1970, Nelson apontou para a crise que está acontecendo agora.
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Jorge Coutinho também assinalou a luta de Nelson Werneck Sodré pelo fortalecimento da cultura nacional:
—Falando sobre Sodré, eu retorno à UNE, em 1959, 1960. Discutíamos muito sobre a cultura nacional, o cinema, a música. É importante estarmos aqui hoje unidos por esse pensamento em prol de um Brasil melhor.
 
Luiz Antônio Gerace da Rocha e Silva acentuou a importância da participação coletiva para a valorização da identidade cultural no País:
—Para nós, este evento é uma oportunidade muito especial, já que o cinema e, de certa maneira, a história, fica registrada através de seus protagonistas. Nós, os coadjuvantes, também ajudamos a construir o cinema. Somos cerca de 15 mil trabalhadores no Brasil, sendo 8 mil sindicalizados.  Atualmente, quando se fala tanto em globalização, vale citar aquela máxima do futebol “Quem não faz leva”, o que significa que se nós não produzirmos, ficaremos condenados ao consumo. Esta identidade nacional precisa ser fixada.
 
Antes do encerramento do encontro, os participantes da mesa e o público debateram as idéias de Nelson Werneck Sodré e sua relevância na construção histórica nacional. Os organizadores do evento presentearam a platéia com exemplares do livro “Desenvolvimento Brasileiro e Luta pela Cultura Nacional”, organizado por Olga Sodré, sobre a obra do homenageado.  
 
Reconhecimento
 
Nelson Werneck Sodré foi um pensador brasileiro que refletiu sobre a realidade de seu tempo e analisou a formação histórica da nossa sociedade, pelo ponto de vista marxista, configurando um pensamento crítico registrado como base ideológica para um projeto revolucionário de nação.
 
É reconhecido como um dos maiores intelectuais brasileiros de todos os tempos por sua trajetória de escritor, jornalista, professor e pesquisador da história do Brasil. Nelson deixou uma obra singular –  marcada pela linguagem concisa e clareza das idéias –  conduzida por um pensamento dialético e esclarecedor.
 
Publicou ainda inúmeros artigos e cerca de 60 livros, entre os quais “História da Imprensa no Brasil”, “História da Literatura Brasileira”, “História Militar do Brasil”, “Formação Histórica do Brasil e Capitalismo e Revolução Burguesa no Brasil”.  
 
Informações sobre a vida e a obra de Nelson Werneck Sodré podem ser consultadas no site www.nws.itu.com.br.