O Brasil perde o humanista Niemeyer


06/12/2012


A ABI manifestou nesta quinta-feira, 6 de dezembro, sua profunda tristeza pelo falecimento de Oscar Niemeyer, cujo desaparecimento, diz a entidade em declaração, “priva o Brasil e a Humanidade de um humanista que marcou sua passagem pelo século 20 e 21 com criatividade inigualada, fecunda produção artística e literária e notável coerência na adesão a idéias de progresso social”.
 
Niemeyer, que faria 105 anos no próximo dia 15, era sócio da ABI desde 30 de julho de 1953, quando ingressou na Casa pela mão do então Presidente Herbert Moses. Niemeyer era então diretor da revista Módulo, especializada em arquitetura e temas culturais. Ele manteve sua vinculação com o jornalismo até seus últimos meses de vida através da revista Nosso Caminho, por ele criada e também voltada para a arquitetura e questões culturais.
 
O arquiteto Oscar Niemeyer morreu nesta quarta-feira, às 21h55min, em decorrência de uma infecção respiratória, no Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul do Rio, onde estava internado desde o dia 2 de novembro. O enterro será realizado nesta sexta-feira, dia 7, no cemitério São João Batista, em Botafogo.
 
O corpo do arquiteto foi embalsamado e deixou a Santa Casa de Misericórdia de Inhaúma, no subúrbio do Rio, no início da tarde desta quinta-feira, 6. Após a celebração de uma missa para familiares e amigos no Hospital Samaritano, foi levado em cortejo ao Aeroporto Santos Dumont, para embarque em avião presidencial rumo a Brasília. O velório será realizado das 16h às 20h, no Palácio do Planalto, projetado pelo arquiteto. O local foi oferecido à família pela Presidente Dilma Roussef.
 
Ao término do velório, o corpo de Niemeyer retorna ao Rio de Janeiro, e fica no Palácio da Cidade. O Prefeito Eduardo Paes decretou luto oficial de três dias, no Rio de Janeiro.
 
Após o anúncio da morte de Niemeyer, na noite desta quarta-feira, 5, o médico Fernando Gjorup disse que o arquiteto estava otimista e que só perdeu a consciência pela manhã, após ser sedado.
— Antes dessa internação, ele chegou a conversar com a equipe sobre seus novos projetos de trabalho. Ele não gostava de falar sobre a saúde dele, mas sabia que já tinha passado da metade da vida. Ele nunca falou sobre morte, só falava em viver. A equipe médica tinha esperança, mas havia a fragilidade de um senhor de 104 anos.
 
Segundo a equipe médica, o arquiteto apresentou piora progressiva nos últimos dois dias. Ele estava sendo submetido a hemodiálise e seu estado imunológico já era deficiente. Cerca de 10 familiares estavam na Unidade Coronariana do hospital quando Niemeyer morreu.
Em maio deste ano, Niemeyer foi internado, com quadro de desidratação e pneumonia, tendo recebido alta 16 dias depois. No dia 13 de outubro, o arquiteto deu entrada no Hospital Samaritano após sentir-se mal, apresentando um quadro de desidratação, permanecendo internado por duas semanas. Em 2 de novembro, seis dias depois de receber alta, retornou ao Samaritano, e foi submetido a tratamento de hemodiálise e fisioterapia respiratória.
 
ABI
 
Niemeyer era sócio da ABI desde 30 de julho de 1953, tendo como proponente o então Presidente da entidade, jornalista Herbert Moses. Em 1955, o arquiteto lançou a revista Módulo e atuou como editor do veículo. Em 1936, o arquiteto havia participado do concurso criado por Moses para o projeto de construção do prédio da ABI, vencido pelos irmãos Roberto.
 
Em 2008, data do centenário da ABI, Niemeyer presidiu a Comissão do Centenário da entidade, composta por 100 personalidades. O arquiteto havia chegado ao centenário em 15 de dezembro de 2007.
 
Destaque 

A morte de um dos arquitetos mais renomados do mundo repercutiu na mídia nacional e internacional. O jornal Der Spiegel, da Alemanha, noticiou: “A morte de Oscar Niemeyer: o senhor das curvas”; a BBC, de Londres: “O arquiteto brasileiro que desenhou alguns dos prédios modernistas mais famosos do século XX morreu antes de completar 105 anos”; The New York Times: “Morre Niemeyer, que deu a Brasília seu toque, ao misturar modernismo com uma nova sensualidade e captar a imaginação do mundo”; Le Figaro: “Oscar Niemeyer, uma lenda desaparece”; Financial Times: “Morre Oscar Niemeyer, o arquiteto que participou da construção da imagem do Brasil”; Corriere de La Sera: “Morre Niemeyer, o arquiteto do século XX”; Le Monde: Niemeyer, “arquiteto da sensualidade”; El País: “Morre Niemeyer, o poeta da curva; Clarín: ”Niemeyer foi um dos mais emblemáticos nomes da arquitetura moderna do século 20 e um homem fiel às suas convicções”; Washington Post: “Uma das mentes criativas mais distintas de sua profissão”.

Nas redes sociais, o nome Niemeyer é um dos mais citados nesta quinta-feira, 6. No Twitter, a morte de Oscar Niemeyer ficou entre os dez assuntos mais citados do mundo.
Trajetória

Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho nasceu no bairro das Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro, no dia 15 de dezembro de 1907. Torcedor do Fluminense, Niemeyer chegou a jogar no time juvenil do clube de Laranjeiras.
Aos 21 anos casou-se com Annita Baldo. Em 1929, entrou para a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde cinco anos depois formou-se engenheiro arquiteto.
 
Em 1932, nasceu Anna Maria, sua única filha, que morreu em junho de 2012.
 
O casamento com Annita Baldo, a primeira mulher, durou 76 anos. Eles tiveram cinco netos, 13 bisnetos e quatro trinetos. Annita morreu em 4 de outubro de 2004. Niemeyer casou-se novamente em 2006, com sua secretária, Vera Lúcia Cabreira.
 
O início da carreira foi no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão. Niemeyer foi designado por Lúcio Costa para auxiliar Le Corbusier, famoso arquiteto suíço, de passagem pelo Brasil, em 1936, para colaborar com o projeto do prédio do Ministério da Educação no Rio.
Em 1940, Niemeyer conheceu Juscelino Kubitschek, então Prefeito de Belo Horizonte, e realizou seu primeiro grande projeto, o Conjunto da Pampulha, no bairro na capital mineira, que incluía o cassino, a Casa do Baile, o clube e a igreja de São Francisco de Assis.
 
Em São Paulo, Niemeyer projetou o Parque Ibirapuera e o Edifício Copan. Em 1956, com JK na presidência do Brasil, organizou o plano piloto de Brasília e foi responsável pela construção da nova capital federal.

Criou os palácios do Itamaraty, Alvorada, o Congresso Nacional, a Catedral, a Praça dos Três Poderes, entre outros prédios e monumentos.

 
Comunista histórico, Niemeyer era filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde 1945. Em 1964, o arquiteto teve seu escritório no Rio invadido por agentes da ditadura. Perseguido, Niemeyer decidiu morar fora do Brasil. Elaborou o projeto da Universidade Constantine, na Argélia, na África, e desenvolveu a sede da ONU em Nova York, nos Estados Unidos. O arquiteto também projetou a sede da editora Mondadori, em Milão, na Itália.
 
Nos anos 70, abriu seu escritório na Champs Elysées, em Paris.
Retornou ao Brasil no início dos anos 80, e consolidou os projetos do amigo Darcy Ribeiro, antropólogo e então vice-governador do Rio, ao lado do Governador Leonel Brizola. Os CIEPs (Centro Integrado de Educação Pública) e o Sambódromo do Rio são obras deste período.
 
A cidade de Niterói é a segunda do Brasil com o maior número de trabalhos do arquiteto, depois de Brasília. O Museu de Arte Contemporânea (MAC), e o Caminho Niemeyer integram o conjunto de edificações assinadas pelo mestre.
 
Em 2007, Niemeyer completou 100 anos de vida. Sua trajetória foi aplaudida com inúmeros prêmios como o Pritzker, recebido em 1988, e a Ordem do Mérito.

Leia abaixo depoimentos sobre Oscar Niemeyer:

 
Vera Lúcia Cabreira – “Eu posso dizer que perdi a pessoa de quem eu mais gostava no mundo, meu amigo. Perdi tudo. Estou muito fragilizada.”
 
Presidente Dilma Roussef – “A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem, dizia Oscar Niemeyer. Poucos sonharam tão intensamente e fizeram tantas coisas acontecerem como ele. Niemeyer foi um revolucionário, o mentor de uma nova arquitetura, bonita, lógica e inventiva. Das injustiças do mundo ele sonhou, ele sonhou uma sociedade igualitária. O Brasil perdeu hoje um de seus gênios. É dia de chorar sua morte. É dia de saudar sua vida.”
 
Luiz Inácio Lula da Silva e Marisa Letícia, em nota divulgada pelo Instituto Lula – “Juntamo-nos a todo o Brasil no luto pela morte do arquiteto Oscar Niemeyer. Ele se vai, mas ficará entre nós presente nas linhas dos edifícios que plantou no Brasil e em todo o mundo.”
 
Joaquim Barbosa, Presidente do STF – “Suas criações originais, unindo arquitetura e e poesia, expressaram os limites elevados da genialidade brasileira e ajudaram a projetar o nome do Brasil no exterior.”
 
Ophir Cavalcanti, Presidente da OAB – “O Brasil perde um de seus mais ilustres brasileiros. Niemeyer deixa um exemplo, não de competência técnica, mas o de pensar o Brasil do futuro ao desenhar Brasília. Nos deixa um legado de luta pela vida e pelos ideais. Sempre foi um comunista e nunca negou a sua opção política, inclusive nos momentos que o Brasil viveu em uma ditadura. Exemplos como este são um paradigma para a sociedade.”
 
Jorge Roberto Silveira, Prefeito de Niterói – “O Brasil perdeu o maior gênio que o país produziu em 512 anos. O destino nos beneficiou nos tornando contemporâneos de Oscar Niemeyer. Niterói é uma cidade que deve muito a ele, que a adotou e fez dela a sede de seu legado.”
 
Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio – “Um homem de convicções claras que serviu ao país com os dons que tinha. Colocou seu gênio criativo a serviço do belo. Um exemplo de respeito pelo pluralismo. Rezarei para que encontre a fonte da beleza que o ilumine.”
 
Chico Buarque – “Oscar Niemeyer teve uma vida bonita. Foi um dos maiores artistas do seu tempo e um homem maior que a sua arte.
 
Gustavo Penna, arquiteto – “A obra de Niemeyer é simples e pura, como pede o Brasil. Quem é arquiteto e viaja pelo mundo encontra admiradores de Niemeyer em qualquer lugar.”

Veja abaixo lista das principais obras de Niemeyer:

Obra do Berço
Ministério da Educação e Saúde
Conjunto Arquitetônico da Pampulha
Sede da Nações UNidas – ONU
Parque do Ibirapuera
Edifício Copan 
Casa das Canoas
Palácio da Alvorada
Palácio do Planalto
Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida
Casa do Cantador
Congresso Nacional
Sede do Partido Comunista Francês
Centro de Cultura Le Havre
Editora Mondadori
Memorial a Cabanagem
Terminal Rodoviário de Londrina
Memorial da América Latina
MUseu de Arte cOntemporânea de Niterói
Museu Oscar Niemeyer
Anexo da Serpentine Gallery
Auditório Ibirapuera 
Museu Nacional Honestino Guimarães 
Caminho Niemeyer
Estação Cabo Branco
Parque da Cidade Dom NIvaldo Monte
Museu Pelé
Cieps
Sambódromo do Rio de Janeiro
Memorial JK
Edifício Manchete

(*)Com O Globo, G1, Terra.