De acordo com a pesquisa “Hábitos de mídia” do Datafolha o principal meio de informação atualmente dos jovens das classes A, B e C é a internet. O índice de leitores juvenis que preferem acessar notícias pela rede é de 39%; a TV aberta aparece como o segundo veículo de audiência dos jovens, com 35%; e o jornal impresso ficou com apenas 6% desse segmento de leitores. De acordo com levantamento da Folha, o Perfil do Leitor, apurado em 2011, revela que 11% dos leitores do jornal têm até 22 anos de idade — há dez anos esse público era de 20%.
Essa nova realidade sobre o perfil do leitor juvenil vai de encontro aos dados de uma pesquisa da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), realizada em 2007, que apontava que o crescimento do público jovem dos principais jornais brasileiros era uma contribuição dos cadernos juvenis.
A pesquisa da Andi mostrava que o percentual da pauta juvenil no final dos anos 90 era de 24,2%. Na época em que foi realizado, o relatório da agência já mostrava um salto para 65% de incidência de notícias de interesse dos jovens no noticiário dos grandes jornais, relacionados a temas de relevância social.
Acontece que a recente pesquisa do Datafolha fez a Folha de S.Paulo mudar o seu projeto editorial dedicado ao público juvenil, sacramentado com o fim do suplemento Folhateen, caderno dedicado aos adolescentes, que a partir de agora terão que acompanhar os assuntos do seu interesse em uma página semanal da “Folha Ilustrada”. Segundo a Ombudsman, Suzana Singer, a causa mortis do suplemento não foi revelada, mas a Secretaria de Redação da Folha fez apenas o seguinte comentário: “cadernos jornalísticos têm vida útil”.
Outro contexto
Criado em 1991, o Folhateen experimentou um longo período de sucesso editorial, mas de acordo com a chefia de Redação da Folha ele foi lançado “em outro contexto, para outro leitorado, e num Brasil diferente do de hoje. Muitos suplementos importantes para a história da Folha tiveram começo e fim, como o Mais!”
Suzana Singer disse em sua coluna na edição do domingo, 20 de novembro, que a morte do Folhateen significa que “a Folha de S. Paulo não acredita mais na fórmula de suplemento para atrair jovens ao meio jornal”.
Como avalia Suzana Singer a internet furou uma grande parcela da pauta do Folhateen, acrescentando que há duas décadas o jovem procurava o jornal para se atualizar sobre a música produzida no mundo e até mesmo para tirar suas dúvidas sobre sexo. Hoje todas essas informações estão disponíveis na rede, é claro que nem todas são de boa qualidade, mas o fato que elas estão acessíveis por meio de apenas um clique do mouse.
Foi esse contexto que levou a direção da Folha a encerrar a carreira do suplemento levando a prosa dedicada aos adolescentes para dentro da mais adulta “Ilustrada”.
“O Perfil do Leitor nos mostrou que os interesses do jovem estão mudando. Carreiras e investimentos, por exemplo, são mais importantes do que há uma década”, é a conclusão da Secretaria de Redação.
Já a Ombudsman do jornal acha que o fim do suplemento teen vai exigir da Folha encontrar rapidamente uma alternativa editorial que atraia os jovens, chamando atenção para o fato de que o conteúdo da notícia na plataforma digital, devido à imposição da velocidade exigida do jornalismo online, carece de profundidade.
“A extinção do Folhateen não pode significar resignar-se com o envelhecimento do leitor. A Folha — e todos os jornais do mundo — precisam encontrar novas formas de convencer a atual geração de que o ‘noticiário miojo’ da internet (ainda) não é suficiente. Ninguém está bem nutrido com toneladas de informações instantâneas e insossas. O desafio é abrir o apetite desses comensais”, comentou Suzana Singer.
Não é novidade
Priscila Carvalho editora do caderno “Kzuka” diz que a mudança no perfil do leitor jovem já vem acontecendo há algum tempo:
— Não é de hoje. E está ligada à evolução do jovem em si, ao tal perfil multitarefa, geração Y, geração Z, entre outros. Estamos preparados e habituados a essa transição contínua, ela faz parte do nosso planejamento diário, do nosso cronograma básico, a cada reunião de pauta essas mudanças são discutidas de maneira natural e incorporadas à nossa maneira de trabalhar.
O “Kzuka” também foi afetado pelas novas exigências e opções de leitura do público juvenil. Segundo Priscila a equipe do caderno trabalha com essas novas exigências diariamente:
— Elas fazem parte da nossa rotina. Acredito que a liberdade nos dada pelo Marcelo Rech (diretor geral de produto do Grupo RBS) é um grande diferencial. Não precisamos de grandes burocracias para mudar, para mexer, o conteúdo não é estático. Se uma coluna ou seção não funciona, temos total liberdade para matá-la na edição seguinte. Sem falar que temos conseguido inovar (comparado ao que acontece nas redações tradicionais) com muita rapidez, fazendo com que as interatividades em todas as redes sociais e no nosso site sejam parte da rotina dos próprios repórteres, editores e — principalmente — estagiários.
Priscila não revela se existe algum plano de mudanças editoriais para melhorar o relacionamento com o público leitor jovem, mas disse que o suplemento está sempre atento às exigências e tendências de comportamento dos jovens leitores do jornal:
— Para isso, a nossa participação no dia a dia nas escolas e nos ambientes onde eles circulam é fundamental e é isso que nos deixa muito tranquilos quanto ao que deve e o que não deve ser feito nos cadernos e nas revistas gratuitas. Temos os nossos leitores fiéis e continuamos angariando novos leitores a cada dia. Por incrível que pareça, nossos maiores esforços estão, hoje, em sermos relevantes na web, em realmente fazer a diferença por lá. Obviamente, a integração entre os meios é a melhor forma de trazer novos leitores e fidelizar os atuais – em qualquer uma das mídias.
Sobre a decisão do Globo de optar pela versão online do seu suplemento juvenil, Priscila Carvalho disse o seguinte:
— Estávamos há quase um ano com conteúdo “Kzuka” na “Megazine”. Acompanhei e entendi que a atitude deles de mudar a plataforma foi bastante pensada e embasada. Foi realmente uma estratégia. De qualquer maneira, mesmo terminando com a versão em papel, é uma maneira de manter a ligação da marca O Globo, da marca “Megazine”, com o público jovem. E, pelo que eu estou acompanhando, eles têm mantido a mesma qualidade e despendido a mesma energia que era gasta na versão impressa. Não conheço os resultados dessa mudança, mas acredito que esteja cumprindo seu objetivo, disse a editora.
Este repórter enviou e-mail aos editores do “Megazine” solicitando uma entrevista, mas não teve resposta. Mas o ABI Online apurou que o jornal carioca já fez alterações na edição do suplemento juvenil, que agora só é publicado na versão online.
Lançado em 2000, no formato revista, o “Megazine” é fruto da junção do caderno “Planeta Globo”, que circulava aos domingos e era mais voltado para o público pré-adolescente; e o suplemento “Vestibular”, que era publicado às terças-feiras, no último semestre de cada ano, dirigido, obviamente, aos vestibulandos