O Cineclube Macunaíma exibe hoje no YouTube


11/05/2021


O Cineclube Macunaíma exibe hoje, a partir das 10hs, o drama Chuvas de Verão(1978), de Cacá Diegues, que ganhou o prêmio Colón de Oro for Best Feature  como melhor filme do Festival de Cine Iberoamericano de Huelva, na Espanha . Às 19h30, começará o debate sobre o filme com os cineastas Sílvio Tendler, com mais de 70 curtas, médias e longas-metragens em seu currículo, e Cacá Diegues, diretor do longa e com 18 filmes premiados no Brasil e exterior; o crítico de cinema e roteirista, Rodrigo  Fonseca; e a escritora e pesquisadora de cinema Mariza Gualano. Ricardo Cota, ex-curador da Cinemateca do MAM, será o mediador. Assistam o filme e o debate no canal da Associação Brasileira de Imprensa no YouTube.

Chuvas de Verão, com 1h26 de duração, tem música de Paulinho da Viola e o enredo é sobre Afonso (Jofre Soares) que, ao se aposentar em um tórrido verão, decide viver com tranquilidade no subúrbio onde mora e acaba se envolvendo com os problemas familiares e com sua vizinha Isaura (Mirian Pires). No elenco, estão ainda Marieta Severo, Daniel Filho, Roberto Bonfim, Zaira Zambelli, Cristina Aché, Lourdes Mayer, Sadi Cabral e Procopio Mariano, entre outros.

Cacá Diegues

O cineasta nascido em Maceió, Alagoas,  Carlos José Fontes Diegues – Cacá Diegues –completa 81 anos em 19 de maio. Nos 60 anos de carreira,  teve 18 filmes premiados, participou de 23 co-produções e na Tv, de cinco filmes e séries, inclusive na Tv francesa, produzindo ainda sete filmes e  escreveu e participou de 22 livros. Em 1981, foi júri do Festival de Cannes.

Cacá é oficial da Ordem das Artes e das Letras (l’Ordre des Arts et des Lettres) da República Francesa e membro da Cinemateca Francesa. O governo brasileiro também lhe concedeu o título de Comendador da Ordem de Mérito Cultural e a Medalha da Ordem de Rio Branco, a mais alta do país.

Em 2016, recebeu a homenagem da escola de samba Inocentes de Belford Roxo com o enredo Cacá Diegues – Retratos de um Brasil em cena! E, em 30 de agosto de 2018, o cineasta foi eleito novo imortal da Academia Brasileira de Letras, na cadeira nº 7, já ocupada pelo escritor Euclides da Cunha e pelo fundador da ABL, Valentim Magalhães.

A maioria dos 18 filmes de Diegues foi selecionada por grandes festivais internacionais, como Cannes, Veneza, Berlim, Nova York e Toronto, e exibida comercialmente na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina – o que o torna um dos realizadores brasileiros mais conhecidos no mundo. Cinco filmes dele foram candidatos à seleção para indicação do Oscar como melhor filme internacional: Um trem para as estrelas, Dias melhores virão, Tieta do Agreste, Orfeu e O grande circo místico.

Ele deixou a meninice em Maceió e veio morar no Rio de Janeiro ainda com um milhão de habitantes. E como a maior parte dos artistas da época, engajou-se na luta política na juventude. No cinema, ele encontrou-se porque, amante da literatura, podia escolher a história, os personagens, as paisagens, tornando-se um dos líderes do Cinema Novo junto com Glauber Rocha, David Neves, Paulo Cesar Saraceni, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Arnaldo Jabor e Nelson Pereira dos Santos, entre outros. O grupo queria apenas mudar o cinema, o Brasil e o mundo, contava  Nelson.

Depois de dois curtas, Cacá filmou um dos episódios da coletânea Cinco vezes favela, chamado Escola de samba alegria de viverGanga Zumba foi seu primeiro longa-metragem e, entre os participantes do elenco, estavam Angenor de Oliveira, o Cartola, e, no papel principal, Antonio Pitanga. Vieram em seguida, A Grande Cidade (1966) e Os Herdeiros (1969). O Brasil vivia a Bossa Nova e, na literatura, surgiam Guimarães Rosa, Carlos Drummond, João Cabral e Clarice Lispector. Mas, no dia 31 de março de 1964, chegou o golpe e, em dezembro de 68, veio o AI – 5. Ele e a cantora Nara Leão, sua mulher na época, se exilaram na Europa, ao final da década de 1960. Na volta, criou o termo “patrulha ideológica” para os vigilantes da esquerda e realizou mais dois filmes – Quando o Carnaval Chegar (1972) e  Joanna Francesa (1973). Em 1976, foi a vez de   Xica da Silva (Zezé Motta), a história de uma escrava que compra sua liberdade e conquista a cidade de Diamantina. Fez ainda a refilmagem de Cinco Vezes Favela, com roteiros e diretores oriundos das favelas cariocas.

Em1984, filma Quilombo, produção internacional, seguido de dois filmes de baixo custo, Um Trem para as Estrelas (1987) e Dias Melhores Virão (1989). Na mesma fase, realiza, em parceria com a TV Cultura, Veja esta Canção (1994). Entre seus sucessos que se seguiram incluem-se Tieta do Agreste (1996), Orfeu (1999) e Deus É Brasileiro (2003).

Cacá sempre usou a literatura como protagonista de quase todos os seus filmes. Um deles foi Tieta do Agreste, de Jorge Amado, com roteiro adaptado de João Ubaldo Ribeiro. Depois, ele realiza Chuvas de Verão (1978) e foi para os EUA lançar Bye,bye, Brasil(1979).

Em 1981, adaptou Orfeu da Conceição (que havia ganho a Palma de Ouro, em Cannes, e Oscar de melhor filme estrangeiro na primeira versão), vindo do subúrbio e apaixonado pela Eurídice da favela em um cenário de um novo Rio de Janeiro, dominado pelo tráfico e milícias. Isso na década de 1950, quando a violência ainda não era um problema. A bela  Canção de Eurídice, foi cantada por Toni Garrido e composta por Caetano Veloso.

Em Deus é brasileiro, o protagonista era um Santo que não acreditava em Deus, disfarçado de Antonio Fagundes. O encontro do pescador Taoca (Wagner Moura) com esse Deus mal-humorado começava por lhe ensinar com quantos paus se faz uma canoa. Deus faz uma peregrinação à procura de um santo que possa tomar conta do universo, enquanto Ele, tira férias. A lição que fica é que precisamos compreender o outro em sua diferença.

Depois ainda tem Chuvas de Verão, O maior amor do mundo, sem esquecer Dias melhores verão e O Grande Circo Místico que marca o regresso a seu poeta favorito: Jorge de Lima. O poema conta a saga de cinco gerações de uma família dedicada ao circo. Carlos Diegues chegou aí ao cinema- poesia, seu projeto desde a juventude. Na literatura, Cacá escreveu e participou de 22 livros.

Debatedores

O cineasta e documentarista carioca Sílvio Tendler já ganhou diversos prêmios e tem 70 documentários entre curtas, médias e longas-metragens em seu currículo, entre eles, JKTancredo e Jango.

O crítico de cinema e roteirista Rodrigo Fonseca escreveu séries e programas na TV Globo e analisa filmes no blog P de Pop, do jornal O Estado de S. Paulo. Publicou sete livros sobre audiovisual e o romance Como era triste a chinesa de Godard.

A escritora Mariza Gualano é uma pesquisadora de cinema e pinça frases com abordagens que conectam comida à sedução e a dados oníricos. No livro As mais deliciosas frases sobre gastronomia do cinema está essa: “- Sou meio italiana, adoro cozinhar. E a outra metade? Norueguesa: eles adoram comer” (Mary Steenbergen, provocante em Um século em 43 segundos (1979).